quarta-feira, 17 de outubro de 2007

...quem disser que a Candice Night canta mal e é feia; apanha!!

...Um cd indicado para os fãs do Blackmore’s Night, mas que irá agradar a todos aqueles que gostam de uma música diversificada, bem tocada e, que apesar de não ter tanto peso, prima pela qualidade dos arranjos.

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_Times_With_Good_Company__CD2_.rar



Blackmore's Night

Era uma vez um guitarrista ranzinza chamado Ritchie Blackmore. Ele e seus amiguinhos fundaram uma banda maneiríssima conhecida como Deep Purple. Eles gostavam de falar sobre carros velozes, cassinos pegando fogo e noites escuras. O problema é que Ritchie era um cara mal humorado, e até jogava água na cara de uns cameramen em shows. Um dia, Ritchie ficou tão bravo, mas tão bravo que brigou com todo mundo e deixou o grupinho, para tristeza dos fãs. O grupinho acabou indo para o vinagre logo depois.

Depois disso, Ritchie juntou-se com um anão que cantava muito e fundou o Rainbow. Parecia que tudo seria melhor e mais colorido, pois afinal de contas eles cantavam sobre reis de montanhas prateadas e magos malvados que gostam de olhar estrelas, além de desejar vida longa ao Rock ‘n’ Roll. Como coisas boas não costumam durar muito, um dia o anão se aborreceu e deixou o grupo. Foi continuar cantando sobre coisinhas encantadas no seu grupo novo, mas também acabou cantando sobre sabás negros e outras coisas menos fofinhas e menos típicas. Bom, esta não é a história do anão caveirinha-cover, então vou parar por aqui. Ritchie chamou outras pessoas para o lugar dele (do anão) mas, apesar de até conseguir algum sucesso, resolveu voltar para o seu pessoal antigo do Deep Purple porque ofereceram bastante dinheiro para eles caso voltassem a ser amigos. Ou pelo menos se conseguissem fingir isso.

Infelizmente, algumas coisas nunca mudam: nosso antipático amigo Ritchie continuou de cara feia para com os seus coleguinhas e a tal reunião não pôde durar muito tempo porque ninguém o agüentava. Ritchie deixou o Deep Purple novamente e, vendo que seus ex-amigos lançaram um bom disco sem ele, resolveu lançar um disco do Rainbow também. Foi um fracasso, e os tempos pareciam negros para ele.

Acontece que um dia Ritchie conheceu a Rainha das Fadas e, contrariando todas as histórias politicamente corretas, ao invés de se casar com ela, ele só começou a namorar. Ritchie e a Rainha das Fadas - doravante chamada de Candice Night
, ou só Candice (para facilitar a vida) - gostavam de tocar música renascentista para os amiguinhos no seu castelo. Ritchie toca bandolin e outros instrumentos mais esquisitos, e Candice canta e toca flauta. Ah, e eles têm uns outros coleguinhas ajudando com percussões, corinhos e etc. Os amigos gostavam tanto que disseram para eles lançarem discos. Ritchie e Candice gostaram da idéia, e aí surgiu o Blackmore's Night (o cara é possessivo, ainda por cima).

Não faço a menor idéia de como foram as vendas dos discos, mas provavelmente devem ter vendido alguma coisa, pois até o presente momento constam 9 albuns lançados entre singles e full plays. Bom, por enquanto, eles estão vivendo felizes. Se é para sempre, só Deus sabe.

Outra peculiaridade do Blackmore's Night é a enorme quantidade de músicas por álbum. Para ser sincero não gosto de discos com muitas músicas por vários motivos. Um deles é porque geralmente quando há muitas músicas, algumas (ou várias) estão lá só para encher lingüiça. Outro motivo é que acho cansativo ouvir um disco com muitas faixas, pois quando acaba a última, você nem se lembra mais da primeira.

O negócio da "banda" (nunca soube se o Blackmore's Night é banda ou não) é tocar música renascentista e medieval. Nos primeiros discos, nem guitarra rolava. Agora Ritchie está menos chato e já toca alguma coisa elétrica junto, o que torna os álbuns um pouco mais variados









Vídeo - > Blackmore's Night - All For One (Live)

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Violinos, Cellos & Stradivarius...


O Cello, é um instrumento da família dos instrumentos de corda. Possui quatro cordas e se diferencia dos outros instrumentos pelo seu tamanho grande, fazendo com que tenha que se apoiar ao chão por meio do
espigão, uma haste de metal em sua extremidade.

A primeira citação sobre o violoncelo foi numa coleção de sonatas italianas anônimas, datada de 1665. Seu antecedente é a viola da gamba, ou viola-de-perna. Tornou-se popular como instrumento solista nos séculos XVII e XVIII.

A característica padrão do instrumento foi estabelecida por Stradivarius, em 1680. A partir dos Concertos Espirituais de Boccherini, o violoncelo passou a ser tratado como solista, e não somente como um instrumento para compor o naipe de cordas.

Para tocá-lo, o músico deve estar sentado, com o instrumento entre os joelhos. As quatro cordas são afinadas em Dó, Sol, Ré e Lá, como na viola, mas uma oitava mais grave. As composições para violoncelo são escritas fundamentalmente na clave de Fá na quarta linha. O alcance do violoncelo é de duas oitavas abaixo do dó médio(Dó1).

Sua sonoridade é considerada bastante expressiva, sendo conhecido como o "rei" dos instrumentos de cordas. Entretanto, seu uso está mais presente na música erudita. As grandes orquestras utilizam entre oito e doze instrumentistas de violoncelo no naipe.


Antonio Giacomo Ŝtradivari

Latinizado como Antonius Stradivarius; Antognio Giacomo Stradívarius(Cremona, 1648 - 18 de dezembro de 1737) foi um célebre luthier italiano. Ainda muito jovem foi discípulo de Nicolo Amati, com quem aprendeu e desenvolveu a arte inconfundível de fazer instrumentos de corda, como violinos, violas e violoncelos, contra-baixos, violões e harpas.

O período áureo de sua carreira foi entre 1700 e 1722, quando lançou a forma G e construiu seus violinos mais famosos, como o "Bets", em 1705, o "Cremonese", em 1715, o "Messiah" e o "Medici", ambos em 1716. Muitas das técnicas utilizadas por ele ainda não foram completamente desvendadas. Sabe-se que as madeiras usadas eram o acero e o abeto, este para o tampo harmónico e partes internas e aquele para o fundo, faixa e braço. A madeira era tratada com diversos tipos de minerais, borato de potássio, silicato de sódio e de silicato de potássio, verniz de bianca (um composto de goma arábica, mel e clara de ovo), além de Stradivari selecionar madeiras mais antigas e ressecadas.

A Sonoridade - Teorias

Há diversas teorias sobre a sonoridade de seus violinos. Uma delas diz que o segredo da sonoridade de seus instrumentos estava no verniz utilizado por ele, que acreditavam conter cinzas vulcanicas, o que tornava o instrumento mais duro e assim melhorando a sonoridade. Essa teoria ainda não foi comprovada por pesquisas. Outra lenda para o fato de seus violinos terem uma sonoridade superior, era porque ele selecionava madeiras de navios naufragados há anos. Com isso, a madeira ficava muitos anos em agua salgada, o que fazia com que a madeira fosse mais dura. Tambem não há nenhuma prova científica sobre esse fato.

Um outro fato (talvez o mais aceitável entre os cientistas), é que durante o período em que viveu o luthier, a Terra, e especialmente a Europa, estava passando por um período onde foram registradas temperaturas muito baixas na Europa. Por isso, as madeiras das árvores ficaram mais duras durante esse período.

Os Instrumentos


Os instrumentos Stradivarius são conhecidos como os mais famosos e caros instrumentos de corda do mundo. Mais de mil foram criados, mas apenas 650 existem, e apenas 6 deles com a resina que lhe deram a fama. O mais famoso, modelo de incontestáveis cópias, chamado de "O Messias" de 1716, possuidor do som mais puro do mundo, com mais de 100 sons inaudíveis ao ouvido humano, está no museu Ashmolean Museum de Oxford. Esse violino nunca foi tocado. Percebe-se isso claramente observando-se o seu verniz que está como se tivesse saído do atelier de Stradivari recentemente, em comparação com os instrumentos de mesma época. O messias não possui valor comercial e, historiadores dizem que seria como colocar preço nas pirâmides do Egito ou na muralha da China.

Instrumento único, cuja fórmula de pureza dizem lendas, terem sido guardadas por uma humilde família camponesa na ilha de Monte Cristo, a família Tuscano, no Noroeste da Itália, que hoje relevam o conhecimento desta fórmula. Químicos descrevem a resina como um âmbar de antigas sequóias gigantes que habitaram a Europa da Idade Média. Físicos nucleares dizem que o tempo e as condições favoreceram a ressonância límpida das cordas, mas nenhum valor teórico ou prático para isso foi com certeza comprovada.

domingo, 14 de outubro de 2007

"Cântico negro"

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

- José Régio

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Medo & Ternura...


Não posso me esquecer...

E como eu poderia
Me esquecer das nossas poesias?
Não... eu não me esqueci das nossas poesias.

E nem do tudo o que eu odeio fazer mas não desconsigo.


Entende? Como agora, conspurcando a alva candideza
Que eu exigiria para qualquer poesia nossa, agora é tarde
Já me revelei em susto e espinhos, embora a
Minha poesia seja a flor do seu sorriso triste...

II

Me evado ao meu eternamente estrelado
Jardim solitário e timidamente silencioso
E me permito perceber o que é você no Universo
Onde você está inserida e o que, no Universo, é você.

As músicas são umas melhores do que as outras
Todas boas como perdas de tempo ou como contar
Quantas coisas das pétalas às estrelas me lembram você
... você, que faz eu me esquecer de tudo...
Você e as suas grandezas relevantes.

III

Que, ser perfeita não é ser perfeita, é ser assim
Flor de sorrisos tristes e de todas as
Curiosidades despetaladas pelos seus afetuosos
Mistérios cativantes
Revelados rápido como o vôo das libélulas
Como o quente solar, a solidão do bem
As virtudes dos pecados
Surpreendendo absurdamente com uma
Propiciosa cor que nunca termina de acabar, de inibir
De provocar, e de provocar um sorriso outro de caotizar...

IV

E quantas reticências você é para eu lhe escrever
Descrever e poetizar nesta nossa poesia
Inspirada pelos envios da sua nitente vida
Seguida pelos meus poéticos passos ofuscados e tímidos...

V

E eu quase acredito que você é assim mesmo
Perfeita e simples e sempre cândida
E cintilante e corajosa e medrosa...

Na nossa poesia você é um casto sorriso
De tristeza elementar e calma
É uma presença perfeita de rósea ternura
E adocicado, sísmico e ligeiro medo reticente, pragmático, quântico
Alcalóidico, explícito, tectônico, epidérmico e queratínico.

Sem Título I


Em mim
As cordas de um cello
Ao encontro

Olhos repletos de lágrimas

O orvalho lacrimeja sobre o chão
Em nós desmembrados de sono

Em mim um sonho profundo
A relva
O rio
Arcando-se sobre montanha abaixo
Num deslize quase nulo

O chão de suas margens
Ingeridos no mar
Leito verde
Berço da Lua

Entrecortando meu sangue
A lágrima refletida no humano salga-me

Num sentimento que fará de mim
Sentado no mundo

Pedaço

Lata
Ouro

Lamina de guilhotina...

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Pianísmos... Tori Amos


Tori Amos é uma pianista imprevisível que transita com facilidade por diversos gêneros musicais sem; no entanto, perder a identidade. Seu estilo não é fácil de ser definido, mas é possível compará-la a cantoras como Fiona Apple, PJ Harvey, Suzanne Vega e Alanis Morrissete. Ao longo de sua carreira, essa cantora/pianista conquistou legiões de fãs fiéis em todo o mundo, surpreendendo-os a cada trabalho, nunca se deixando limitar por rótulos como “diva pop-rock” ou “underground”, “alternativo” e “indie”. Na verdade, durante toda a sua trajetória, Tori Amos demonstrou grande aptidão em brincar de fantoche com todos esses rótulos.

Myra Ellen Amos (nome de batismo) nasceu nos Estado Unidos, na cidade de Newton, Carolina do Norte, em 22 de agosto de 1963. Filha de uma descendente de índios Cherokees com um pastor metodista, a menina acabou tendo contato com diversidade cultural desde cedo.

Aos dois anos de idade, Myra começou a martelar nas teclas do piano e aos quatro anos tocava piano e cantava no coro da igreja. Um ano depois, ganhou uma bolsa de estudos para o Peabody Conservatory, que faz parte da Universidade John Hopkins de Baltimore. Myra estudou piano erudito na referida instituição até os onze anos, quando foi expulsa, porque insistia em tocar de ouvido e improvisar. Essa atitude não é nem um pouco comum no estudo de piano erudito, e pode causar incômodo em professores mais conservadores. Aos treze anos, ela tentou ingressar novamente no Peabody, mas não foi aceita. Apesar disso, Myra não desanimou e continuou estudando durante o dia e se apresentando, acompanhada de seu pai, em bares gays e salões de hotéis nos arredores da capital, Washington. Nessa época, ela já tinha canções escritas de próprio punho. Em 1980, sob o nome de Ellen Amos, foi lançado (graças à ajuda de seu pai) o EP “Baltimore”, que trazia a faixa título e, no lado B, uma canção chamada “Walking With You”. Este EP é raro e, pelo que se sabe, só foram lançadas, na época, pouquíssimas cópias em vinil, e não está sequer creditado na discografia oficial da cantora.

Quatro anos depois, aos 21 anos, Myra se mudou para Los Angeles, com o objetivo dar continuidade à sua carreira artística fazendo apresentações pela cidade. Em uma dessas ocasiões, um amigo de descendência oriental, depois de assisti-la, disse que ela parecia uma "tori". Myra achou a declaração interessante e resolveu adotar a palavra como pseudônimo artístico e, assim, passou a se apresentar como “Tori Amos”. Mais tarde ela descobriu que esta é a palavra que designa "galinha" em japonês.

No final dos anos oitenta, Tori formou uma banda chamada “Y Kant Tori Read” (uma referência à experiência de Tori no Peabody Conservatory, época em que ela tocava as músicas de ouvido, recusando-se a ler partituras). Um dos membros dessa banda era Matt Sorum que, posteriormente, viria a integrar o Guns n' Roses.

Em 1989 a “YKTR” lançou um disco homônimo, que foi um fracasso de vendas. O som da “YKTR” tinha como referência bandas de hard rock dos anos 80 como Heart e Pat Benatar. Tal sonoridade era bem diferente daquela que Tori Amos viria a adotar. A única faixa que chegava a ter alguma semelhança com o futuro estilo da cantora era a canção “Etienne Trilogy”.

O eminente fracasso da banda começou a atormentar Tori. Foi quando aconteceu algo que mudaria o rumo de sua vida e sua música para sempre. No final de um concerto, Tori aceitou dar carona a um suposto fã. Fatalmente, tal homem a estuprou. Seguiram-se, a esse fato, meses de profunda depressão nos quais Tori se manteve reclusa em seu apartamento. Desse mergulho na solidão e nos sentimentos surgidos, ela compôs várias canções bem distantes do estilo “YKTR”. Depois de algum tempo, Tori resolveu mostrar esse material para os executivos da Atlantic Records que, depois de ouvi-lo, deram a ela uma segunda chance. Assim, seguindo carreira solo, ela lançou, em 1991, o álbum “Little Earthquakes” (“Pequenos Terremotos”), um disco melancólico, passional e confessional que se tornou sucesso de crítica e público. “Little Earthquakes” impressionou por tratar de temas como estupro e baixa auto-estima abertamente. O diferencial, que caracterizaria seu estilo, era o fato de que o piano e a voz soavam em primeiro plano, deixando os demais instrumentos de fundo (ou em total ausência), inclusive as guitarras (que aparecem no disco em raros e discretos momentos), algo nada comum na época em que o Nirvana estourava no mundo todo. Esse disco trazia influências que iam de Robert Plant a Kate Bush, além de algumas pitadas de música impressionista, reminiscência da formação erudita. O principal single desse disco era a canção “Crucify”. A forma escancarada de abordar assuntos delicados e o caráter confessional, quase autobiográfico, das canções, viria a ser seguido, posteriormente, por cantoras como Alanis Morissette.

Depois desse ótimo disco de estréia, em 1994 foi lançado o álbum “Under The Pink”. Neste disco, Tori se mostrou ainda mais sarcástica ao tratar de temas como religião, sexo e relações humanas, especialmente relações entre mulheres. "Cornflake Girl" é o principal single do disco. Essa canção, com forte influência do rock blues e dos spirituals, consolidou Tori Amos como compositora e interprete. O disco contou com a participação de Trent Reznor (Nine Ich Nails) que acompanhou Tori cantando o refrão de “Past the Mission”. Na canção “Bells for Her” Tori utiliza um piano preparado com som similar ao de sinos de igreja, seguindo uma tendência da música erudita contemporânea, que tem o compositor John Cage como principal representante. Musicalmente, “Under the Pink” pode ser considerado um aprimoramento da sonoridade de “Little Earthquakes”, definindo melhor uma identidade musical.

Dois anos depois, Tori Amos lança seu terceiro trabalho “Boys for Pele”, totalmente produzido por ela própria. Na verdade, a partir desse momento, Tori viria a produzir sozinha todos os seus discos. O título é uma alusão à deusa havaiana “Pele” para a qual se oferecem garotos como sacrifício. Na capa, Tori aparece sentada em uma cadeira de balanço, dentro de uma cabana, empunhando um rifle. Supostamente ela estaria vigiando os meninos que seriam oferecidos em sacrifício para a deusa “Pele”. A faixa “Caught a Light Sneeze” ganhou um considerável espaço em uma grande quantidade de rádios. Apesar disso, o disco não apresentava o tom pop desse primeiro single. “Boys for Pele” possuía uma tendência mais experimental que seus antecessores. Tori havia abandonado as estruturas que habitualmente apareciam em suas canções. Apesar do piano continuar em primeiro plano, o cravo (instrumento barroco que precedeu o piano) também aparecia em diversos momentos (“Blood Roses”, “Professional Widow”, “Talula” e a própria “Caught a Light Sneeze”). Em alguns momentos esse cravo era tocado de maneira delicada, em outros (“Professional Widow”) era tocado de forma martelada, agressiva, quase psicótica, parecendo um hard rock com baixo, bateria e cravo, além de alguns ruídos não identificados. Segundo boatos, a canção “Professional Widow” (“Viúva Profissional”) seria uma “navalhada” dedicada a Courtney Love. Se for verdade, o título da canção, sem dúvida, é bastante sugestivo, além de versos como “Me dê paz, me dê amor e um pinto duro”. Enquanto os outros dois discos eram carregados de melancolia, no que diz respeito ao som, “Boys for Pele” soava mais agressivo. A diferença estrutural das canções resultou numa mudança que não era óbvia, apesar de, paradoxalmente, também não ser sutil, o que levou os críticos a acusá-la de estar sendo repetitiva.


Mas as mudanças encontradas em “Boys for Pele” eram só o início. “From the choirgirl hotel”, disco lançado em 1998, representou uma transformação drástica no universo musical da cantora. Um ano antes, no final da turnê de “Boys for Pele”, Tori sofreu um aborto espontâneo. Como havia acontecido em “Little Earthquakes”, esse drama pessoal se transformou no tema do disco que pode ser considerado o mais soturno da discografia de Tori Amos. Pela primeira vez, as composições foram concebidas para serem interpretadas por uma banda, ao contrário dos discos anteriores nos quais o piano sobressaia a tudo. “From the choirgirl hotel” exacerbou o experimentalismo de “Boys for Pele”, acrescentando novos elementos e novas estruturas à música de Tori Amos, que também começou a usar mais instrumentos eletrônicos, como teclados e sintetizadores. A percussão e as guitarras ganharam mais espaço. O flerte com a música eletrônica e com o trip-hop também aparecem em alguns momentos (“Cruel”). A aura dark predomina durante todo o disco, que trazia, também, melodias muito mais trabalhadas e introspectivas do que as dos discos anteriores (como em “Liquid Diamonds” e “Pandora’s Aquarium”), além de um blues surrealista (“She’s your Cocaine”). Entretanto, para que os fãs não se sentissem “órfãos”, ainda haviam músicas que se assemelhavam às composições antigas (“Jackie’s Strength” e “Northem Lad”). Nesse mesmo ano, Tori Amos se casou com o seu engenheiro de som, Mark Hawley, com quem mantinha uma relação há algum tempo.


Em 1999, Tori promoveu “From the choirgirl hotel” em uma turnê que dava suporte às apresentações de Alanis Morissette. Nesse ano ela chegou a cogitar a possibilidade do lançamento de um disco de raridades. Mas, depois de um período de grande fertilidade criativa, Tori acabou escrevendo várias canções. O resultado foi o álbum “To Venus And Back” que era composto por dois CDs. Um deles trazia as novas composições de Tori. O segundo compilava algumas canções tocadas ao vivo, extraídas da recente turnê que Tori havia realizado. As gravações inéditas apresentadas nesse álbum davam continuidade ao estilo que havia sido apresentado em “From the choirgirl hotel”, porém de forma mais suave. Piano, teclados, percussão, baixo, guitarra e programações eletrônicas tiveram uma produção bastante sóbria, resultando numa sonoridade coesa e límpida, ao invés da “sujeira” – no bom sentido – do disco anterior. A banda que gravou “To Venus And Back” era a mesma do disco anterior. Tori pretendia manter essa banda em definitivo. O disco ao vivo apresentava mais canções dos primeiros discos de Tori, sendo que apenas uma, “Cruel”, pertencia à nova fase.

No ano 2000, nasceu a primeira filha de Tori, Natashya. E em 2001, foi lançado o álbum “Strange Little Girls”, um disco conceitual de regravações. Neste trabalho, Tori reinterpretou canções que haviam sido originalmente compostas e interpretadas por homens. A idéia era dar uma perspectiva feminina a tais canções: “Eu estava cuidando de Tash (a filha) na Flórida, e eu estava ouvindo muitos artistas homens nas rádios alternativas. E alguns deles realmente odiavam mulheres. Eu pensei na minha filha e o que esses homens estavam pensando sobre as mulheres. Eu queria construir algum tipo de ponte, e eu percebi que essa era a única maneira de entrar na cabeça desses homens...” (em entrevista à Blender Magazine). De fato, Tori regravou músicas como “’97 Bonnie & Clyde” do Eminem e “Raining Blood” do Slayer. Músicas que falam abertamente sobre violências contra mulheres. Especificamente em “’97 Bonnie & Clyde”, a letra narra a triste história de uma dona de casa que é espancada até a morte pelo marido e jogada no oceano: "Eu estava interessada na esposa, que não tinha nome nem face. Todo mundo estava dançando com essa canção, e ninguém parecia importar-se com ela" (em entrevista à Blender Magazine). De fato, é difícil de acreditar que alguém dançaria ao ouvir as versões de Tori Amos para “’97 Bonnie & Clyde” e “Raining Blood”. Esta virou uma espécie de cantochão, enquanto aquela se tornou uma trilha de filme de terror, com a letra recitada/sussurrada. E isso mostra que tipo de regravação Tori Amos fez em “Strange Little Girls”. Cada canção foi recriada, reinventada, quase recomposta. “Happines is a Warm Gun” (Beatles) ganhou uma versão de quase dez minutos. “Heart of Gold” de Neil Young se transformou em um rock no estilo Stooges (“um mantra regido por uma linha psicótica de guitarra” segundo o apresentador do programa Auto-Falante, da Rede Minas). Além desses artistas, Tori regravou Velvet Underground, Depeche Mode, Tom Waits. “Strange Little Girls” foi um marco na carreira de Tori Amos, a partir do qual todos os discos seguiriam um conceito. Além disso, esse foi o último disco da cantora lançado pela Atlantic Records.


Em 2002 foi lançado, pela Epic, o disco “Scarlet's Walk” (“O Passeio de Scarlet”). Com este disco, Tori surpreendeu mais uma vez os fãs, exatamente por não seguir com o experimentalismo dos discos anteriores. Tori viria a afirmar que detestava ser a “next big thing” alternativa tanto quanto detestaria ser a “next big thing” pop. Sendo assim, “Scarlet's Walk” traz um conjunto de canções pop/rock muito bem arranjadas. Mesmo sendo um trabalho mais acessível para o grande público, as canções ainda são pouco convencionais, nem sempre atendendo à expectativa do ouvinte. Apesar de haver alguns refrões pegajosos, predominam melodias elaboradas e introspectivas, às vezes levadas a uma repetição hipnótica, e belíssimos contrapontos entre piano, violão, guitarra e os vocais dobrados de Tori. A inspiração parcial para “Scarlet's Walk” foram os atentados contra as torres gêmeas em 11 de Setembro. Mas, diferente de muitos discos que foram feitos sobre este tema, “Scarlet's Walk” não era um hino à glória e à soberania dos E.U.A. Na verdade, os atentados foram apenas o ponto de partida, que levaram Tori a criar uma personagem, Scarlet, que representava os E.U.A. Tal personagem estaria fazendo uma viagem pelo país, ou seja, dentro dela mesma (metaforicamente). As músicas construíam a narrativa dessa viagem que trazia questionamentos acerca da identidade do povo dos E.U.A., dando pedradas na crueldade e nas injustiças cometidas contra os povos indígenas norte americanos “...ele estava procurando um pouco de sangue indígena e achou um pouquinho em você e um pouquinho em mim. Nós podemos estar nessa estrada, mas somos apenas impostores nesse país...” (trecho da canção “A Sorta Fairytale”).

No fim do ano de 2003, a Atlantic Records lançou a coletânea “Tales of a Librarian: a Tori Amos collection”, disco que celebrava dez anos de carreira da cantora. Apesar de ser uma coletânea, esse disco também se baseava em um conceito. No encarte de “Tales of a Librarian” (“Contos de uma bibliotecária”), as canções eram separadas em categorias, organizadas como se fossem livros em uma biblioteca, acompanhadas por uma referência. “Tales of a Librarian” reunia as canções de “Little Earthquakes” a “To Venus and Back”, dando maior ênfase à primeira fase da carreira. Além disso, o disco trazia dois b-sides (“Mary” e “Sweet Dreams”) e duas canções inéditas (“Angels” e “Snow Cherries From France”).

Em 2004 foi lançado o DVD “Welcome to Sunny Florida” que documentava a última apresentação da turnê do disco “Scarlet's Walk”, realizado na Flórida. Apesar de ser uma excelente apresentação (na qual Tori mostra seu virtuosismo no piano, piano elétrico e no Fender Rhodes), o repertório de “Welcome to Sunny Florida” é muito semelhante ao do disco ao vivo de “To Venus and Back”. Algumas canções, como o hit “Crucify”, ganharam versões estendidas e com arranjos mais sofisticados que nas gravações originais. O DVD também traz algumas entrevistas com a cantora e com sua mãe, contando, também, com aparições do pai e da filha de Tori Amos. “Welcome to Sunny Florida” também contava com um cd bônus chamado “Scarlet’s Hidden Treasures” com seis faixas de canções até então inéditas. “Scarlet’s Hidden Treasures” é morno - pode-se dizer que é o disco mais fraco de Tori Amos -, mas, apesar disso, tem algumas excelentes canções como “Bug a Martini” (uma bossa com sonoridade “The Doors”) e o rock n’ roll rasgado de “Tombigbee”.

“The Beekeeper” (O Apicultor) é o disco mais recente de Tori Amos, lançado em 2005. Nele, o estilo de “Scarlet’s Walk” amadurece e ganha (em alguns momentos) um clima mais setentista. Apesar de ser mais pop que seu predecessor, “The Beekeeper” é mais coeso em suas formas musicais, tornando-se, assim, um trabalho muito mais sóbrio. Para criar o conceito
deste disco, Tori recorreu a pesquisas bibliográficas que abrangeram os evangelhos gnósticos a livros sobre apicultura. O álbum também funciona como um contraponto ao “Scarlet’s Walk” ao abordar o universo e a doutrina cristã, que segundo ela própria estavam sendo abertamente deturpados. Disso surgiu uma história na qual uma personagem passa por seis jardins, que representam diferenciadas sensações (como paixão e traição) que se podem viver em um relacionamento. É difícil destacar as melhores canções desse disco, mas vale indicar “The Power of Orange Knickers” (que conta com a participação de Damien Rice), “Sleeps with Butterflies” e “Cars and Guitars”.


Tori Amos Interview - Piano Shopping


Tori Amos - Little Earthquakes - 1992