quarta-feira, 30 de abril de 2008

...e que queime o mundo!!!

Bom... Como explicar este post?

É o seguinte, existe um amigo o qual considero muito de minhas épocas de colégio, na verdade é o único que tive vergonha na cara de manter contato após aqueles anos esquisitos... Na época eramos questionadores por natureza... E hoje, 11 ou 12 anos depois; ao menos eu, me tornei ainda mais questionador e de fato, um pouco amargo... Ele, após passar por 4 universidades para encontrar seu caminho, acho que agora vai... rsrs Eu, passei por apenas 1 e já estou de saco cheio, injuriado ao extremo, pensando sériamente em montar uma guerrilha urbana só por diversão... rs

Mas já que ninguem lê este blog mesmo, segue abaixo nossa última troca de scraps, ocorrido entre os dias 23 e 25 de abril... Achei interessante... Bom, percepções de mundo, sabem como é...


Comentário: Raiva Incontida I – O desabafo. (Vindo do meu camarada da Psico-USP)

"(...)não esquenta não cara. depois tomaremos as brejas.
então meu velho. desde ontem de manhã tô na raiva do caralho!!!

tipo, sangue no zóio mêmo!
tá ligado quando tu não sabe de onde vem...então, é por aí...tava foda, m
as agora deu uma

melhorada...eu sei de onde veio, para te falar a verdade, é que é meio foda de eu lidar com esta treta em mim...aí, fico puto!!
e aí, co
mo tu tá cara, de boa?

abração ié!"

Resposta: Raiva Incontida II – A Revolta! (Vindo de mim, Ex- R.I. inconformado e revoltadíssimo)

"é, eu sei bem como é isso... essas crises de raiva, de certo modo foi o que me levaram de volta à fluoxetina... crises e explosões de raiva; te contei que estes tempos atrás, estava com meu pai, dirigindo, e um cara estava parado em fila dupla em Limeira, atravancando o trânsito? velho, me subiu o sangue de tal forma que o primeiro impulso que tive foi descer do carro para descer o kct no cidadão... sorte que meu pai tava no carro e me disse "caaaalma que a coisa não é por aí"... pq senão... sei lá... o que não me impediu de encostar o carro ao lado do dele e xingar até a 3ª geração anterior a dele, que permitiu que tal energúmeno nascesse.

ah cara, eu tou naquelas ainda... tou naquela crise existencial ferrada; tenho comentado isso contigo, por um lado têem me aparecido trabalhos para fazer no meu ramo, mas tenho declinado todos... porque não é o que quero fazer, você sabe... lembra as épocas de colégio? o que gostávamos mesmo? pô, sempre curti música naquela época... e sempre estive envolvido no meio, você lembra... aí, me pergunto como raios fui parar em comércio internacional...? um questionamento leva a outro, outro puxa mais um, e por aí vai... aí, minha conclusão final é que esse mundo é uma bosta mesmo e que todas as pessoas são cegas... algumas, por vontade própria e outras, porque vivem uma ilusão coletiva forte demais para ser rompida...

aí, fico com raiva dos "cegos por vontade própria", porque os considero omissos; contribuem com um sistema falho, corroído, e que esta se auto-consumindo... mas antes de "se consumir", o que não percebem é que o sistema todo irá consumir primeiramente todas as pessoas... é um lance meio "lube da luta" ou "Tyler Durden"... mas pô, sei que isso também é uma utopia, ou melhor; uma "distopia"...

os cegos vivem uma ilusão coletiva, os sóbrios são pessimistas, e aqueles sóbrios que ainda tem uma capacidade crítica, sofrem por estarem inseridos nesta realidade estúpida e aparentemente tão sem sentido... aliás, não tão sem sentido assim... como disse o Sr. Carlos Carbonel na tal entrevista que te enviei outro dia... "vejo um motivo muito grande para tudo isso... que é a morte... a morte de um "sistema" de coisas"... tah, legal... acho sábias estas palavras, isso vai diretamente de encontro com o tal "sistema que esta se auto consumindo e consome à todos primeiro" que mencionei alí em cima... velho... me perdôe o comentário aparentemente fora de contexto... mas o duro é pensar em tudo isso, e ter que aguentar comentários do tipo: "você não acha que você esta sendo negativista demais?" ou então, "acho que você deveria ler o livro ""O Segredo"" e ""A lei da atração" (!!!!)

ah meu, vai tomar no cú; aliás, as pessoas que dizem isso, se não quiserem ir tomar no cú por vontade própria; talvez se eu fosse mais forte eu poderia tentar fazer um origami com o corpo delas e enfiar a cara delas bem no meio de suas próprias bundas... velho!!!! que bosta de literatura é éssa???? auto-ajuda pseudo picaretagem a lá Paulo Coelho & cia agora??? meu!!!! porra!!!!

ahhh... sei lá, sei lá; um grande sei lá para tudo...

outro dia estava dando umas voltas pela livraria cultura lá no Conjunto Nacional, na Paulista... eis o livro que vejo na prateleira, como um dos mais vendidos... "Os cinquenta melhores livros de auto ajuda - uma sinopse" (????!!!!!) puta que pariu meu!!! ...as vezes penso que talvez a melhor auto-ajuda que eu poderia ter no momento seria pegar uma AK-47, e sair correndo pela Av. Paulista para ver quantos eu levo comigo, antes de ser abatido... sei lá... porque juro que, se eu sentasse na frente de algum pseudo-psicólogo agora e ouvisse algo do tipo: "ah, mas vc não acha que esta dramatizando um pouco as coisas"; seriam grandes as chances de chamar o fdp de picareta-ladrão (pelo $$$ da consulta) e iria dar uma surra no cidadão... (hehehe nada pessoal quanto à psicologia, VC sabe bem como adoro muito psico.) cara... gostei deste scrap... acho que hey de uppá-lo tabm no meu blog... blz? ...e fodam se o passado, foda-se todas as ex- namoradas, foda-se todos os valentões do colégio... fodam-se todas as Márcias e Letícias que existem por aí... foda-se a merda da igreja quadrangular, foda-se todas as câmaras dos vereadores desta bosta de país... foda-se os cérebros humanos falhos por natureza... foda-se a bosta do apêndice humano que não serve para porra nenhuma a não ser inflamar e ter que ser arrancado em uma cirurgia... fodam-se meus vizinhos... fodam-se os amigos que têm limites para o que é a amizade... foda-se o filho da puta que liga no meu celular as 3:30 da madruga e diz que foi engano... fodam-se todos os chefes, diretores, gerentes e supervisores deste mundo... enfim, foda-se este mundo; que o ser humano seja extinto pois é só para isso que ele deve servir afinal... ...arrrráááámmm... bom, me desculpe o desabafo... mas vc sabe como sou, as vezes tenho essas crises de raiva incontida... rsrsrs forte abraço meu amigo...

Andreas

Óia só que vídeo bonitinho... Uma fofura!

Comentário final: ...e tem gente que acha aquela merda de série que passava no programa "Fantástico" da rede Globo com "contos" de Nelson Rodrigues chamado "A vida como ela é" interessante...? Quer saber? Foda-se a rede Globo também. foda-se o Fantástico e a bosta de depressão que me causa por me lembrar que o dia seguinte é uma segunda feira. Ah é? Não gostou? Então foda-se você também!! Ponto...

agora, se me derem licença vou fumar um cigarro, tomar um café e me encostar em algum canto para planejar como destruir as bases da (des)civilização moderna...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

"O Cellista de Sarajevo"

As pessoas que me conhecem, sabem de minhas opiniões um tanto quanto radicais acerca alguns temas em se tratando de Brasil e da pouca vergonha que impera por aqui, quando o assunto envereda para questões ética e valores, por parte das pessoas em geral. Alguns já me mandaram tomar no cú por dizer que o que este país precisa na realidade é uma tragédia, sentir o peso de uma guerra de verdade. Reafirmo minha opinião de que isto com certeza ajudaria a vários “cérebros” mesquinhos, provincianos e que se julgam o ápice da perfeição humano-social; a entender que se todos nascem de forma igual, todos morrem da mesma forma; seja em um leito de hospital – entupido de anestésicos - ou seja em uma trincheira – desmembrados e sentindo o que é “estar vivo” através da dor.

Procurando não utilizar as já famosas frases feitas, mas é bem verdade o que dizem, é na guerra – bem disse o filósofo – que o melhor e o pior do ser humano vem a tona.

Aproveitando o gancho e deixando de lado um pouco a bile que anda impregnando minha alma nos últimos tempos, opto por “mudar de lado” e narrar um fato que passou quase despercebido durante a guerra na Bósnia-Herzegovina, e que mostra um pouco do potencial humano para o “bem” por alguns poucos seres iluminados que existem neste mundo.

"Crazy" - Seal; Imagens: Sarajevo under Siege

Durante a guerra na antiga Iugoslávia, em 6 de Abril de 1992 a cidade de Sarajevo foi cercada pelas forças Sérvias, no que veio a se tornar o maior cerco a uma cidade já acontecido na história das guerras modernas; uma guerrilha que perdurou até 1995, quando cessaram-se as hostilidades.

Após o início do conflito, um Violoncelista chamado Vedran Smailović, assim como outras centenas de milhares de pessoas; sobreviveram ao frio intenso, racionamento de água e comida bem como os constantes bombardeios à cidade e tiros de “Snipers” nas ruas da cidade sitiada.

Smailović era conhecido por suas brilhantes atuações na Opera de Sarajevo, na Orquestra Filarmônica de Sarajevo bem como no Teatro Nacional; mas sua fama “mundial” se projetou durante a guerra, quando, apesar do fogo cruzado e risco de ser atingido por atiradores de elite das forças Sérvias, ele diariamente ia às rosas de Sarajevo – cicatrizes no concreto causadas por explosões de morteiros que deixavam um padrão em forma de flores, e; caso as mesmas ceifavam a vida de alguém, eram preenchidas com resina e pintadas de rosa como uma homenagem – e tocava seu Cello.

Outro fato pelo qual ele era conhecido, era quanto à suas freqüentes idas aos cemitérios em Sarajevo para tocar durante os enterros; naquele momento, ocasiões de extremo perigo, pois as forças Sérvias tinham por hábito atacar os civis com atiradores de elite durante tais cerimônias – não devemos nos esquecer uma das principais motivações desta guerra, as diferenças religiosas existentes entre os envolvidos.

Mas, a história mais marcante relacionada ao Sr. Smailović, foi quando um morteiro atingiu um grupo de pessoas que estavam em uma fila para comprar pães, em um estabelecimento comercial em frente à sua casa. Neste episódio, 22 pessoas perderam suas vidas, algumas simplesmente tiveram seus corpos desintegrados pela explosão, o que deixou uma grande cratera no local. Entre os mortos e feridos, haviam vários senhores de idade, mulheres e crianças, muitos dos quais, amigos de Smailović. Naquele dia, como se para honrar as almas que se perderam, o Violoncelista decidiu tocar ao lado desta cratera no início, por 22 dias seguidos, todas as tardes em homenagem aos mortos. Após, ele continuou tocando por quantos dias, aquela guerra ainda causassem vítimas...

A estória real deste homem hoje mistura-se com lendas, muitas das quais não são possíveis de se verificar a veracidade; como a que diz que durante os bombardeios noturnos Sérvios à Sarajevo, Smailović ia com seu Cello as ruínas da antiga fonte central da cidade, e executava peças centenárias de Mozart, Bethoven e Bach. Gosto de pensar exatamente neste ponto sobre a diferença cultural existente entre nós, ocidentais do mundo novo; e os ocidentais do velho continente...

Particularmente, as pessoas aqui deste lado do hemisfério tendem a encarar as artes como manifestações de luxo e status, quase uma coisa frívola; salvo raras exceções. Mas, para os Europeus em geral, a imagem que fazem das artes é de que em determinado momento, elas nos fazem lembrar de nossa humanidade inata, mas por muitas vezes esquecida...

Smailović conseguiu escapar da cidade sitiada em fins de 1993, e seus atos inspiraram a imaginação de muitos ao redor do mundo. O compositor David Wilde compôs uma peça para Cello conhecida por “O Cellista de Sarajevo” em uma homenagem a ele, e que posteriormente foi gravada por YoYo Ma. Entre outros que tiveram inspiração nesta história, temos o produtor e co-compositor da banda Savatage, com seu formidável álbum “Dead Winter Dead”, principalmente nas músicas Christmas Eve/Sarajevo 12/24, bem como o cantor folk John McCutcheon, compondo a música “In the Streets of Sarajevo”

Hoje, passados quase 16 anos destes acontecimentos, é interessante percebermos sua coragem em realizar tais atos, bem em como ele decidiu protestar contra os absurdos que ocorreram nesta guerra. Sua resposta, foi talvez fora a mais sensata que já houve na história da humanidade em períodos de guerra... Responder à violência, com a harmonia da música. A única resposta razoável a uma guerra, é a harmonia...

Atualmente, Smailović vive na Irlanda do Norte, e participa de inúmeros projetos musicais eruditos, bem como a promoção de ONG’s voltadas à ajuda humanitária a regiões que sofrem com as agruras das guerras, sejam estas por quais motivos forem...



Imagem acima:

Link Clip: "Siege of Sarajevo Memorial" - sob a música "Christmas Eve/Sarajevo 12/24," - Savatage



Me irrita certos artistas oportunistas que visitam lugares em que ocorrem desastres humanos. Este é o caso do vídeo acima, cuja autoria, Sra. Joan Baez, não teve o mínimo descaramento em colocar uma música de sua autoria como trilha sonora. Mas o clip tem seu mérito, pois no final do mesmo, aparece Smailović em uma das únicas imagens suas existentes em filme, durante a guerra.