quinta-feira, 28 de agosto de 2008

...devaneios de uma mente embotada parte 527 e "The String Quartet Project"

Bom,

Ia eu escrever algo aqui sobre a recente estada de um primo meu e seu amigo aqui em casa – ambos na casa dos 16 e 17 anos – bem como a diferença de idade – leia-se “gás” para acompanhá-los nas noitadas – e também como foi a saga etílica em épocas de lei seca em uma cidade como Limeira. Lamentável, desisti. Escrever sobre os porres de meu primo? Que coisa mais sem graça, estavam aqui com a desculpa de praticar inglês, mas adivinhem qual era a real? Coisinha bem básica, adolescentes vindo parar em uma sociedade zuadamente liberal como a nossa, vindos de uma hiper controlada e correta, que é a Alemã.

Mas de qualquer forma, o curioso foi saber por parte de meu primo – 17 anos – a noção verbalizada de que jamais viria a morar por aqui por julgar que as coisas não funcionam. Interessantíssimo isso, algo a se pensar realmente...

Mudando de Assunto...

“The String Quartet Tribute”

"Mas" mudei de idéia, então escrevo um pouco aqui sobre um projeto encabeçado pela “Vitamin Records”, um selo Norte Americano fundado em 1999 como uma subsidiária da CMH Records.

A idéia deste selo é o lançamento de CD’s com releituras de várias bandas em versões em quarteto de cordas, sendo que atualmente eles tem algo em torno de 185 CD’s lançados, em minha opinião, em sua grande maioria apenas caça-níqueis disfarçados em releituras semi-eruditas de grupos contemporâneos. Péssimo.

“Mas”, a grande sacada deste projeto é saber que os lançamentos por eles feito, sob o nome de “The String Quartet Tribute”, na verdade, na verdade são vários quartetos diferentes, então alguns ainda ousam fazer algo diferente que não seja a execução musical “nota a nota” das bandas-objetivo. Estes sim, valem a pena pela curiosidade por uma nova reinterpretação musical.

Estes trabalhos no entanto; são difíceis de se encontrar. Bem difíceis. Basicamente pelo motivo que mencionei acima, a visível vocação para “caça níqueis” musical. Não questiono a validade de uma gravação em quarteto por exemplo de, trabalhos como Led Zeppelin, Pink Floyd ou até mesmo U2. Mas questiono a validade de gravações de conjuntos de rap Norte Americano, Hardcore e afins. E, principalmente tributos à bandas mainstream que lançaram apenas um único CD, visivelmente composto para vendagem apenas. Enfim, minhas críticas apenas...

De qualquer formo, aproveito aqui para lhes postar 2 albuns que achei interessantes em releituras em cordas... São estes;

The String Quartet – Tribute to Pink Floyd, “The Dark Side Of The Moon”

The String Quartet – Tribute to U2, “The Joshua Tree
























sábado, 23 de agosto de 2008

O Direito à Embriaguez - Todas as vezes...


...em que por algum motivo perco as estribeiras, tendo à entrar para campos filosóficos de boteco... Pois bem, estes dois textos abaixo, são fruto de uma pesquisinh
a básica à respeito de "Estados Alterados da Consciência", visto que meu cérebro virou pouco menos do que uma maçaroca de amendoins triturados de quinta para sexta feira.
Faz certo tempo que ando abstêmio em "n" substâncias ilícitas diferentes; mas sabe-se lá porque; insisto com a idéia inocente de que colocando eu, mais um pessoal que era do cursinho e outro que era da faculdade em um mesmo carro, iremos ficar todos discutindo a respeito de problemas da sociedade moderna e como resolvê-los? - que nada. Invariavelmente a coisa vai para o lado mais autodestrutivo possivel, seeeempre tendo o Blues bar como destino final.

Os adendos:

1 - Ficar perdido na estrada que vai para Holambra.
2 - Ficar perdido na minha própria cidade.
3 - Briga com o guarda da portaria que insiste em me barrar à noite quando chego para ir para minha própria casa (!!!)
4 - Descobrir que minha carteira estava dentro da minha calça, já no cesto d
e roupas sujas (Presumo que eu mesmo coloquei-a lá)
5 - Uma vaga lembrança de que tentei induzir um dos nossos cachorros na noite de quinta para sexta, em um coma por excesso de carinho. (Ele, adorou a idéia haha)
6- ... como ítem 6, entra - lógico - o esporro da minha mãe por estar as 7:00 da manhã zumbizando em casa, louco ao extremo, de cueca, assaltando um pote de biscoitos de maizena.

seguem os resultados da pesquisinha básica...

Filósofo defende o direito de ficar bêbado
“A embriaguez é um direito humano fundamental”, diz Javier Esteban
Víctor-M. Amela

Tenho 42 anos. Nasci e vivo em Madri. Licenciado em Filosofia e Direito, dirijo a revista universitária “Geração XXI”. Sou casado e tenho duas filhas, Alma (10) e Sol (8). Sou um excêntrico de centro. Sou sufi: caminho para onde caminha o amor. O poder combate a embriaguez.

A entrevista:

LV - O que é a embriaguez?
Esteban -
Uma expansão da consciência que descortina os véus que ocultam a realidade.

LV - Desde quando ela existe?
Esteban -
Desde sempre. Até os animais se drogam com substâncias naturais, com frutos fermentados… Formigas, cabras, pássaros, macacos… Todos se e
xtasiam e brincam!

LV - Então nós somos como os animais?
Esteban -
Não, eles agem por um determinismo insti
ntivo, mas nós temos liberdade! Liberdade para a embriaguez. Liberdade para experimentar com a nossa consciência.

LV - Liberdade para nos drogarmos?
Esteban - É o uso dessa liberdade que nos torna humanos! O direito à embriaguez, portanto, é um direito humano fundamental.

“Que ninguém venha me dizer quantos copos de vinho eu posso beber”, disse Aznar. Ele tem razão. Mas com certeza a droga favorita dele é o poder, como a de Zapatero…

LV - Nem Zapatero nem Rajoy nunca fumaram nem um baseado, conforme declararam.

Esteban - Por uma questão de geração, custa-me crer que Zapatero nunca tenha experimentado um baseado. É como se o pai dele nunca tivesse provado um copo de vinho!

LV - Quem é que coíbe o direito humano à embriaguez, em sua opinião?
Esteban -
A Igreja católica e o Estado (igreja laica), que querem fiscalizar a nossa consciência.

LV - Castigando os motoristas bêbados?
Esteban -
Não, eu não me oponho a sancionar as condutas que são perigosas para terceiros. Mas critico o fato de que estão boicotando o autocontrole que temos de nossa consciência.

LV - Desde quando isso acontece?
Esteban - Começou com a destruição do templo grego d
e Eleusis, no século 4 d.C.

LV - Agora você foi longe!
Esteban - Desde o ano de 1.500 a.C., no contexto dos mistérios eleusinos, acontecia um ritual de embriaguez que cada grego vivia uma vez na vida, e isso lhes abria as portas da consciência.

LV - Em que consistiam esses mistérios?
Esteban -
Eram rituais que aconteciam à noite. Em comunhão coletiva, eles ingeriam um enteógeno.

LV - O que é um enteógeno?
Esteban -
A palavra significa “deus existe dentro de mim”. É uma substância psicoativa capaz de induzir a uma experiência extática de unidade com o cosmos.
Uma vivência da divindade.

LV - Que substância era ingerida em Eleusis?
Esteban -
Uma sopa de cereal chamada “kikeon”, que continha cornelho de centeio, um fungo com uma substância psicoativa idêntica ao LSD, o enteógeno mais poderoso conhecido.

LV - O que acontecia então?
Esteban -
Cada um vivia a sua própria experiência de consciência expandida. Símbolos eram mostrados e cenas eram representadas para guiar o indivíduo ao autoconhecimento.

LV - Era uma embriaguez ritualizada?
Esteban - Sim, fazia parte do sistema, em benefício da livre consciência de cada indivíduo. Isso foi varrido, destruído. Hoje sentimos falta disso, e nossos jovens, ignorantes, acabam causando danos a si mesmos em suas irrefreáveis tentativas de embriaguez.

LV - Quem destruiu esse ritual?
Esteban -
Os bárbaros e os monges cristãos nestorianos, no século 4 d.C. A cultura ocidental ficou sem referência de embriaguez.

LV - Temos o vinho, o álcool…
Esteban -
Não são enteógenos, são muletas úteis para nossas vidas insatisfatórias, escravizadas pelo rendimento econômico. E, em vez de expandir a consciência, a deixam turva.

LV - Um pouco de álcool pode cair muito bem.
Esteban -
A verdade é que o veneno está na dose, como diziam os gregos.

LV - Que personagens ilustres sabiam disso?
Es
teban - Toda a obra de Platão é uma crônica de embriaguez! Aqueles filósofos, assim como os xamãs, chegavam ao êxtase, assim também como os druidas e depois as bruxas, ou até mesmo os místicos, ébrios sem substâncias, que tanto inquietaram a Igreja. O poder estabelecido sempre combateu essas pessoas!

LV - Por que motivo?
Esteban -
Não há nada mais dissolvente que o livre acesso à própria consciência! Por isso Nixon arremeteu contra os profetas do LSD (Hoffman, Junger, Michaux, Wason, Huxley, Kesey, Leary…), cujas experiências alimentaram o feminismo, a militância ecológica, o pacifismo, os direitos civis… Nixon declarou guerra à
consciência: quando começou a guerra contra a droga, começou a grande catástrofe.

LV - Que catástrofe?
Esteban -
Milhões de presos, dezenas de milhares de mortos, narcoditaduras, a terceira maior fonte de renda do mercado negro no mundo, camponeses com fome, multiplicação de politoxicomanias… A proibição da droga foi o maior erro do século 20!

LV - Você propõe eliminar a proibição?
Esteban -
Por acaso a proibição evitou que nossas crianças estejam se metendo com drogas aos 13 anos de idade? Não! Pelo contrário: a proibição presenteia as máfias com um poder imenso.

LV - Um político colombiano já me disse isso…
Esteban -
Muitos governantes já reconhecem o fracasso da praga proibicionista.

LV - Você faz a apologia das drogas?
Esteban - Das drogas não, mas da embriaguez. Qualquer pessoa maior de idade deveria poder consumir qualquer substância (com o limite único da liberdade de terceiros). E, veja só, Silicon Valley nasceu da embriaguez de pessoas como Bill Gates. Este sim admite que fumou alguns baseados!

LV - O que você diria a Zapatero?
Esteban -
Que o direito à embriaguez é um direito inerente à liberdade de consciência, e que a lei deveria protegê-lo.

Tradução: Eloise De Vylder


Texto II

"Narciso no Pais das Maravilhas"

“A maioria dos objetos são drogas: satisfazem um anseio parecido com o do toxicômano.

Esse é o subtítulo de um estudo publicado recentemente (2006) pela Routledge, “The Self Psychology of Addiction and its Treatment” (a psicologia-do-self da adicção e de seu tratamento). Os autores, Richard Ulman e Harry Paul, são psicanalistas (da psicologia do self, a escola de Heinz Kohut), terapeutas de toxicômanos e eles mesmos drogadictos em remissão.
O estudo, embora estritamente clínico, propõe uma visão da toxicomania que, ao meu ver, vale como interpretação geral da modernidade. Explico.
Na laboriosa tentativa de encontrar um lugar no mundo, cada um de nós se alimenta de duas fontes:

1) as aspirações, as normas e os brasões transmitidos por nossos ascendentes, coisas que podem nos dar a sensação de que temos uma missão na vida;
2) o amor, mais ou menos incondicional, que nos acolhe e agasalha nos primórdios de nossa existência permitindo, aliás, que ela vingue.
Em suma: legados paternos e cuidados maternos (é óbvio que qualquer um pode fazer função de pai ou de mãe).

Ora, na modernidade, bebemos sobretudo na segunda fonte. Por isso, somos todos narcisos, ou seja, mais preocupados em sermos gostados, amados e admirados pelos outros do que com deveres e princípios.
Problema: em geral, o modelo do amor graças ao qual seríamos “alguém” (que sempre significa “alguém muito especial”) é o momento em que, pendurados ao peito materno, ou melhor, com a mãe pendurada aos nossos lábios, estaríamos ao centro de um mundo controlado por nós: basta chamar, chorar etc. para que ela apareça e nos faça felizes.
Logicamente, com esse sonho narcisista encravado no nosso âmago, torna-se difícil lidar com separações, frustrações etc. E, infelizmente, o mundo é um pouco mais cruel do que a mãe-padrão e sempre muito mais cruel do que a mãe mítica e escrava que gostaríamos de ter tido.

Como aprendemos a encarar perdas, danos e fracassos?

Quem lia as tiras de Charlie Brown, de Charles Schultz, deve se lembrar do cobertor que Linus carregava sempre consigo: quando as coisas não iam bem, ele agarrava o cobertor e chupava o dedo; era seu jeito de reencontrar, momentaneamente, a felicidade perdida. O cobertor de Linus é um exemplo perfeito do que D. W. Winnicott, um grande psicanalista, chamou de “objetos transicionais”: são objetos inanimados, mas que representam um amor do qual não conseguimos ainda nos separar.
Eles funcionam como o lápis entre os dentes do fumante que quer parar de fumar: não substitui o cigarro, mas, na luta para deixar o vício, oferece conforto nas crises de abstinência. Ou como a mamadeira da noite quando o desmame acabou há tempos, mas ainda bate, digamos assim, uma “nostalgia amorosa”.

À força de brincar com cobertores e chupetas, a gente deveria aprender a:

1) dispensar cobertores e chupetas,
2) lidar com a precariedade da presença e do amor dos outros.

Mas não é tão simples assim, até porque, nessa tarefa, o mundo não nos ajuda. Narciso vive no país das maravilhas, diante de uma imensa vitrina de objetos que nos prometem o seguinte: ao alcançá-los, ganharemos o amor, a admiração e (por que não) a inveja de todos. E alcançá-los é fácil -basta comprar: chocolate, relógios, charutos ou pacotes de férias.

Quem precisa de amores incertos com pessoas de verdade ou de objetos “transicionais” que as representem? Os objetos do consumo são a melhor escolha; sobre eles temos um controle absoluto.

As drogas propriamente ditas oferecem algumas vantagens marginais: são baratas e, graças à crise de abstinência, garantem a ilusão de dominar perfeitamente a alternância de insatisfação e contentamento. Mas, na verdade, para Narciso no país das maravilhas, qualquer objeto de consumo serve.
Poderia ser o melhor dos mundos, se não fosse por dois detalhes.

1) Se hesito entre um carro e uma amizade ou um amor, é bem provável que minha experiência afetiva seja miserável;
2) se espero a felicidade dos objetos, desaprendo a agir e a desejar.

Agora, falando sério, por que se opor à liberação das drogas? Afinal, a maioria dos objetos em venda livre satisfaz, no fundo, um anseio parecido com o do toxicômano. ”

Por: Contardo Calligaris


quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Cello “The King”, por Andrea Amati, Cremona (1538)


O Cello como conhecemos hoje, teve sua forma inicial cristalizada na oficina do
Luthier Andrea Amati na região de Cremona, na Itália; entre os anos de 1505 e 1577.

Em 1538, uma data aproximada, foi construido o instrumento conhecido como “The King” (O Rei) originalmente com 3 cordas, um dos primeiros instrumentos desta série e um dos únicos a sobreviver até os dias de hoje.

Em 1560, ele foi um entre os 38 instrumentos construídos por Andrea Amati a serem pintados e personalizados pelo mesmo, para servir na corte Francesa do Rei Charles IX em 1574 (Sua mãe era a Catharina de Médici, uma notória representante da família italiana que forjou o destino da cidade de Florença, e após 1569, da região de Toscana. Sua família esteve envolvida historicamente envolvida na monarquia, entre início de século XV até aproximadamente 1737.)

Esta coleção personalizada foi utilizada até o ano de 1789, quando foi dispersada durante a Revolução Francesa, sendo que dos 38 originais, apenas alguns sobreviveram até os dias de hoje.



Pintura do fundo

O “The King” foi redimensionado - anteriormente era um instrumento mais largo. Pode se notar isto, pelas pinturas em seu fundo, neste processo, a mulher que representa a “Justiça” ficou sem o braço esquerdo. – e “modernizado” pelo Luthier Parisiense Sébastian Renault, em 1801.




Lateral “Grave”

As letras na “lateral grave”; isto é, aonde estão localizadas as cordas graves do instrumento, possuem gravadas na madeira a palavra “Pietate” (Latim, para “Piedade”. A Letra “K” em sua cintura, é uma representação de “Karolus”, ou “Rei Charles IX da França)

O braço do instrumento foi trocado em 1801, mas a voluta original foi mantida, permanecendo assim

não apenas a decoração e arte original, mas também preservando a evidência de que o instrumento uma vez, tivera apenas tres cordas.


Lateral “Aguda”

As letras na “lateral aguda”, isto é, aonde estão localizadas as cordas mais agudas do instrumento, possuem gravadas na madeira a palavra “Ivsticia” (Latim, para Justiça), encontrando também em sua cintura, a letra “K”

“The King” foi exibido em Londres em 1872 e 1904, e em Nova Iorque em 1968. Em 1982, ele foi uma das principais peças em uma exposição montada para a

Ente Triennale Internazionale degli Strumenti ad Arco at the Palazzo Comunale di Cremona, October 9-18”





(Andrea Mosconi and Laurence C. Witten, Capolavori di Andrea Amati (Cremona: Ente Triennale Internazionale degli Strumenti ad Arco, 1984), pp. 53-58 and 69.)


De acordo com o proeminente Sr. Charles Beare, o proeminente especialista Londrino em Violinos, que teve a oportunidade de ouvir o instrumento sendo tocado em 1982, o som que este instrumento produz talvez seja o mais incrível som de um Cello, excetuando-se um ou dois dos melhores Cellos Stradivarius.

Para quem se interessar a ouvir o som deste belo instrumento, eis o link para audio

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Justus Johann Friedrich Dotzauer - Retificando / Postando Método

Pessoal, Correção,

No Post sobre J.J.F. Dotzauer, postei apenas os 113 Estudos. Falha minha!

Atendendo a pedidos, segue agora o link para download do método e não dos estudos...

Espero que seja útil!!













Link para: Download

P.S. -> A qualidade não está láááá aquela coisa pois este, veio de um arquivo que é um "scan", "mas"... É possível entendê-lo.

P.S. 2 -> A Edição é trilingue - Inglês, Alemão e Francês. Portanto, vamos estudar um destes idiomas também!!

P.S. 3 - > Este é apenas o "livro 1", assim que encontrar os demais, posto aqui...

Violinos, Cello, Rock... Pt. 04 - "Human Drama"


Human Drama...

...Eis uma banda a qual sempre tive muita vontade de escrever algo e no entanto sempre tive bastante medo de fazê-lo por não acreditar que consiga chegar a um centésimo do que eles representaram para a música em si - em minha opinião, uma das melhores bandas que já performaram nos últimos vinte anos. Embora John Indovina – cantor, idealizador e líder do grupo (muito provavelmente a banda deva ser categorizada antes de mais nada como um projeto e não como banda em si) jamais tenha caracterizado-os assim, o Human Drama possui notórias características no rock gótico e no dark wave, notadamente influenciados por grandes nomes como Joy Division, Lou Reed, e David Bowie entre inúmeros outros. Basicamente são conhecidos (e reconhecidos) pela sua mistura perfeitamente balanceada entre suas composições acústicas em sua grande maioria, tristes e atmosféricas, estética gótica carregada, principalmente em seus contrastes sonoros na temática tristeza – redenção (em sensações). Dotado de um senso melódico como pouquíssimas vezes visto anteriormente – e posteriormente, é legal mencionar; a banda precisa de menos de apenas uma audição para que cative a qualquer um com bom gosto musical, devido ao seu charme, suavidade e coesão das composições.

Iniciaram suas atividades em 1980 com o nome de “The Models” em Nova Orleans, tendo adotado o nome de Human Drama após a sua mudança para Los Angeles, em 1985, aonde viriam se tornar bastante conhecidos no underground de uma das cenas musicais mais produtivas da época; orbitando ao redor do clube “Scream”, por onde já passaram o Guns ‘N Roses e Jane’s Addiction por exemplo.

Em 1992, lançaram no mercado o álbum conhecido por “The World Inside”, sem duvida um dos melhores álbuns de sua carreira e, ouso dizer, da história da música. Este álbum ilustra de uma maneira realista todos os pensamentos de Indovina, sem nenhum disfarce. O que vemos nele é algo puro, e talvez isso explique a aura mística que este álbum apresenta; criações perfeitamente harmonizadas entre voz, instrumentos clássicos a uma banda de rock, bem como a adição de um toque levemente clássico através do uso de Violinos, Cellos e uma flauta transversal.

Sinto que neste momento a adição dos elementos e instrumentação clássica, elevou a banda à um novo status, mudando radicalmente a sua forma e essência; tanto em termos de existência quanto performance. Ganharam um alcance emocional jamais visto anteriormente no rock, não da forma apresentada por eles. Isto fica claro em seu maravilhoso registro ao vivo lançado em 1998, “Human Drama Live - Fourteen Thousand Three Hundred Eighty Four Days Later”, principalmente em músicas como "I Bleed For You", "This Forgotten Love", "I Keep A Close Watch" ou então o cover “Heroin” de Lou Reed, que fecha a apresentação de maneira magistral. Algo no mínimo impressionante!

A Banda encontrou seu fim em 2005, quando finalmente, a qualidade de seus lançamentos - embora muito superior ao que ainda hoje é feito até hoje no mundo musical - corria o risco de se tornar redundante em termos criativos, optando assim Indovina, por seguir uma carreira solo em seu trabalho “Sound of the Blue Heart”.

Desta forma, Indovina evitou a triste morte criativa de uma banda; contribuindo assim, para a criação de um mito.


















Links:




















quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Hey Joêh!!!


(...)rapadura, beringela, aspargos e sifão!
op. citatum.

réplica:
Classificação morfossintática:
- [sexy] adjetivo masc singular .
- [sexy] adjetivo masc plural .
- [sexy] adjetivo fem singular .
- [sexy] adjetivo fem plural .
Sinônimos: Preciso de Salicilato de Metila

hmmmm não fala assim que me apaixono Joêh!! ; )

P.S ->
Vinho SEM cigarros...?
hahaha!

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Justus Johann Friedrich Dotzauer – Métodos e Estudos.


Pessoal, a pedidos postarei aos poucos o material de estudos de Cello que tenho e utilizo em meus estudos.

Dotzauer.

Nascido na cidade de Haselrieth em 20 de Janeiro de 1783 na Alemanha, J. J. F. Dotzauer era filho de um tradicional ministro e músico de igreja. Multi-instrumentista, ele aprendeu vários instrumentos desde muito jovem incluindo o piano, passando pelo Cello, Violino, Clarineta e Corneta. Sua base teórica inicial foi basicamente desenvolvida em cima do antigo órgão de tubos da Igreja, hoje infelizmente quase em desuso.

Como era notória sua inclinação à carreira musical, seu pai enviou-o em 1799 para Krieg, em Meiningen, também Alemanha aonde estudou por dois anos e teve contato com suas primeiras aulas de Cello, através da corte de trompetistas Alemã, aonde, terminado este período, ele se encaixou na Orquestra de Leipzing entre os anos de 1805 e 1811.

De Leipzing, ele foi à Berlin, conhecendo finalmente Romberg, dando continuidade assim, à seus estudos avançados no instrumento, e em 1811, recebeu um convite para integrar a Orquestra da corte de Dresden como primeiro Cellista, aonde ele permaneceu até a idade de 67 anos, 10 anos antes de falecer, em 06 de Março de 1860.

Embora Dotzauer tenha escrito várias sinfonias, concertos, operas, trabalhos para orquestra de câmara e sonatas, a maioria de sua fama vem pela sua famosa obra de estudos para o Violoncelo em 4 volumes, conhecido por 113 exercícios e caprichos para Cello desacompanhado.

Livro 1 & 2 (Ex. 01 -62)

Livros 3 & 4 (Ex. 63 - 113)

Hehehe Divirtam-se pois estes, são exercícios para meses, meses e mais meses... Bem como madrugadas Insônes e altas irritações Cellisticas!! : )

P.S. - Não desaparecendo os sintomas, procurem SEMPRE um professor!!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

"Três contos e uma verdade."


- Livre Adaptação de "A hora da magia", Chris Bachalo

Oh, Lord... Won’t you buy me a Mercedez Benz?”

Quando Joplin – Janis e não Scott – Cantou estas palavras, com sua voz deliciosamente cheia de whiskey, ela tocou em algo dentro de nós.

Seja Moisés, despejando os dez mandamentos naquele bezerro dourado...

...ou Jesus, expulsando os agiotas daquele templo...

...ou o Mastercard, recusando aquela última compra...

O dinheiro não cresce em árvores.

O Dinheiro não compra felicidade.

O Dinheiro é a raiz de todo o mal. Mas nós não nos importamos.

Quando o fantasma de Marley aparece para nós – o de Dickens, não Bob – com suas correntes pesadas do débito para nos sufocar... Nós não nos importamos.

É tudo sobre aquele maldito vizinho, com seu carro novo, pisicina nova, cão novo.

Importa para nós se o acompanhamos?

- Sim, importa.

Seu nome é Charity. Meio irônico para alguém que só estende a mão se precisa expor uma veia. Ela ganhou a oportunidade de descobrir se ela odeia o mundo pelo que ela é...

...ou se o mundo a odeia pelo que ela é.

Quem duvida da fagulha de luz que nos permite pensar e respirar e amar e tocar...

...deve visitar um necrotério.

Lá, eles ficarão felizes em falar com você – Não existe mais ninguém com que possam conversar. Eles trarão um corpo de uma gaveta, e, se você tiver escolha na sua primeira vez, escolha um velho, um homem muito velho.

Nunca uma criança. Nunca.

Você vai ver imediatamente. Uma vez que o espírito saiu do corpo, não sobra nada além de um tecido pálido com cabelos e olhos tão vazios que parecem de vidro.

Se cada um deste mundo pudesse visitar um necrotério de vez em quando, todos poderiam fazer algumas perguntas...

Ah, e caso esteja se pergurtando. Eu não ligo muito para dinheiro, pois ele não pode comprar amor.

“Gostos e simples necessidades...
Me arrumaram uma esposa, bem, talvez duas ou três. É por isto que estou aqui em cima olhando na beirada desta torre. Eu encontrei cinco bruxos que me enganaram com seu poder. Black era só uma criança – ou pelo menos, assim achei. Gray era um sabichão apostador que não poderia ser comprado. Blue, eu achei que não machucaria nem uma mosca. Mas novamente; ele fez um verdadeiro show em cima de mim. Red era doce tanto quanto era quente. A srta. White era a líder deste notório grupo. É ela quem me guiou até o topo desta fatídica torre, e enquanto eu pulava ela disse: - “nós precisamos todos responder para a hora da Magia”

- já convivi demais com bruxos e magos, já quase cruzei a linha final por exatas três vezes, e já vi mais do que o bastante para saber o que realmente importa.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Haúl!! ("ou", por uma vida menos ordinária...?)


...saudaçõ
es indígenas agora?


Bom, era isto, ou então o que está entre aspas, o já manjado "por uma
vida menos ordinária".

Apesar de soar chavão visto que já foi título de livros, filme, montagem teatral etc. realmente gosto desta frase. Acho que ela tem algum sentido, alguma coisa que nos remete a pensar que de fato, no final das contas, todos estamos apenas trilhando um caminho para tentar sermos felizes a nossa própria maneira... Este "a nossa própri
a maneira"; novamente entre aspas, é porque o conceito de felicidade é um troço subjetivo para cacete...

Alguns tem sua felicidade debaixo de um chuveiro quente, cheio de vapor no banheiro. Outros, tem sua felicidade dentro da geladeira. E outros, a mantém dentro de um carro zero. Mas todos a buscam.


Enfim, divagando apenas... São 2:08 da madrugada, e estou rolando na cama de um lado para o outro, desde as 23:00... Acho que estou com uma espécie de insônia retrógrada, se é que isto existe; visto que eu dormi bem entre as 19:30 até as 23:00... Tenho tido destas nas últimas semanas, meus horários de sono não tem seguido nenhum parâmetro r
acional. Portanto, como lá fora teima em cair uma chuvinha gostosa e sinceramente está ainda mais aconchegante aqui debaixo das minhas cobertas, resolvo atacar de manuscrito novamente; jogado entre as tais cobertas, edredons e travesseiros. Amanhã eu posto isso - ou não... rs

Bom, estou tentando não pensar que estarei de pé as 05:40, pois tenho que buscar meu passaporte lá na Av. Faria Lima; e de lá, pegar o ônibus para o interior. Seria tranquilo "se" minha mala não estivesse com míseros 25kg, mais da metade dos quais livros que preciso deixar em casa, em Limeira.

Falando em passaporte, é engraçado como a nossa
vida algumas vezes, parece mudar repentinamente, e algumas certezas; vêm por agua abaixo como se não passassem de sonhos que alimentamos mas não chegamos a concretizar. Digo isto pois a viagem que eu estava me programando agora para fins de setembro, me parece cada vez mais distante, e talvez não venha a sair do papel neste momento. Por uma série de motivos existe uma grande chance de eu ter que postergá-la para no mínimo, alguns bons meses. A maré esta contra, o tempo se tornou um belo de um inimigo; tanto o tempo no sentido "climatológico" da coisa, bem como o "tempo-timing".

Explico. Quanto mais o tempo passa e quanto mais eu atraso as coisas, mais perto o inverno Europeu se aproxima, e seria uma péssima hora para se chegar lá com uma mão na frente e outra atrás. Roupas para inverno pesado costumam ser meio caras, e isto é diametralmente oposto à atual conjuntura econômica da minha carteira. Enfim, se eu postergar mais serão me
ses de espera, os quais sinceramente não vou aguentar ficar parado, no limbo, do jeito que estou... "Mas"... Não é tragédia, de maneira alguma...

Mencionando coisas interessantes do meu dia a dia;

Aparentemente entrou uma garota em minha vida. Isto é, nos últimos 15 dias, justamente por conta de projetos que coloquei em andamento à 1 ano e pouco atrás; meus escritos e minha paixão quanto ao Cello.

"Mas", não alimento; apesar de querer, e sequer tenho como saber se irei chegar a conhecê-la pessoalmente - Ela atualmente vive no eixo Itanhaém aonde mora, e Santos, aonde cursa Artes e é Cellista em uma orquestra. Enfim, são detalhes estes que não posso deixar de achar curioso, e observar com certo assombro e um leve sorriso no rosto.

Em outras ocasiões eu estaria apreensivo, inquieto, mas curiosamente este não é o caso. Não desta vez. Estou calmo apesar da ausência da nicotina, e de certo modo, feliz...

E Considero esta, uma das gratas surpresas que as vezes a vida; nosso dia a dia, nos proporciona. Bem, faz parte do "pacote", de estarmos aqui neste mundinho banal... As vezes, ficamos realmente surpresos! E as vezes, encontramos alguem que nos seja interessantíssimo para se passar horas a fio conversando, querendo saber de suas idéias, piadas e "jeitismos".

Não... Não estou apreensivo... Apesar da vontade de conversar por horas e horas a fio... Apesar da indefinição momentânea quanto a viagem... Estou em uma estranha, macia - e porque não? - aveludada e acochegante paz...


Motivo deste post? Provavelmente nenhum... Constatar talvez, que ainda existe a beleza da surpresa no mundo, como o abrir das janelas em uma manhã, e perceber o jeito que a luz refrata nas pequenas gotas de orvalho em uma flor...


Mais duas "leves" mp3's... Aliás, três - Tango, Cello... e "Juliet", não dá para definir o que é... Belo e vivo Cello...
"Ever" - Emilie Autumn
"Bailata" - Beata Södenberg
"Juliet" - Emilie Autumn

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Violinos, Cello, Rock... Pt. 03 - "ASP" / (...e um pouco de psiconeurose pela abstinência da nicotina)


Ta, beleza, não sei bem o que vou fazer nas próximas semanas para não começar a postar feito louco aqui, visto que meus nervos estão à flor da pele neste momento. Explico, são 6:30 da manhã, e pouco mais de 24 horas que não fumo um cigarro. Meus parabéns à mim mesmo, 1 dia sem fumar! ...em compensação, já estou tendo surtos de agressividade extrema, quero sinceramente esmurrar alguma coisa – talvez à começar pelo modem dessa bagaça aqui. Melhor seria um operador da Net, “mas”... Nenhum a vista por hora.

Então para acalmar os ânimos, continuo aqui meus posts à respeito de bandas e projetos meio que únicos que tenho encontrado no incrível mundo dos cruzamentos musicais e seus produtos. A bola da vez é uma banda alemã de Industrial e Neo Gótico conhecida por ASP.

Sinceramente não sei bem definir o que estes caras fazem, por um lado alguma coisa nesles remete à Ramnstein, In Extremo ou bandas similares em suas melhores incursões eletrônicas. Esta talvez seja a pegada “Eletro” da banda.

Por outro lado, eles incluem também elementos da música erudita em outras composições como o uso do Cello, Viola e Piano, dando uma sonoridade e um clima bem trabalhado às composições, tirando assim um pouco da questão “mecânica” característica em algumas bandas de Industrial ou Eletro, isto é, mais eletrônicas. Músicas como “Duett (Das Minnelied Der Incubi)”, “Schmetterflug” ou “Das Erwachen” mostram sua “pegada” mais gótica, em belíssimas passagens utilizando hora o Cello, hora a Viola. Já outras composições como “Coming Home” e “De Profundis” já mostram a banda montando um som bem calcados em elementos eletrônicos. Agora, se quer exatamente a definição perfeita do que é ASP, recomendo fortemente a música “Réquiem”, um petardo de pouco mais de 25 minutos em que a banda transita entre o eletro gótico, industrial, heavy metal, neoclássico, coros de igreja e folk, com uma desenvoltura impressionante!

Mas, um aviso. NÃO é recomendado aos que não tem uma mente mais aberta e não estejam dispostos a aceitar a transição repentina entre o eletrônico, e corais de igreja com direito a uma passagem pelo heavy-folk por exemplo.

Não é tarefa fácil definir o que estes caras fazem, mas como um exemplo; apesar das nítidas diferenças existentes entre eles e outra banda que resenhei aqui alguns posts atrás, “Chamber – L’Orchestre de Chambre Noir”, eles de alguma forma, podem ser corelacionados (apesar de não fazer a mínima idéia no que). Digo isto pois, tanto ASP quanto Chamber, mantém relações bastante próximas, tendo inclusive já gravado diversos trabalhos simultâneos, inclusive um registro ao vivo em 4 (!!!) Cd’s, em edição limitada em 1.000 cópias. Belíssimo trabalho por sinal.

Este, definitivamente é um trabalho para poucos, e sei que os fãs mais xiitas do tradicional heavy metal ou do crossover entre heavy metal, gótico e neoclássico, deverão torcer o nariz para tal banda. Mas no final das contas, tenho achado tudo isto muito divertido, pois isto de certo modo garante que tais bandas não ganhem a grande mídia, e por isto mesmo, continuem originais em seus trabalhos, não se tornando “bandas-empresa” cujas músicas se tornam meros produtos vendáveis, pasteurizados para atender a grande massa...

ASP - "Me"

Vídeoclip...










ASP - "Requiembryo" Álbum...


















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sábado, 2 de agosto de 2008

Estamos existenciais, mas vagabundos hoje não...?

Continuo existencial, mas novamente vagabundo e preguiçoso... Então, posto o capítulo final de um livro que curto muito, "Como me tornei um estúpido", de Martin Paige... A leveza, as nuances que ele conseguiu em cima das construções textuais e diálogos... Enfim...

12.

ERA UMA DESSAS MANHÃS às portas do outono em que a lua conseguia sobreviver ao dia. O sol não aparecia no céu: ele penetrava delicadamente todas as individualidades naturais e urbanas, transpirava em pétalas de flores, edificações antigas e rostos extenuados de passantes.

No holocausto fecundo do tempo que passa, floresciam para os olhos traumatizáveis os únicos verdadeiros edens, aqueles cuja arquitetura se constrói a partir de sensações.

Neste domingo de manhã, Antoine despertou às oito horas. Em meio às ondas entre mescladas que separam o sono a vigília, tinha-lhe parecido ouvir uma canção.

Espreguiçando-se, ele se ergueu. Após ter posto água para esquentar, tomou uma ducha. Uma vez completada a infusão do chá, permaneceu por um instante a olhar o líquido verde e fumegante diante da sua janela. Num galho, um passarinho parecia fazer pose para o álbum da memória de Antoine; o sol de verão exalava um flash permanente na atmosfera.

Sem beber uma gota do seu chá, ele pousou a xícara diante da janela e saiu do seu
conjugado.


Caminhou até o parque de Montreuil, imiscuindo-se entre os carros e os passantes. Andava depressa, livre de amarras, o cabelo em revolta ainda úmidos. A esta hora, o parque estava praticamente deserto: velhos passeavam, mulheres arejavam os filhos, uma pintora com um chapelão erguera seu cavalete sobre a grama.

Antoine caminhava a passos errantes, como perdido nesse lugar aprazível e calmo. Sentou-se num banco ao lado de um homem velho apoiado na sua bengala de cabo de prata. O velho estava com um chapéu de feltro cinza com uma fita de seda negra; virou ligeiramente a cabeça na direção de Antoine e depois retomou a sua posição de sentinela esgotada.

Antoine olhou na mesma direção e, durante um momento, não viu nada, mas, estreitando os olhos, observando atentamente, percebeu uma mulher jovem precisamente diante dele. Ela perscrutou Antoine, inclinou a cabeça, abaixou-se para examiná-lo como se ele fosse uma escultura e por fim lhe estendeu a mão. Por reflexo de cortesia, Antoine apertou-lhe a mão. Ele quis falar, mas a mulher lhe pôs um dedo sobre os lábios e fez sinal para que se levantasse e a seguisse. Eles afastaram-se do banco e do velho.

— Estou procurando os meus amigos — disse a moça olhando para Antoine, e depois em volta.

— Eles se parecem com quem?

— Com você, talvez. Como você tinha a aparência de ser alguém interessante sentado naquele banco, eu disse a mim mesma que você gostaria muito de ser um dos meus amigos. Você tem uma aparência de ser de boa qualidade. De uma qualidade superior.

— De qualidade superior... Você parece estar falando de um presunto.

— Não, não estou falando de presunto, eu não como carne.

— E você come os seus amigos?

— Eu não tenho amigos, você precisa prestar um pouco de atenção às minhas palavras. Então, como eu digo coisas verdadeiramente assombrosas, é seu papel perguntar-me por quê.

— O meu agente se esqueceu de me mandar a continuação do script. Então... Por quê?

— Por que o quê? — perguntou ela fazendo-se de assombrada de maneira muito convincente.

— Por que é que você não tem amigos?

— Eles mofaram. Eu não tinha reparado em que eles tinham prazo de validade. É preciso prestar atenção a isso. Os meus amigos começaram a ter traços de apodrecimento, manchas verdes muitíssimo repugnantes. O que eles diziam começava a verdadeiramente cheirar mal...

— Isso pode ser perigoso.

— Sim, eles teriam podido causar-me uma intoxicação.

— Você os pôs em quarentena?

— Não, não houve necessidade, eles se projetaram sozinhos em suas vidas enfermiças.

— Você é severa.

— Perdoe-me, porém esse não é o seu texto: você deveria ter dito: “Você é fantástica.”

— Surgem improvisos de última hora no próprio palco.

— Eu sou sempre a última a saber!

A moça parou subitamente e deu um tapa na testa. Ela encarou Antoine, parecendo arrasada, com os olhos arregalados.

— Esquecemos a cena de apresentação! Esquecemos a cena de apresentação! Temos de recomeçar desde o início. Vamos, vamos voltar ao banco.

— Você sabe — respondeu Antoine detendo-a —, a gente poderia fazer umas anotações para garantir a continuidade. É isso que se chama fazer montagem.

— Você tem razão. Caminhemos por alguns instantes sem dizer nada e apresentemos-nos. Ação.

Eles caminharam pelas pequenas alamedas do parque, sobre a relva, olhando as árvores, os pássaros. O tempo estava ameno, o ar tinha uma cor clara e quase cintilante. Nunca o mês de setembro tinha sido tão agradável; ele ignorava ingenuamente o outono que se aproximava, permanecia altivo, de pé, esbanjava as derradeiras forças do verão como se elas fossem infinitas.

— Oh — disse a moça espontaneamente —, eu me chamo Clémence.

— Muito prazer — respondeu Antoine com um tom jovial.

— E eu me chamo Antoine.

— Eu estou encantada em conhecê-lo — disse ela apertando-lhe a mão, e depois, após alguns minutos de silêncio, prosseguiu:

— Agora, Antoine, retomemos a partir do momento em que você dizia que eu sou Fantástica.

— Eu dizia que você é severa.

— Você é muitíssimo injusto. Você não sabe julgar?

— Eu tento, mas é difícil.

— A minha teoria é que se pode compreender e julgar. A gente julga justamente para se defender, porque quem tenta compreender a gente? Quem compreende os que tentam compreender?

— Lacenaire dizia que os únicos que estão capacitados para julgar são os condenados.

— Então, se é assim, nós somos os condenados — disse Clémence abrindo os braços. — Eu sempre fui condenada, desde pequena fui julgada com sentenças silenciosas. É bonito o que eu disse, não?

— Por exemplo?

- Por exemplo: tudo. A sociedade inteira é um julgamento contra mim. O trabalho, os
estudos, a música moderna, o dinheiro, a política, o esporte, a televisão, os manequins, os
jornais, os automóveis. Isso é um bom exemplo: os automóveis. E
u não posso andar de
bicicleta, caminhar onde queira, desfrutar da cidade: os automóveis condenam a minha
liberdade. E eles são fétidos, são perigosos...

— Estou de acordo. Os automóveis são uma calamidade.

Eles compraram algodão-doce. Bicando, arrancando volutas rosa, eles comeram rapidamente, açucarando os dedos e os lábios.

— Outra coisa — disse Clémence. — A meu ver, a grande divisão do mundo, bem, à parte todo esse negócio de classes sociais, a grande divisão do mundo é entre os que vão às festas e os que não vão. E esta divisão da humanidade, que data da época do colégio, persiste toda a vida sob outras formas.

— Eu não era convidado para as festas.

— Eu tampouco. Eles tinham medo, porque eu dizia o que pensava e eu pensava muito mal dos meus colegas. Eu detestava quase todo o mundo. Era genial. Mas agora, porque perceberam como nós somos fantásticos, eles querem convidar-nos para as festas de adultos, e fazer de conta que nada aconteceu, como se tudo estivesse esquecido.

Mas não, nós não iremos.

— Ou então vamos somente para comer salgadinhos e tomar garrafas de Orangina.

— E bater com tacos de beisebol na cabeça de todos eles — disse Clémence simulando o gesto.

— E acabaremos com eles com tacos de golfe, é mais elegante.

— Com classe, com graça.

Discutindo tudo isso, eles deixaram o parque. Caminhavam lado a lado, Clémence saltitava, colhia flores, perseguia os pássaros para tocá-los. Ela tinha, mais ou menos, a idade de Antoine; por momentos ficava muitíssima séria e, no instante seguinte, desenvolta e leve, a sua personalidade não cessava de reviravoltear. Com ar cândido, ela exclamou abrindo os braços:

— Por que a gente não teria o direito de criticar, de achar certas pessoas babacas e fracas, sob pretexto de que teríamos um clima pesado e ciumento? Todo o mundo se comporta como se fôssemos todos iguais, como se fôssemos todos ricos, educados, poderosos, brancos, jovens, belos, machos, felizes, como se todos estivéssemos com boa saúde, como se todos tivéssemos um carrão... Mas isso, obviamente, não é verdade. Por isso, tenho o direito de gritar, de estar de mau humor, de não sorrir idiotamente todo o tempo, de dar a minha opinião quando vejo coisas não-normais e injustas, e até de insultar as pessoas. Tenho o direito de protestar.

— Estou de acordo, mas... Isso é fatigante. Podemos fazer isso de um jeito melhor, não?

— Você tem razão — concedeu Clémence. — E idiota gastarmos toda a nossa energia com coisas com as quais não vale a pena gastá-la. Mais vale guardarmos as nossas forças para nos divertir.

— E para passear na margem do rio.

— Passear na margem do rio... Isso é de uma canção, não?

Clémence cantarolou uma vaga canção. Eles caminhavam na calçada entre a multidão de trabalhadores e desempregados, estudantes, velhos e crianças. As lojas, as padarias, os bancos continuavam cheios desses glóbulos variegados que são os seres humanos no aparelho circulatório da cidade. Um carro passou diante deles buzinando e parou dez metros adiante, num sinal vermelho. Clémence tomou Antoine pelobraço.

— Feche os olhos — pediu-lhe ela. — Eu tenho uma surpresa para você.

Antoine fechou os olhos. Um vento leve e quente eriçou os cabelos dos dois jovens. Clémence conduziu Antoine puxando-o pelo braço; ela o levou para o meio da rua. A uns cem metros, vinha um veículo negro.

— Bem, você já pode abrir os olhos.

— Clémence, está vindo aí um automóvel negro — constatou tranqüilamente Antoine.

— Você prometeu que teria toda a confiança em mim.

— Não, de maneira nenhuma, eu nunca disse isso.

— Ah, sim, eu esqueci de lhe pedir que tivesse toda a confiança em mim. Tenha confiança em mim, certo?

— Clémence, o automóvel...

— Jure que você vai ter toda a confiança em mim e pare de gemer, seu medroso. Você não deve mexer-se, isso é muito importante.Jure.

— Está bem, eu juro. Eu não vou mexer-me, eu não... vou mexer-me...

O carro estava já a não mais de trinta metros, a sua buzina urrava para que os dois jovens saíssem do meio da rua. Antoine e Clémence não se mexiam, os passantes olhavam para eles. No penúltimo instante, Clémence puxou Antoine pelo braço e eles caíram na calçada. O carro negro passou resmungando ferozmente e arreganhando-lhes os dentes.

— Eu salvei a sua vida — disse Clémence. — Eu sou a sua heroína! — Ela se levantou e ajudou Antoine a se pôr de pé. — Isso quer dizer que nós estamos ligados pela vida. Doravante nós somos responsáveis um pelo outro. Como os chineses.

— Eu acho que já tive suficientes emoções por hoje.

— Você tem algum número de emoções que não pode ultrapassar?

— Sim, tenho, é isso, senão corro o risco de morrer de overdose. E não me diga que as
overdoses de emoções são geniais, porque não estou acostumado a elas.

Esfomeados por causa da sua vida tão aventureira, Clémence e Antoine concordaram em ir almoçar no Gudmundsdottir com As, Rodolphe, Ganja, Charlotte e a sua amiga. Entretanto, como ainda faltavam algumas horas para o meio-dia, decidiram brincar de fantasma.

Clémence explicou a Antoine em que consistia essa brincadeira: eles tinham de se conduzir como fantasmas, olhar fixamente para as pessoas nos terraços dos cafés, passear pelas ruas e pelas lojas ruidosas, ulular, flanar valendo-se da sua invisibilidade, conduzir-se como se tivessem desaparecido dos olhos do mundo. Agitando as suas correntes e levantando os braços de maneira aterrorizadora, Clémence e Antoine começaram a assombrar a cidade.


Como me tornei um Estúpido, Martin Paige
Ed. Rocco