terça-feira, 28 de outubro de 2008

Solaris e Dylan Thomas

Eu não vou ficar discorrendo aqui sobre o filme Solaris. Tampouco, quero falar sobre Tarkovski. Muito menos, Steven Soderbergh – até porquê fazem muita pipoca de pouco milho, desse cara. Stanislaw Lem? Só digo que acho genial a sua colocação: “A tragédia do séc. XX consiste em não ter sido possível experimentar as teorias de Karl Marx em ratos primeiro”

Solaris tem seu mérito, pois, ao contrário das ficções científicas “blockbuster’s”, explora o vasto e perigoso “espaço interior”. 10!

Mas, me marca a poesia à qual o filme se desenrola, e suas implicações na dinâmica existencial das pessoas. Neste sentido, Solaris se torna genial! “E a morte perderá seu domínio”.

Dylan Marlais Thomas nasceu em Swansea, no País de Gales em 1914. É considerado um dos maiores poetas do idioma Inglês do século XX juntamente com W.Carlos Williams, Wallace Stevens, T.S. Eliot e W.B. Yeats.

Dylan Thomas teve uma vida muito curta, devido a exagerada boemia que o levou ao fim de seus dias aos 39 anos, mas, ainda teve tempo de nos deixar um legado poético que o tornou um dos maiores influenciadores de toda uma geração de escritores.

Como ando meio saudosista em relação a muitos que se foram.

No sentido “Solaris” da coisa, recomendo sinceramente a leitura da análise psico-filosófica em cima do filme bem como da poesia; no blog Anna Karenina & seus Exercícios de Contradição”

A garota é foda!

Enfim... Se alguem achar uma imagem legal do "planeta" para eu postar aqui, agradeço imensamente...

Sem mais, segue a poesia...

“E a morte perderá seu domínio”

E a morte perderá o seu domínio.
Nus, os homens mortos irão confundir-se
com o homem no vento e na lua do poente;
quando, descarnados e limpos, desaparecerem os ossos
hão-de nos seus braços e pés brilhar as estrelas.
Mesmo que se tornem loucos permanecerá o espírito lúcido;
mesmo que sejam submersos pelo mar, eles hão-de ressurgir;
mesmo que os amantes se percam, continuará o amor;
e a morte perderá o seu domínio.

E a morte perderá o seu domínio.
Aqueles que há muito repousam sobre as ondas do mar
não morrerão com a chegada do vento;
ainda que, na roda da tortura, comecem
os tendões a ceder, jamais se partirão;
entre as suas mãos será destruída a fé
e, como unicórnios, virá atravessá-los o sofrimento;
embora sejam divididos eles manterão a sua unidade;
e a morte perderá o seu domínio.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Vivaldi - Cello Sonatas & Partituras


Quem não conhece Antonio Vivaldi?

Claro, ele é mais conhecido pelo seu extaordinario brilho em suas composições para Violino, como a imortal obra “Le Quattro Stagione”, ou “As quatro estações”.

Conhecido também pela alcunha de “O Padre Vermelho”, muito possivelmente por seus cabelos ruivos – eis uma coisa que poucos sabem – ele também foi um fértil compositor para orquestras, devotando especial atenção para o Cello e com isto, realizando as mais belas composições para este instrumento, excetuando-se Bach.

Consta que Vivaldi escreveu mais de 30 concertos para Cello, e entre estas, manteve 9 sonatas. Este número de sonatas é mais compatível com as coleções gravadas, do que a maioria de outras composições instrumentais; além do que, a gravação completa são bastante esparsas, fazendo com que os sets executados por David Watkin, se tornem muito mais representativos.

Mas primeiro, é válido um pequeno trabalho de definição sobre “o que é o quê”.

Um concerto típico é uma composição aonde um ou mais instrumentos solo, são enfatizados com o apoio de uma orquestra. O conceito moderno da orquestra é derivada do “concerto grosso” barroco, aonde comumente um grupo de instrumentos ao invés de um, era contrastado com uma orquestra maior.

Em contraste, a
“sonata” claramente indica a composição tocada em oposição à “cantata”.

O termo “sonata” , como o concerto, evoluiu consideravelmente durante e após o período clássico, e atualmente define inúmeras formas diferentes de composição. Os atuais estudiosos em musica barroca, utilizam o termo “sonata” para uma variedade bastante ampla de diferentes tipos de composições, incluindo, as para instrumentos solo bem como para grupos de instrumentos, todos com a base por um contínuo, geralmente um contrabaixo fazendo este papel.

Os nove concertos para Cello de Vivaldi, claro, seguem o modo barroco, com a exceção de que o contínuo em suas composições são um pouco maiores do que apenas
um cravo, órgão contrabaixo ou viola da gamba. Estas sonatas então na realidade, se encaixam em algum lugar entre o modo tradicional de concerto barroco, e as tradicionais sonatas.

Para estas peças para Cello, Vivaldi priorizou uma estrutura de movimento com um esquema de devagar-rápido-devagar-rápido.

O que faz com que estas sonatas para Cello sejam únicas em seu corpo musical é a maneira reflexiva e meditativa do primeiro e terceiro movimento composto por ele.

O Cello como um instrumento de cordas baixo, é muito bem ajustado para trabalhar uma grande variedade de estados de espírito contemplativos, desde a melancolia profunda, até a mais reverente adoração.


Para os ouvintes restritos apenas ao seu
“Le quattro stagioni”, tais sonatas com certeza será uma grata surpresa. Embora muitos elementos que caracterizam o brilho de suas composições estejam presentes nestas sonatas, em muitos momentos ele opta pela suavidade, evitando a pirotecnia musical que comumente encontramos em suas obras.

Embora eu tenha citado acima a melancolia, talvez os movimentos mais lentos sejam mais bem descritos pela palavra “fé” ou “contemplação”. Mesmo os movimentos mais rápidos, embora seja fácil a percepção de vários elementos típicos das composições de Vivaldi, ainda assim mantêm este caráter contemplativo.


Talvez, excetuando-se as magistrais interpretações da saudosa Jacqueline Du Pré nos concertos para Cello de Elgar bem como a interpretação de Paul Casals para as suítes de Bach, as sonatas para Cello de Vivaldi tenham sido uma das mais importantes gravaçõ
es para o Cello enquanto instrumento solo...

...agora, que tal os Cellistas folgados de plantão começarem a comentar essa bagaça??? hahaha Puta trabalho preparar tudo isso para postar, tenho mais de 10 down's por dia e menos de 1 comment por semana, mas que saco!!


Anyway, reclamações à parte, seguem os links para download abaixo:


Mirror Parte 1

Mirror Parte 2















domingo, 19 de outubro de 2008

Violinos, Cello, Rock... Pt. 08 - "Johanne Pelletier" ou "Jorane"


Atendendo à pedido...


"Tori Amos no Cello?"

A Cellista Johanne Pelletier, mais conhecida pelo seu nome artístico, “Jorane”, é uma Compositora, Cellista e Interprete Franco-Canadense,– Isto mesmo, também vocalista.

Reconhecida pelo seu estilo bastante alternativo em um instrumento tipicamente clássico, bem como sua notável habilidade de cantar ao mesmo tempo que toca, o que definitivamente não é uma coisa comum. E pasmem, realiza as duas tarefas simultaneamente, com bastante competência e um feeling incrível!

Seu estilo no Cello, muitas vezes leva críticos a compararem-na com a pianista Tori Amos.

Sua formação inclui o início do piano em idade tenra, após qual enveredou para a guitarra, e aos 19 anos, iniciou os estudos no Cello, transformando-o em seu instrumento principal, pelo qual é reconhecida em seus trabalhos solos bem como várias participações em trabalhos de outros músicos, como Sarah McLachlan, ou apresentações com a Filarmônica de Quebéc e ainda; inúmeros projetos paralelos “Avant Garde”, como por exemplo, a sua performance totalmente improvisada em Montreal, em julho de 2007, inspirada por imagens apresentadas a ela e ao público em uma enorme tela; como parte do festival “Montreal Terre”, concerto-irmão dos festivais “Live Earth”, realizados simultaneamente pelo mundo afora.

Nesta ocasião, ela mostrou sua incrível capacidade de tocar em forma de “jam session”, algo raro entre os músicos profissionais do Cello. Citando ainda, inclusive participações regulares junto ao Cirque du Soleil.

Embora muito pouco conhecida no Brasil, ela pode ser considerada uma figurinha carimbada nos principais festivais de Jazz pelo mundo afora, notoriamente o Festival de Jazz de Montreal, um dos mais, se não o mais reconhecido no mundo atualmente.

Sério, a mulher é foda, pois acumula em seu currículo 16 prêmios de melhores discos do ano pelo mundo afora, bem como 10 premi
ações no Juno Awards.


Uma pena seu eixo de atuação não incluir a América do Sul, pois costuma se meter em tours mundiais, aonde já realisou mais de 70 shows solo na Europa, 10 tours pelo Japão bem como México. Nos Estados Unidos, ela freqüentemente realiza shows em Nova Iorque, Los Angeles e São Francisco.

Em sua carreira solo, lançou apenas 5 albuns, mas cada um deles dotados de características próprias, auras mágicas em forma de música, dos quais enfatizo
os maravilhosos álbuns “Jorane: Live au Festival d'été de Québec avec l'OSQ” e o “The You and the Now”, primeiro trabalho da Cellista em Inglês.

Como curiosidade, além dela canta
r em suas músicas, existem algumas composições como por exemplo a música “Film III” – que constam nestes dois albuns – em que ela faz uso de uma “idioma musical” criado por ela mesma, dotado de intensa musicalidade que casa de uma maneira absurdamente bela com suas composições no Cello...

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Atualmente, ela trabalha em um projeto baseado na Internet, chamado "Canvas or Canvass?", com os músicos “Cristo” e “Éloi Painchaud”, aonde tem como objetivo, contribuir para projetos independentes de filmes, grupos de dança, circo; explorando sempre a textura dos sons, temas e principalmente, um senso incomum de "groove".


Altamente recomendado!

Link - > Homepage projeto "
Canvas or Canvass?".

Vídeo (Belíssimo): Jorane Live Montreal Jazz Festival, "Film III"














Links para Albuns nas próprias imagens:



















sábado, 18 de outubro de 2008

APCM x "Comunidade Discografias"

EM VERMELHO PARA SER BEM COMPREENDIDO:

Se os "burocratas" da APCM e demais grupos de interesse da classe tentassem ser mais humildes em tentar entender o que de fato acontece hoje em relação à livre disseminação de informação dentro do mundo virtual e procurassem trabalhar com isto e não coibir, não teriamos esta situação ridícula; isto é, a tentativa de fechamento de uma comunidade que NÃO comercializa o que disponibilizam - portanto, NÃO se caracterizando pirataria - e NÃO tentaria entrar com medidas que ao ver de muitas "cabeças pensantes" por aí - basta pesquisar o assunto na net - é uma VERDADEIRA AFRONTA À CRIAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E CIRCULAÇÃO DA CULTURA!!!!

1 - (Ou algum burocrata acredita que, tudo o que existe dentro do "Comunidades" é disponibilizado em CD's, e ainda mais, a preços acessíveis?? Porquê, isso sim, temos que pagar o pato pela existência de burocratas que são absurdamente CEGOS quanto à realidade mutável do mercado fono hoje em dia, e portanto, tomam medidas discutíveis e sofrem pela própria incompetência? Eu AMO CD's originais, mas NÃO aceito pagar R$ 50,00 em um CD, pois isto é um abuso!!!)


2 - (Agora também temos que aceitar pagar fortunas para assistir a SHOWS??? Exemplo: Judas Priest; R$ 90 a R$ 300 !!!!) -> Desculpem me Sr's promotores de eventos, mas quanto é mesmo hoje o salário mínimo no Brasil??? Verdadeira ABERRAÇÃO por falta de termo melhor!!! O que os senhores promovem é APARTHEID CULTURAL, deveriam se envergonhar disto!!

BOICOTE À GRAVADORAS!!! BOICOTE À APCM!!!
(E óbviamente, digam NÃO a pirataria, "mas" exerçam seu direito de livre informação)

Segue matéria:

” Uma guerra silenciosa, travada nos bastidores da principal rede social do país, preocupa internautas que baixam música pela internet. O Orkut, braço do Google que neste ano passou a ser chefiado por uma equipe brasileira, começou a deletar pedaços da sua maior comunidade dedicada a compartilhamento de arquivos MP3, a “Discografias”.

O endereço existe desde 2005, conta com três administradores anônimos (Madruga, Cris e Chris) e abriga 755 mil participantes cadastrados –o número de pessoas que a utiliza efetivamente é bem maior, já que para acessar seu fórum não é preciso de inscrever. Ali, internautas compartilham links com álbuns musicais inteiros sem pagar nada. A organização e o volume de material fez com que o endereço se tornasse uma central para quem procura esse tipo de conteúdo na rede brasileira.

(…)

Os moderadores da “Discografias”, que passam mais de cinco horas por dia trabalhando no fórum, impõem regras rígidas, inclusive banindo usuários mais insistentes. As proporções levaram à criação de comunidades satélite, que servem de apoio para a principal. Na “Discografia - Pedidos”, por exemplo, os usuários podem dizer o que querem baixar. Isso ajuda a não abarrotar o índice da comunidade “mãe” –onde entram apenas tópicos com o caminho do download.

(…)

A exclusão de algumas páginas dentro da comunidade já foi sentida pelos internautas. Em uma nota divulgada na quinta-feira passada, os moderadores da “Discografias” afirmaram que “tópicos continuam a sumir e não são devolvidos. Depois que a administração do Orkut passou para o Brasil, a coisa tem piorado muito”.

(…)

A Folha Online entrou em contato com a moderação da comunidade. Sem se identificar, aceitaram responder à reportagem sobre seu trabalho na rede social.

“Muitas bandas, hoje, tanto no Brasil quanto no exterior, assumem que não fariam sucesso se não fosse a internet. Até o Presidente da República deu uma declaração favorável na semana passada sobre ‘baixar músicas da internet’. Ilegal e pirataria, na nossa opinião, é a venda de CDs piratas”, afirmam.

Segundo eles, o trabalho na Discografias é um “ótimo hobby”. Mesmo sob pressão, não cogitam fazer um blog ou outro tipo de fórum –só se o Google fechá-los de vez.

“É certo que muita gente só está no Orkut pelas poucas comunidades úteis e bem organizadas que sobraram, tais como a ‘Discografias’ e algumas outras. Com o seu fim, pensamos que o movimento no Orkut cairia consideravelmente”, apostam.

Se você TAMBÉM ACHA que o Google-Brasil deveria se preocupar com os PEDÓFILOS no orkut, com os perfis que fazem Bullying virtual e com as comunidades que promovem a violência e preconceitos [e que, pensando muito bem é uma BAITA PERDA DE TEMPO cancelar uma comunidade que visa a troca de links… CLIQUE AQUI PRA ASSINAR O ABAIXO-ASSINADO!

Pq essa associação não vai reclamar no rapidshare e semelhantes?! oras pipocas… cada uma, viu

E para quem quiser pesquisar mais a fundo os aspectos jurídicos de tal pendenga, acessem no site "Consultor Jurídico" o seguinte texto e análise:

Tabu pirata - Download de filmes e livros para uso privado não é crime

por Manoel Almeida



Fonte: Site Folha

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

"Alice" - ou - "O Medo devora a alma"


Tenho acompanhado com certo interesse a nova série nacional produzida pela HBO, “Alice”. Não sem uma grata surpresa, confesso.

Embora o enredo soe
algo bastante chavanesco já, isto é, a tal exploração do lado feminino tem dado no saco nos últimos tempos com o surgimento de literatura, cinema, música especializada – isto é, direcionado ao universo feminino – a serie até o momento conseguiu me prender a atenção por tratar a cidade de São Paulo, como uma protagonista para as pequenas crônicas, que aparentemente são o formato escolhido pelo diretor Karim Aïnouz como forma de narração e continuidade da história. E funciona. Bem.

Mas como é possível, se tal artifício já foi explorado com muita classe nos últimos tempos, em filmes como por exemplo “Encontros e Desencontros” de Sofia Coppola ou “Asas do Desejo” de Wim Wenders?
Talvez pelo fato de assim como na Tokyo de Coppola e na Berlin de Wenders, São Paulo se mostra também uma cidade mágica, única. São Paulo é uma teia infinita de possibilidades, tanto de experiência humana, de arquitetura, quanto de geografia.

São cidades libertadoras em sua própria essência, e que funcionam como perfeitos contra-pontos para os personagens ali inseridos naquele contexto.

O enredo da série é simples. Bem simples. Basicamente ele segue as relações da personagem Alice, interpretada por Andréia Horta, uma jovem de 26 anos que deixa Palmas em Tocantins às vésperas de seu casamento, para acompanhar o funeral do pai que se matou em São Paulo. Ela acaba perdendo o vôo de volta e abraça a cidade em todo o seu turbilhão, incluindo sexo, drogas e noitadas.


Tudo mostrado com um despudor embora exagerado em algumas passagens, ainda assim altamente sensuais e não raras, poéticas. A partir daí, explora-se o contraste da selva de pedra diurna que é São Paulo, e a vida e sua aura mágica em que a cidade se transforma com todas as suas luzes, após o por do sol; sempre buscando uma percepção alterada da cidade, típica de quem não é de São Paulo.

...quem sabe assim, não inicia-se um movimento para a re-exploração da cidade de São Paulo como cenário para a o cinema Brasileiro?


Porque convenhamos, cá entre nós, mas essa mania de explorar o Rio de Janeiro em estórias “inventadas” que dizem ser verdade para tentar impor como realidade como muitas emissoras o fazem, sinceramente já deu no saco...

Ah, e olha só que barato; para a divulgação da série, a mesma tem atingido diversos veículos diferentes de comunicação... Então, o pessoal da produção até Blog da "Alice" criaram; vale a pena dar uma passada por alí de vez em quando, a autora responsável pelos textos do blog, manda muitíssimo bem encarnando o papel da Alice...

Blog: "Alice Encantada"





sábado, 11 de outubro de 2008

Violinos, Cello, Rock... Pt. 07 - "Julia Kent"


Esta é a segunda Cellista que resenho aqui bem como seu trabalho solo, que já passou por aquela estranha banda de Cello rock chamada “Rasputina”. Na realidade ela não simplesmente passou pelo Rasputina, e sim, foi sua co-fundadora, junto com a famigerada Cellista Melora Creager. Um dia escrevo algo sobre elas.

De trejeitos tímidos, é algo simplesmente assombroso quando pela primeira vez você vê e ouve o que esta mulher faz com seu instrumento. Todo o trabalho de harmonização das músicas, a sobreposição em múltiplas camadas de cada linha do Cello, as construções melódicas, arranjos detalhados... Em termos, bastante similar ao trabalho que sua Ex- colega de banda, Zoe Keating, faz hoje em dia. E tão diametralmente oposto, se é que isto é possível; diferente, tão dotado de características próprias, orgânicas.



Cada música funciona de maneira independente, como pequenas peças, aonde a Srta. Kent mostra com desenvoltura todo seu conhecimento da musica clássica moderna, seguindo padrões líricos e muitas vezes, até mesmo cinemáticos em seus princípios de composição, o que garante uma coesão incrível em sua música. Em uma análise mais profunda, podemos perceber um flerte particularmente com o romantismo, extremamente melódico em seus arranjos detalhados, belos, e ao mesmo tempo trágicos.


A idéia do álbum – Delay - também é algo digno de nota; ela explora a temática dos “espaços genéricos” dentro da pós-modernidade - neste caso, os aeroportos. Imagine que cada aeroporto é um espaço genérico, apesar de dotado das características culturais do país aonde ele se encontra, ele também funciona como um espaço “de transição”, aonde você se prepara para uma viagem, saindo “aos poucos” de uma cultura – o momento em que está no aeroporto em si.


A partir daí, o “estado de sonho” que se caracteriza muitas vezes uma viagem aérea, e posteriormente, novamente um outro aeroporto; um outro espaço genérico com elementos culturais do país aonde você entrou, como uma preparação para o choque cultural em si, quando deixa o aeroporto para se ver imerso em outra cultura.

Tudo se trata de aeroportos e sua natureza transitória, resumindo; e os mundos pessoais que criamos devido à desorientação e disjunção causada por viagens longas, e é esta fração de existência; tão particular, que Julia Kent desenvolve todo seu trabalho. Incorpora elementos de cada aeroporto em seu sentido genérico, e agrega a eles também suas características culturais próprias, para a partir daí, trabalhar a música em si. Diga-se de passagem, com um resultado no mínimo espantoso.


E a coisa toda fica ainda mais interessante quando você “percebe” as vinhetas entre cada música, sons dos próprios aeroportos que nomeiam cada música; e que contribuem e muito para as performances – tanto no estúdio quanto ao vivo – extremamente emotivas, intimistas e pessoais.


Resumindo... Esta é a música de fundo perfeita para os poetas que costumam discorrer e criar em cima do já conhecido tema “De onde viemos, e para aonde vamos?”; só que em uma releitura completamente nova.


Após a audição deste, então realmente percebemos que de fato, existia o som antes da luz, afinal...






















Vídeo: Tempelhoff - Live at Moscow