quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Kol Nidrei – Op. 47 – Max Bruch.


Novamente algumas semanas sem postar nada por aqui. O Cello vai bem; tenho conseguido manter um bom ritmo de estudos bem como aumentando o repertório; o que é ótimo visto que nos últimos dois meses tenho sido um completo vagal, em se tratando de meus estudos quanto à música e o instrumento.


Pois bem. No momento estou trabalhando em cima Op.47 de Max Bruch, a “Kol Nidrei”; música esta que considero uma das coisas mais belas já compostas para o Cello. Lhes deixo as partituras para quem se interessar; bem como um vídeo maravilhoso com a mesma sendo executada pela Orquestra Filarmônica de Mulheres de Vienna, com a solista Búlgara Teodora Miteva; sob regência da maestrina Izabella Shareyko.


É interessante notar que nenhum outro hino Judaico ganhou tanta atenção quanto o Kol Nidrei.


Kol Nidre or Kol Nidrei, ou ainda Kal Nidre; (Em aramaico: כל נדרי) é uma declaração recitada nas sinagogas, antes do início dos serviços religiosos no Yohm Kippur, ou o “Dia do Perdão”. Embora a Kol Nidrei não ser considerada uma “reza” propriamente dita; a estrutura das palavras e declamação das mesmas sempre foi acompanhada de uma forte carga emocional desde a época medieval, criando assim, uma introdução dramática aos serviços do Yohm Kippur, no que é conhecida como a “noite do Kol Nidrei”


As versões arranjadas para o a Kol Nidrei diferem enormemente entre si; sendo que várias delas – como o caso do concerto de Bruch – não tem utilidade para os serviços no Yohm Kippur, visto que o caráter Judaico real se perdeu. O que – é importantíssimo salientar – não tira nenhum mérito ou brilhantismo da obra.


A origem da Op. 47 de Bruch está no contato mantido entre Bruch e e a família Lichtenstein. Mesmo sendo protestante, Bruch não teve como não ser tomado pela carga emocional existente na declaração da Kol Nidrei. No entanto, é interessante saber que existem registros em cartas de Bruch indicando que ele mesmo não considerava seu arranjo para a Kol Nidrei como uma autêntica versão para a declaração em serviços religiosos. Muito pelo contrário - ele aponta sua Op. 47 apenas como um arranjo artístico em cima de uma composição “folk”.


Este é um ponto controverso, principalmente quando se trata de definições relativas ao que de fato é uma música folk, e o que é música – ou declaração, neste caso – voltadas a realização de um serviço religioso.


Se não, vejamos:


A música folk tem sido definida de várias maneiras diferentes: Músicas transmitidas boca-a-boca, músicas destinadas às classes sociais mais baixas; ou músicas tradicionais cujos autores não são conhecidos; em clara oposição a músicas de cunho comercial ou até mesmo, o próprio erudito.


Bruch lidava com esta oposição entre o erudito versus folk de uma maneira entusiasta; pois considerava as antigas musicas folk, como a fonte de todas as verdadeiras melodias; aonde todos os músicos e compositores deveriam se inspirar e, em contrapartida, realimentar; aumentando assim a fonte de inspirações para gerações posteriores. Tendo isto em mente, torna-se claro o porque desta brilhante composição - um verdadeiro expoente da música erudita com todas as suas nuances, contrastes e detalhes – não possuir um autêntico sentimento Judaico. (Seja lá o que raios signifique “sentimento Judaico”).


A base da composição é relativamente simples. É fácil identificar duas melodias principais; sendo que a primeira é baseada em uma antiqüíssima música de expiação; e a segunda (Em D Maior), é o movimento intermediário de uma música dotada de uma fluidez impressionante, tão antiga quanto a primeira.


Acreditem ou não; em sua época Bruch era conhecido por seus trabalhos em corais de cunho épico. Hoje, infelizmente, excetuando-se o primeiro de seus três Concertos para violino, a “Scottish Fantasy” e claro, a Kol Nidrei; suas composições caíram no ostracismo, sendo dificílimo encontrar outros registros em áudio. É triste saber que muito se perdeu; mas por outro lado, cada descoberta nos traz a sensação do achado de um pequeno tesouro.


Possivelmente um dos motivos para o obscurantismo relativo a Bruch infelizmente foi o contexto sócio-político de sua época. Embora protestante, seu contato bem como desenvolvimento de arranjos em cima de elementos da cultura Judaica poderia ser algo bastante perigoso para sua integridade física na Alemanha em vias de adotar políticas anti-semitistas. Quanto a isto, podemos apenas especular; visto que na época, apesar de todos os riscos a Kol Nidrei atingiu um certo sucesso, sem que houvesse qualquer represália por parte dos anti-semitas. Duas possíveis explicações para isto lidam com a hipótese de que primeiramente, a declaração fora retirada da liturgia durante a reforma Judaica no século XIX, sendo novamente reintroduzida apenas em 1945; pós 2ª Guerra Mundial. Isto leva a crer que quando Bruch compôs esta peça em 1880, a Kol Nidrei bem como a melodia associada a ela, fossem consideradas apenas como elementos históricos, sem cunho religioso real.


A segunda hipótese é mais bizarra: Max Bruch era um admirador confesso de Johannes Brahms – e, em algumas partes da composição, podemos suspeitar da existência de uma certa sombra de influência dos trabalhos de Richard Wagner. É apenas uma hipótese que talvez nunca seja comprovada; mas, se de fato isso for real, a junção entre elementos de compositores Alemães da época e elementos da cultura Judaica na Alemanha anti-semita, pode ser considerada de uma ironia sem tamanho...


De qualquer modo, independentemente de questões sócio-políticas bem como contexto histórico; esta antiga melodia Judaica revista através dos olhos de um Protestante, é de uma beleza ímpar. Direcionado pela profunda sonoridade do Cello solo, a composição ecoa por um lado mais sombrio e melancólico da orquestra; tendo seu início em uma simplicidade rica e sofisticada, passando por variações cada vez mais elaboradas, para retornar novamente a mesma simplicidade da abertura.


É, meus amigos... A música definitivamente transcende qualquer mero preceito religioso... É uma pena que poucos percebem isso...



Link: Kol Nidrei - Teodora Miteva / Vienna Philharmonic Women´s Orchestra















(Obs: Vídeo em 2 partes; o 2º link se encontra no Youtube)



Link: Partitura

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O mistério de Nick Drake

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Não tenho muito tempo neste instante para escrever as ideias que tenho desenvolvido inspiradas em uma das mais gratas descobertas musicais que tive em minha vida nos últimos anos, Nick Drake. Deixo então uma introdução, um gostinho de apresentação a um novo mundo de referências poéticas e a um personagem misterioso que intriga qualquer um que ouça sua música, suas letras, e saiba sobre sua curta vida... ele se suicidou aos 26 anos. Algumas de suas canções viraram obsessão de jazzistas (va savoir... ele é um artista primordialmente folk, mas o jazz gosta de desafios), como "Day is Done" e "River Man", que ouvirão logo a seguir, com um video bonito e bem entendido do poema por trás de tudo...

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Sem mais delongas, com vocês, o poeta Nick Drake.

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