Interrompendo apenas por um momento as notícias romanescas do nosso querido amigo Andreas Der Mann (rs), gostaria de relatar minhas curiosas observações sobre o evento mais celebrado da nossa geração (80 e 90's): a balada.
Antigamente, eu ouvia o termo e me lembrava das canções de antigos menestréis espanhóis ou portugueses, ou de forma menos solene, as canções românticas de artistas do nosso tempo e do tempo das nossas mães, avós... coisas como "F... Comme Femme", ou "Love me, Tender", ou ainda "Michelle".
Salvatore Adamo mostrando sua atraente e elegante voz sem sincronia com o video
Na última sexta-feira foi meu aniversário. Chamei dois amigos e minha irmã para irmos a uma festa de rock (segundo o que anunciavam no site da casa noturna chamada Pista 3, do monopólio carioca Grupo Matriz). Gosto de festas de boa música, você paga, não conhece ninguém, ninguém te convidou, mas isso é igual pra todos... pagou, entrou, bebeu, dançou. Democracia das festas, você não tem que disputar a atenção de algum anfitrião ou rezar para que venham à sua festa.
No ano passado, fui à Casa da Matriz, que tem um ótimo ambiente, espaçoso, toca música boa, (de rock indie-eletro-pop a Creedence Clearwater Revival), e saí 4h30. A casa tem lounge com obras de artistas jovens, fliperama,, duas pistas e cardápio de bebidas variado, incluindo uma elegante renomeação, "Espanhola, para a deliciosa bebida com nome nojento, "Pau na Coxa" (vinho e leite condensado). Ao contrário da matriz (Casa da Matriz, criativo, hein? É que a casa fica na Rua da Matriz, perto da Igreja da Matriz, em Botafogo... qualquer coisa perguntem ao Papa Ratzinger... Andreas!), a Pista 3 é um bunker como qualquer casa noturna feita para as baladas da minha geração em diante: um buraco isolado acusticamente com banheiros minúsculos, um bar para que as pessoas possam encher a cara, uma pista com música ruim (Black Eyed Peas et al) pesada, mas tudo bem para quem já bebeu o bastante, e luzes piscando no breu, onde um monte de gente se amontoa e não podemos ver a cara de quase ninguém. Foi lá que (tentei) celebrei meus 29 anos.
Depois de dois chopps e uma taça de espumante, é possível reduzir seu senso crítico a um nível de rio calmo e perene sem chuva, mas não esvaziá-lo. Você dança meio sem graça a uma música que tem uma batida 2/4 repetitiva e luzes que brilham no fundo da sua retina com uma rapidez, e tantas pessoas sem identidade à sua volta quais fantasmas. Um homem passa mal com a cara numa lixeira. Outros dançam, outros só ficam parados no meio da turba à caça de vítimas. Porque eles se dizem "caçadores". Meu pai dizia: homem tem que trair, porque é caçador. Então, o machismo de homens como meu pobre pai foi recompensado com a humilhação de caçar num aquário preto regado a Absolut. Boa sorte.
Um cara fortinho me encarava e eu sem ânimo para aquele drama tragicômico saí à francesa e fui para o segundo piso, onde havia uma mesa de sinuca. Fiquei numa fila do banheiro onde havia 5 ou 6 meninas falando pelos cotovelos de forma ridícula, bêbadas, com suas maquiagens e roupas dark e pseudo-alternativas saíam pela culatra num espaço de menos de 2 m². Quando voltei à pista, o fortinho havia avançado sobre uma amiga e aparentemente se deram bem. Ufa. Mas quando eu me cria salva, aparece outro fortinho que me tasca um : "queria te conhecer". Aff. Para minha surpresa, ele depois me apresentou ao seu "peguete" (como se diz na gíria carioca super modernosa sobre pessoas com quem se mantém um vínculo sexual momentâneo sem compromissos futuros), para me dizer de forma indireta que ele era gay, e que uma amiga dele gostou muito de mim. Puxa, eu disse, é um elogio, mas não gosto de meninas. E assim seguiu-se a noite, eu levando cantada de meninas, ou de homens bêbados, por outro lado. Não, caro(a) leitor(a), eu não peguei ninguém.
O que mais me espanta na minha geração é a imensa capacidade de eles viverem cenas repetidas e nunca se cansarem. O cara bebe, bebe, e passa mal... aí bebe de novo. A menina fica com um, fica com outro, beija, beija, e fica com mais um. Elas repetem seus padrões de vestir, suas bolsas e sapatos, suas maquiagens, algumas vezes "dark", pois elas têm estilo, não se existe, o estilo existe antes. Os meninos com as mesmas posturas de segurança na frente de supermercado ou de salva-vidas de piscina de clube. E as cantadas... meu Deus, que frases hediondas. A gente tem que rir mesmo, não é simpatia...
Fico com a antiga balada.