Uma das coisas interessantes sobre a Europa, é a pluralidade em termos de características musicais existentes entre um pais e outro. Cada qual carrega sua carga de características regionais embutidas em seu estilo, seja pelo idioma, ou seja por outras influências. Tirando os clássicos mais internacionalizados – e entenda por “clássicos”, o que se convencionou a tocar em todas as FM's pelo mundo afora – dificilmente as musicas seguem um molde pré-definido; ou seja, o que funciona bem em um país não necessariamente irá funcionar tão bem em outro. Assim, é legal perceber que a música contribui também para o clima do lugar aonde você está.
Em minha brevíssima passagem por Paris entre refeições regadas a vinho e camembert, me era impossível não acabar sendo fisgado por algumas músicas que rolavam nas radios. Assim, foi lá que acabei tendo um pouco mais de interesse por pesquisar alguma coisa mais típica. Posso dizer que meu contato com o trabalho da cantora Daphné veio de algumas passagens pelos tuneis do metrô Parisiense, particularmente de um cartaz contendo a propaganda de seu ultimo álbum, “Bleu Venise”. Não é um estilo de música que muitos irão gostar, de qualquer modo deixo registrado por aqui já que fiquei cativado.
Com um leque de influências bastante variado que vão desde The Police, passando pelos trabalhos solos de Sting e indo ao reino do erudito com Purcell e Ravel, a cantora pratica um tipo de música bastante particular ao estilo Parisiense, a chamada “Chanson” - termo derivado do Latim, “Cantio”. As Chanson são definidas pela sua orientação a característica Lirica Francesa, além de algumas influencias de um certo secularismo em suas composições.
Daphné nasceu em Clermont-Ferrand, Puy-de-Dôme e logo cedo se mudou para Paris aonde passou a trabalhar em suas composições e ganhar um certo reconhecimento em círculos musicais mais restritos.
Seu primeiro álbum, “L'émeraude”, é basicamente um trabalho Pop, aonde estão presentes elementos do Tri hop e do mencionado Chanson. Despretenciosa, chama atenção a sua técnica vocal enganadoramente simples pela suavidade imprimida em seu tom. Dona de um timbre suave, macio; ela mostra uma desenvoltura bastante grande na variação dos timbres em que canta suas musicas, mantendo a formula toda com uma coesão impecável. Tal coesão deriva de sua ideia de que a técnica vocal serve principalmente para o transporte das emoções entre o vocalista, e o público. E nisso, ela se mostra bastante bem sucedida.
Embora totalmente intimista, sua temática musical baseia-se no cotidiano sob uma ótica positivista. Ou, em suas próprias palavras, confessa que adoraria poder tocar os corações de pessoas que deixaram de acreditar em seus sonhos e em suas vidas; e que hoje só pensam em fugir de tudo. Bom, sinceramente não sei se ela seria bem sucedida, mas em sua música existe uma sinceridade tocante; coisa bastante rara nos dias de hoje. Ora, aliás, só por isso já acho que vale uma ouvida com calma.
De qualquer modo existem alguns elementos intrigantes em sua música, particularmente em seu ultimo álbum. Embora não de maneira totalmente identificável, existe um “q” meio dark em suas composições. No entanto tais elementos estão tão velados que é difícil dizer o “como” ou o “porquê”, restando apenas aquela sensação, como em uma espécie de ruido de fundo.
De qualquer modo, ótima pedida – para aqueles que gostam de algo diferente – para colocar e escutar sozinhos, sem ninguém por perto para encher o saco...
Vai bem com queijos e vinho.
Entrevista + trechos ao vivo..