domingo, 27 de março de 2011

Daphné - Bleu Venise


Uma das coisas interessantes sobre a Europa, é a pluralidade em termos de características musicais existentes entre um pais e outro. Cada qual carrega sua carga de características regionais embutidas em seu estilo, seja pelo idioma, ou seja por outras influências. Tirando os clássicos mais internacionalizados – e entenda por “clássicos”, o que se convencionou a tocar em todas as FM's pelo mundo afora – dificilmente as musicas seguem um molde pré-definido; ou seja, o que funciona bem em um país não necessariamente irá funcionar tão bem em outro. Assim, é legal perceber que a música contribui também para o clima do lugar aonde você está.

Em minha brevíssima passagem por Paris entre refeições regadas a vinho e camembert, me era impossível não acabar sendo fisgado por algumas músicas que rolavam nas radios. Assim, foi lá que acabei tendo um pouco mais de interesse por pesquisar alguma coisa mais típica. Posso dizer que meu contato com o trabalho da cantora Daphné veio de algumas passagens pelos tuneis do metrô Parisiense, particularmente de um cartaz contendo a propaganda de seu ultimo álbum, “Bleu Venise”. Não é um estilo de música que muitos irão gostar, de qualquer modo deixo registrado por aqui já que fiquei cativado.

Com um leque de influências bastante variado que vão desde The Police, passando pelos trabalhos solos de Sting e indo ao reino do erudito com Purcell e Ravel, a cantora pratica um tipo de música bastante particular ao estilo Parisiense, a chamada “Chanson” - termo derivado do Latim, “Cantio”. As Chanson são definidas pela sua orientação a característica Lirica Francesa, além de algumas influencias de um certo secularismo em suas composições.

Daphné nasceu em Clermont-Ferrand, Puy-de-Dôme e logo cedo se mudou para Paris aonde passou a trabalhar em suas composições e ganhar um certo reconhecimento em círculos musicais mais restritos.

Seu primeiro álbum, “L'émeraude”, é basicamente um trabalho Pop, aonde estão presentes elementos do Tri hop e do mencionado Chanson. Despretenciosa, chama atenção a sua técnica vocal enganadoramente simples pela suavidade imprimida em seu tom. Dona de um timbre suave, macio; ela mostra uma desenvoltura bastante grande na variação dos timbres em que canta suas musicas, mantendo a formula toda com uma coesão impecável. Tal coesão deriva de sua ideia de que a técnica vocal serve principalmente para o transporte das emoções entre o vocalista, e o público. E nisso, ela se mostra bastante bem sucedida.

Embora totalmente intimista, sua temática musical baseia-se no cotidiano sob uma ótica positivista. Ou, em suas próprias palavras, confessa que adoraria poder tocar os corações de pessoas que deixaram de acreditar em seus sonhos e em suas vidas; e que hoje só pensam em fugir de tudo. Bom, sinceramente não sei se ela seria bem sucedida, mas em sua música existe uma sinceridade tocante; coisa bastante rara nos dias de hoje. Ora, aliás, só por isso já acho que vale uma ouvida com calma.

De qualquer modo existem alguns elementos intrigantes em sua música, particularmente em seu ultimo álbum. Embora não de maneira totalmente identificável, existe um “q” meio dark em suas composições. No entanto tais elementos estão tão velados que é difícil dizer o “como” ou o “porquê”, restando apenas aquela sensação, como em uma espécie de ruido de fundo.

De qualquer modo, ótima pedida – para aqueles que gostam de algo diferente – para colocar e escutar sozinhos, sem ninguém por perto para encher o saco...


Vai bem com queijos e vinho.


Entrevista + trechos ao vivo..










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Uma nota perdida na madrugada...


Última madrugada, talvez 3:30 no led do relógio.

Finalizei um livro o qual estava lendo e peguei um pouco em uma caneta para continuar alguns apontamentos e notas pessoais em uma espécie de diário que mantenho a algum tempo.

Tenho me questionado a respeito da maioria das coisas que escrevo por aqui já a algum tempo, bem como a validade das mesmas. Fato é que este blog sobreviveu muito mais do que eu esperava. Não que eu realmente esperasse alguma coisa dele. Mas, 4 anos escrevendo a respeito de uma série de coisas que geralmente são de interesse a um público relativamente restrito e ainda tentar manter um foco não é algo a ser menosprezado. Acho que aí que a coisa pega, quando a coisa deixa de ser um hobby e passamos a nos preocupar demais com a qualidade ou o que as pessoas irão pensar sobre suas opiniões, pontos de vista ou até mesmo a estilística do que você escreve. Tenho me perguntado agora, quando foi que passei a me importar com essas coisas e os porquês disso. A possibilidade deste tipo de reflexão é interessante pois nos leva a algumas respostas que demoramos a enxergar. E uma das que eu procurava – já havia sinalizado isto neste blog algumas vezes – é o fato de que na realidade eu não escrevo para um público. Nunca foi este o meu interesse. Acima de tudo eu escrevo – ou ao menos, deveria – para mim mesmo. Assuntos que me interessam. Assuntos que me encafifam. Assuntos que me irritam. E além da cota que me permito de crises filosófico-existenciais; uma enorme parcela de viagens na maionese descabidas. Porque escrever as coisas que tem aqui dentro é e deve ser antes de tudo um prazer, e não qualquer exercício masturbatório intelectual.

Sim, é isso.

Acredito que no momento que nos colocamos na posição de imaginar se alguém irá se importar com o que escrevemos, é o momento em que o espírito e objetivos iniciais de uma produção constante, se perdem. E se perder nestes termos é algo bem ruim; afinal, se o objetivo é escrever para si mesmo, qual é o ponto de realmente se importar com o que os outros supostamente se interessariam em ler? Isto acaba por se refletir na própria sinceridade que se imprime no texto, ou no caso, a falta dela.

Pois é.

Levando em consideração tais pontos, acredito eu que tal blog se tornou engessado em demasia. Neste caso eu teria duas possibilidades: terminar a reformulação que iniciei mais ou menos no meio do ano passado mas nunca tive saco para levar adiante; ou encerrá-lo de vez. E confesso, foi tentador lidar com a possibilidade de encerrá-lo de vez e recomeçar algo novo, diferente.

De qualquer modo não creio que seja este o caminho, afinal, além de 4 anos não ser algo que simplesmente se jogue fora, tenho lá meus laços pessoais que me prendem a muito do que está escrito aqui. Então, opto por seguir um direcionamento diferente e manter tudo isso mas promover algumas mudanças, aos poucos.

De qualquer modo, deixo aqui registrado um sincero agradecimento aos vários autores que já passaram por aqui; alguns tendo permanecido por maior ou menor período de tempo, e que tendo entendido que por “n” motivos já não tinham muito a contribuir, optaram por seguir outros caminhos. Para vocês, um enorme obrigado e saudações. Por um bom tempo me ajudaram a manter isso aqui vivo. Boa sorte em suas empreitadas.

Sigamos em frente...?