segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

De "A Insustentável Leveza do Ser"



Que ando tomado por uma nostalgia trágica nestes ultimos tempos, sequer preciso mencionar. Ando fugindo de alguns fantasmas do passado que nada mais fazem do que me ancorar a fatos, lugares e pessoas que não mais existem.


- Façam uma experiência: Visitem a escola aonde "cursaram" o primario. De antemão já lhes adianto que a primeira impressão vai ser de que você imaginava que sua classe era um lugar bem maior.


- Assim, se a vida se apresentasse como um imenso novelo de lã; ao término de seu desenrolar - passando por todos os nós; isto é, os "fatos" que teimam em lhe incomodar; perceberia que nossa vida e vivências são de caráter individual. Os "nós" existem, mas na melhor das hipóteses, são nossos e apenas nossos. É por isso que, não perderia meu tempo entrando em contato com minha antiga vizinha que se mudou para Inglaterrra quando adolescente; para tomar um café. Não preciso de pontos de vista monocromaticos acerca dos porquês de nossas vidas, quando em essência; em se tratando de relações humanas funciono de maneira policromática.


Nestes momentos, meu refúgio é obviamente a música e a literatura do melhor quilate. E rebatendo logo de cara certa crítica que lí perdida por aí; definitivamente prefiro Kundera no balanço perfeito entre "ser" escritor e "ser" filósofo. E acrescento ainda o "ser" musicista.


Dizem que Milan Kundera e seu "A Insustentável Leveza do Ser" foi escrito para pessoas aborrecidas, por alguém que estava aborrecido. Bom, seguindo esta lógica sequer quero imaginar em que estava pensando a tal Stephenie "Shakespeare" Meyer ao escrever sua famigerada obra "Crepúsculo".


O senso policromático que permeia todo "A Insustentável Leveza do Ser" possui uma fantástica simbiose entre o niilismo Nietzscheano, em que hora nos arrebata para uma tragicidade misteriosamente leve cujos destinos de Tomas, Tereza, Sabina e Franz estão selados, e hora nos passa a impressão de um diálogo com o próprio Nietzsche em uma esfera onírica. E, em se tratando de sonhos, existe melhor palco do que a Primavera de Praga, momentos antes da invasão Soviética?


Neste palco é explorado de uma maneira elegantemente comovente e triste; temas que possivelmente nas mãos de outro escritor de menor habilidade seria um verdadeiro massacre a paciência. Niilismo, o Mito do Eterno Retorno, a perda de sí mesmo e o principal deles; a contradição entre o "peso" e a "leveza" do ser.


E para nós, fissurados em boa música; a tônica do romance também tem seu pé calcado no famoso "Es muss sein", um dos motivos do quarteto de cordas nº 16 de Beethoven.


Milan Kundera é um autor que domina a arte de contar histórias com maestria impar. Ao mesmo tempo, é um filósofo intrigante. Embora tenha sido a primeira vez que li tal livro; sei que não será a ultima. E bem sei que; por tras de toda a dialética Nietzscheana presente em sua obra, Karenin está a sorrir por todos nós.


Definitivamente e melancólicamente cativante...






























Um comentário:

Cecil disse...

Lindo texto.
Gostei especialmente da parte em que diz que Karenin está a sorrir por todos nós. A inocência dos animais me enche de lágrimas e esperança. O mesmo não posso dizer das pessoas... que no máximo me trazem infinita melancolia.