Que ando tomado por uma nostalgia trágica nestes ultimos tempos, sequer preciso mencionar. Ando fugindo de alguns fantasmas do passado que nada mais fazem do que me ancorar a fatos, lugares e pessoas que não mais existem.
- Façam uma experiência: Visitem a escola aonde "cursaram" o primario. De antemão já lhes adianto que a primeira impressão vai ser de que você imaginava que sua classe era um lugar bem maior.
- Assim, se a vida se apresentasse como um imenso novelo de lã; ao término de seu desenrolar - passando por todos os nós; isto é, os "fatos" que teimam em lhe incomodar; perceberia que nossa vida e vivências são de caráter individual. Os "nós" existem, mas na melhor das hipóteses, são nossos e apenas nossos. É por isso que, não perderia meu tempo entrando em contato com minha antiga vizinha que se mudou para Inglaterrra quando adolescente; para tomar um café. Não preciso de pontos de vista monocromaticos acerca dos porquês de nossas vidas, quando em essência; em se tratando de relações humanas funciono de maneira policromática.
Nestes momentos, meu refúgio é obviamente a música e a literatura do melhor quilate. E rebatendo logo de cara certa crítica que lí perdida por aí; definitivamente prefiro Kundera no balanço perfeito entre "ser" escritor e "ser" filósofo. E acrescento ainda o "ser" musicista.
Dizem que Milan Kundera e seu "A Insustentável Leveza do Ser" foi escrito para pessoas aborrecidas, por alguém que estava aborrecido. Bom, seguindo esta lógica sequer quero imaginar em que estava pensando a tal Stephenie "Shakespeare" Meyer ao escrever sua famigerada obra "Crepúsculo".
O senso policromático que permeia todo "A Insustentável Leveza do Ser" possui uma fantástica simbiose entre o niilismo Nietzscheano, em que hora nos arrebata para uma tragicidade misteriosamente leve cujos destinos de Tomas, Tereza, Sabina e Franz estão selados, e hora nos passa a impressão de um diálogo com o próprio Nietzsche em uma esfera onírica. E, em se tratando de sonhos, existe melhor palco do que a Primavera de Praga, momentos antes da invasão Soviética?
Neste palco é explorado de uma maneira elegantemente comovente e triste; temas que possivelmente nas mãos de outro escritor de menor habilidade seria um verdadeiro massacre a paciência. Niilismo, o Mito do Eterno Retorno, a perda de sí mesmo e o principal deles; a contradição entre o "peso" e a "leveza" do ser.
E para nós, fissurados em boa música; a tônica do romance também tem seu pé calcado no famoso "Es muss sein", um dos motivos do quarteto de cordas nº 16 de Beethoven.
Milan Kundera é um autor que domina a arte de contar histórias com maestria impar. Ao mesmo tempo, é um filósofo intrigante. Embora tenha sido a primeira vez que li tal livro; sei que não será a ultima. E bem sei que; por tras de toda a dialética Nietzscheana presente em sua obra, Karenin está a sorrir por todos nós.
Definitivamente e melancólicamente cativante...
Um comentário:
Lindo texto.
Gostei especialmente da parte em que diz que Karenin está a sorrir por todos nós. A inocência dos animais me enche de lágrimas e esperança. O mesmo não posso dizer das pessoas... que no máximo me trazem infinita melancolia.
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