sábado, 17 de dezembro de 2011
Encerramento do Blog...
Acho que o título desta postagem é bem autoexplicativo.
Nesta madrugada de domingo, dia 18 de dezembro de 2011, eu encerro formalmente as atividades deste blog.
Eu poderia enumerar uma série de motivos para ter optado por este caminho; mas a verdade é que há vários meses seguidos que lido com o fato de ter perdido o tesão em escrever textos para uppar por aqui.
Não há muito a ser dito em relação a isso, fora o fato de que prefiro tomar esta decisão ao invés de me ver na situação da obrigatoriedade de tempos em tempos postar algo aqui que não faz jus as melhores épocas do Vinho & Cigarros.
Muita coisa aconteceu nestes 5 anos de existência deste blog; e a bem da verdade, lhes digo que foi uma grata surpresa a receptividade que tivemos por aqui. Como leitor de blogs similares a este, passando para autor e após, a entrada de alguns outros autores que só vieram a agregar em termos de qualidade e variedade; sei o quanto é difícil encontrar uma página com o conteúdo que esta teve a oferecer.
Graças a este trabalho pelo mais puro prazer do exercício da escrita, música e artes em geral, conheci pessoas maravilhosas - algumas das quais permaneceram em minha vida e outras, por motivo ou outro, decidiram trilhar seus próprios caminhos. Mas cada uma delas, em seus momentos mais pessoais e verdadeiros, deixaram seu brilho e sua marca nesta página.
Portanto, eu gostaria de deixar aqui um sincero agradecimento a quem me ajudou a dar vida a esta página por alguns anos seguidos:
Bárbara C. - por me ter sido uma inspiração bem como fonte de aprendizado em relação a música e ao Cello, e também - mesmo que ela não soubesse disso - ter me ajudado em um dos momentos mais barra pelo qual passei nos anos em que morei em São Paulo; seja com palavras ou seja com o seu exemplo sobre como viver a vida de maneira leve. Ela tem a vida e paixão de seus olhos refletidas na graça e suavidade cativantes de suas arcadas precisas e elegantes..
Ao grande Chico Mouse, que topou a empreitada de me seguir na escrita deste blog e me acompanhou por alguns anos, contribuindo enormemente com suas experiências práticas em relação ao Cello e seus pedais; mesmo que eu ainda desconfie que o Acre seja lenda! A-rá!! rs Um enorme abraço para tí, meu caro!
A Cecília, que por alguns meses deu uma contribuição fantástica a estas páginas; trazendo toda a graça e charme de sua escrita; sensibilidade em suas palavras, eloquência em suas idéias e um senso incrível de acidez literária que só ela é capaz. Acaso esteja lendo tais palavra; você é foda! tiro meu chapéu para você!!
A Nathalia, essa pentelha contrabaixística que apareceu do nada e que tive o prazer de acompanhar desde início de sua caminhada musical; suas duvidas sobre o que prestar no vestibular, até sua decisão de se entregar de vez a nossa paixão; a música! Você é uma graça, mocinha! :)
E agradeço principalmente a todos vocês, que acompanharam as reclamações, divagações, viagens na maionese, pirações e momentos total nonsense; todas regadas a bons vinhos.. E também - baratos, porquê não? - em momentos da mais genuína boemia.
O Blog está encerrado, mas não morto; na medida do possível ainda corrigirei links quebrados caso me peçam... E procurarei responder a dúvidas, caso perguntem.. No entanto, infelizmente não mais com a mesma frequência de antes.
Quem sabe um dia, voltarei a sentir tesão na escrita? Pois do futuro, nada sabemos... E aí reside parte da beleza da coisa toda; somos livres para fazermos o que der na telha!
Portanto pessoas; um brinde a todos nós!! muita música!! Muito vinho!! E acendam seus cigarros em desafio a essa estúpida época do politicamente correto!! E celebremos, pois lá fora já nasce um novo dia!!
E assim me despeço;
Um enorme abraço a todos!!
Andreas M.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Uma Névoa Flutua Sobre A Realidade
“Uma pardacenta ilusão submerge toda a cidade - e com espanto se encontra numa taverna, quem julgara penetrar num templo. Ora para a maioria dos espíritos uma névoa igual flutua sobre as realidades da Vida e do Mundo. Daí vem que quase todos os seus passos são transvios, quase todos os seus juízos são enganos; e estes constantemente estão trocando o templo e a taverna. Raras são as visões intelectuais bastante agudas e poderosas para romper através da neblina e surpreender as linhas exatas, o verdadeiro contorno da realidade.”
- Eça de Queirós
Ando um tanto afastado de todas as atividades relacionadas a produção ligadas a artes. No momento, qualquer coisa ligado a criação tem sempre evocado uma simples pergunta: “Para quê?”
Imerso em pensamentos, quase todos relacionados a busca por alguma resposta sobre o porquê vivermos determinadas coisas, me soam um tanto infrutíferas. Sempre retorno ao “Para quê?”
Assim, parte do brilho, das cores, e inclusive da sonoridade das coisas, andam um tanto embotadas.. Sem brilho, sem cores e dotados de ruídos apenas.
Sim, a música não tem me soado como antes, são raras as coisas que escuto no momento, que me trazem algum alento ou paz.
Tenho escrito muito em meu diário pessoal, em sua grande maioria, textos divagativos acerca de algumas questões que há muito se encontram em aberto comigo mesmo. Mas é estranho, pois cheguei em um ponto no qual me foge inclusive, qual é a pergunta.
Tenho vivido em uma espécie de estado onírico, em que os sonhos da noite permeiam a minha realidade desperta; dotando tudo ao meu redor, com uma textura que remete ao onirismo noturno. Oneiros, Oneiros. (ou Oneiroi- em grego Όνειροι, Sonhos), filho da noite. A que tudo e a todos cobre com suas longas mantas escuras e espessas. - Não consigo deixar de lado a nítida sensação de que todos estamos de fato, vivendo uma espécie de sonho alheio.
Sei que um de nossos objetivos por aqui é assumir as rédeas de nossa própria concepção de realidade no sentido pleno da palavra conceber. Cabe a nós. Somos donos do que desejamos e criamos. E somos responsáveis por tal criação. Vem daí essa espécie de crença que afora a questão das realidade coletiva a qual todos compartilhamos, também vivemos quase em nossa totalidade do tempo, presos a uma realidade pessoal; esta, muito mais bizarra do que podemos de fato nos dar conta. Talvez, sequer queiramos nos dar conta disso, de qualquer modo.
Enfim, apenas divagando um pouco. Bem por aí o teor do que escrevo em minhas páginas pessoais.
“Para quê?”
- Sigo me perguntando, enquanto os dias se passam preguiçosos ao mesmo tempo que apressados...
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Quando seguimos em frente...
13.
ERA UMA DESSAS MANHÃS às portas do outono em que a lua conseguia sobreviver ao dia. O sol não aparecia no céu: ele penetrava delicadamente todas as individualidades naturais e urbanas, transpirava em pétalas de flores, edificações antigas e rostos extenuados de passantes.
No holocausto fecundo do tempo que passa, floresciam para os olhos traumatizáveis os únicos verdadeiros edens, aqueles cuja arquitetura se constrói a partir de sensações.
Neste domingo de manhã, Antoine despertou às oito horas. Em meio às ondas entre mescladas que separam o sono da vigília, tinha-lhe parecido ouvir uma canção.
Espreguiçando-se, ele se ergueu. Após ter posto água para esquentar, tomou uma ducha. Uma vez completada a infusão do chá, permaneceu por um instante a olhar o líquido verde e fumegante diante da sua janela. Num galho, um passarinho parecia fazer pose para o álbum da memória de Antoine; o sol de verão exalava um flash permanente na atmosfera. Sem beber uma gota do seu chá, ele pousou a xícara diante da janela e saiu do seu conjugado.
Caminhou até o parque de Montreuil, imiscuindo-se entre os carros e os passantes. Andava depressa, livre de amarras, os cabelos em revolta ainda úmidos. A esta hora, o parque estava praticamente deserto: velhos passeavam, mulheres arejavam os filhos, uma pintora com um chapelão erguera seu cavalete sobre a grama.
Antoine olhou na mesma direção e, durante um momento, não viu nada, mas, estreitando os olhos, observando atentamente, percebeu uma mulher jovem precisamente diante dele. Ela perscrutou Antoine, inclinou a cabeça, abaixou-se para examiná-lo como se ele fosse uma escultura e por fim lhe estendeu a mão. Por reflexo de cortesia, Antoine apertou-lhe a mão. Ele quis falar, mas a mulher lhe pôs um dedo sobre os lábios e fez sinal para que se levantasse e a seguisse. Eles afastaram-se do banco e do velho.
- Eles se parecem com quem?
- De qualidade superior... Você parece estar falando de um presunto.
- E você come os seus amigos?
- O meu agente se esqueceu de me mandar a continuação do script. Então... por quê?
- Por que o quê? - perguntou ela fazendo-se de assombrada de maneira muito convincente.
- Eles mofaram. Eu não tinha reparado em que eles tinham prazo de validade. É preciso prestar atenção a isso. Os meus amigos começaram a ter traços de apodrecimento, manchas verdes muitíssimo repugnantes. O que eles diziam começava a verdadeiramente cheirar mal...
- Sim, eles teriam podido causar-me uma intoxicação.
- Não, não houve necessidade, eles se projetaram sozinhos em suas vidas enfermiças.
- Perdoe-me, porém esse não é o seu texto: você deveria ter dito:
- Surgem improvisos de última hora no próprio palco.
A moça parou subitamente e deu um tapa na testa. Ela encarou Antoine, parecendo arrasada, com os olhos arregalados.
-Você sabe - respondeu Antoine detendo-a -, a gente poderia fazer umas anotações para garantir a continuidade. É isso que se chama fazer montagem.
Eles caminharam pelas pequenas alamedas do parque, sobre a relva, olhando as árvores, os pássaros. O tempo estava ameno, o ar tinha uma cor clara e quase cintilante. Nunca o mês de setembro tinha sido tão agradável; ele ignorava ingenuamente o outono que se aproximava, permanecia altivo, de pé, esbanjava as derradeiras forças do verão como se elas fossem infinitas.
- Muito prazer - respondeu Antoine com um tom jovial. - E eu me chamo Antoine.
- Eu dizia que você é severa.
- Eu tento, mas é difícil.
- Lacenaire dizia que os únicos que estão capacitados para julgar são os condenados.
- Por exemplo?
onde queira, desfrutar da cidade: os automóveis condenam a minha liberdade. E eles são fétidos, são perigosos...
- Estou de acordo. Os automóveis são uma calamidade.
- Outra coisa - disse Clémence. - A meu ver, a grande divisão do mundo, bem, à parte todo esse negócio de classes sociais, a grande divisão do mundo é entre os que vão às festas e os que não vão. E esta divisão da humanidade, que data da época do colégio, persiste toda a vida sob outras formas.
- Eu tampouco. Eles tinham medo, porque eu dizia o que pensava e eu pensava muito mal dos meus colegas. Eu detestava quase todo o mundo.
- Ou então vamos somente para comer salgadinhos e tomar garrafas de Orangina.
- E acabaremos com eles com tacos de golfe, é mais elegante.
Discutindo tudo isso, eles deixaram o parque. Caminhavam lado a lado, Clémence saltitava, colhia flores, perseguia os pássaros para tocá-los.
- Por que a gente não teria o direito de criticar, de achar certas pessoas babacas e fracas, sob pretexto de que teríamos um clima pesado e ciumento? Todo o mundo se comporta como se fôssemos todos iguais, como se fôssemos todos ricos, educados, poderosos, brancos, jovens, belos, machos, felizes, como se todos estivéssemos com boa saúde, como se todos tivéssemos um carrão... Mas isso, obviamente, não é verdade. Por isso, tenho o direito de gritar, de estar de mau humor, de não sorrir idiotamente todo o tempo, de dar a minha opinião quando vejo coisas não normais e injustas, e até de insultar as pessoas. Tenho o direito de protestar.
- Estou de acordo, mas... isso é fatigante. Podemos fazer isso de um jeito melhor, não?
- Você tem razão - concedeu Clémence.
- E idiota gastarmos toda a nossa energia com coisas com as quais não vale a pena gastá-la. Mais vale guardarmos as nossas forças para nos divertir.
- E para passear na margem do rio.
- Passear na margem do rio... Isso é de uma canção, não?
- Feche os olhos - pediu-lhe ela. - Eu tenho uma surpresa para você.
Antoine fechou os olhos. Um vento leve e quente eriçou os cabelos dos dois jovens. Clémence conduziu Antoine puxando-o pelo braço; ela o levou para o meio da rua. A uns cem metros, vinha um veículo negro.
- Bem, você já pode abrir os olhos.
- Clémence, está vindo aí um automóvel negro - constatou tranqüilamente Antoine.
-Você prometeu que teria toda a confiança em mim.
- Ah, sim, eu esqueci de lhe pedir que tivesse toda a confiança em mim. Tenha confiança em mim, certo?
- Jure que você vai ter toda a confiança em mim e pare de gemer, seu medroso. Você não deve mexer-se, isso é muito importante.Jure.
O carro estava já a não mais de trinta metros, a sua buzina urrava para que os dois jovens saíssem do meio da rua. Antoine e Clémence não se mexiam, os passantes olhavam para eles. No penúltimo instante, Clémence puxou Antoine pelo braço e eles caíram na calçada. O carro negro passou resmungando ferozmente e arreganhando-lhes os dentes.
- Eu acho que já tive suficientes emoções por hoje.
- Sim, tenho, é isso, senão corro o risco de morrer de overdose. E não me diga que as overdoses de emoções são geniais, porque não estou acostumado a elas.
explicou a Antoine em que consistia essa brincadeira: eles tinham de se conduzir como fantasmas, olhar fixamente para as pessoas nas terrasses dos cafés, passear pelas ruas e pelas lojas ruidosas, ulular, flanar valendo-se da sua invisibilidade, conduzir-se como se tivessem desaparecido dos olhos do mundo. Agitando as suas correntes e levantando os braços de maneira aterrorizadora, Clémence e Antoine começaram a assombrar a cidade.
MARTIN
"Como me tornei estúpido" Martin Page Tradução - Carlos Nougué / Ed. Rocco
Título Original “Comment Je Suis Devenu Stupide”
domingo, 27 de março de 2011
Daphné - Bleu Venise
Uma das coisas interessantes sobre a Europa, é a pluralidade em termos de características musicais existentes entre um pais e outro. Cada qual carrega sua carga de características regionais embutidas em seu estilo, seja pelo idioma, ou seja por outras influências. Tirando os clássicos mais internacionalizados – e entenda por “clássicos”, o que se convencionou a tocar em todas as FM's pelo mundo afora – dificilmente as musicas seguem um molde pré-definido; ou seja, o que funciona bem em um país não necessariamente irá funcionar tão bem em outro. Assim, é legal perceber que a música contribui também para o clima do lugar aonde você está.
Em minha brevíssima passagem por Paris entre refeições regadas a vinho e camembert, me era impossível não acabar sendo fisgado por algumas músicas que rolavam nas radios. Assim, foi lá que acabei tendo um pouco mais de interesse por pesquisar alguma coisa mais típica. Posso dizer que meu contato com o trabalho da cantora Daphné veio de algumas passagens pelos tuneis do metrô Parisiense, particularmente de um cartaz contendo a propaganda de seu ultimo álbum, “Bleu Venise”. Não é um estilo de música que muitos irão gostar, de qualquer modo deixo registrado por aqui já que fiquei cativado.
Com um leque de influências bastante variado que vão desde The Police, passando pelos trabalhos solos de Sting e indo ao reino do erudito com Purcell e Ravel, a cantora pratica um tipo de música bastante particular ao estilo Parisiense, a chamada “Chanson” - termo derivado do Latim, “Cantio”. As Chanson são definidas pela sua orientação a característica Lirica Francesa, além de algumas influencias de um certo secularismo em suas composições.
Daphné nasceu em Clermont-Ferrand, Puy-de-Dôme e logo cedo se mudou para Paris aonde passou a trabalhar em suas composições e ganhar um certo reconhecimento em círculos musicais mais restritos.
Seu primeiro álbum, “L'émeraude”, é basicamente um trabalho Pop, aonde estão presentes elementos do Tri hop e do mencionado Chanson. Despretenciosa, chama atenção a sua técnica vocal enganadoramente simples pela suavidade imprimida em seu tom. Dona de um timbre suave, macio; ela mostra uma desenvoltura bastante grande na variação dos timbres em que canta suas musicas, mantendo a formula toda com uma coesão impecável. Tal coesão deriva de sua ideia de que a técnica vocal serve principalmente para o transporte das emoções entre o vocalista, e o público. E nisso, ela se mostra bastante bem sucedida.
Embora totalmente intimista, sua temática musical baseia-se no cotidiano sob uma ótica positivista. Ou, em suas próprias palavras, confessa que adoraria poder tocar os corações de pessoas que deixaram de acreditar em seus sonhos e em suas vidas; e que hoje só pensam em fugir de tudo. Bom, sinceramente não sei se ela seria bem sucedida, mas em sua música existe uma sinceridade tocante; coisa bastante rara nos dias de hoje. Ora, aliás, só por isso já acho que vale uma ouvida com calma.
De qualquer modo existem alguns elementos intrigantes em sua música, particularmente em seu ultimo álbum. Embora não de maneira totalmente identificável, existe um “q” meio dark em suas composições. No entanto tais elementos estão tão velados que é difícil dizer o “como” ou o “porquê”, restando apenas aquela sensação, como em uma espécie de ruido de fundo.
De qualquer modo, ótima pedida – para aqueles que gostam de algo diferente – para colocar e escutar sozinhos, sem ninguém por perto para encher o saco...
Vai bem com queijos e vinho.
Entrevista + trechos ao vivo..
Uma nota perdida na madrugada...
Última madrugada, talvez 3:30 no led do relógio.
Finalizei um livro o qual estava lendo e peguei um pouco em uma caneta para continuar alguns apontamentos e notas pessoais em uma espécie de diário que mantenho a algum tempo.
Tenho me questionado a respeito da maioria das coisas que escrevo por aqui já a algum tempo, bem como a validade das mesmas. Fato é que este blog sobreviveu muito mais do que eu esperava. Não que eu realmente esperasse alguma coisa dele. Mas, 4 anos escrevendo a respeito de uma série de coisas que geralmente são de interesse a um público relativamente restrito e ainda tentar manter um foco não é algo a ser menosprezado. Acho que aí que a coisa pega, quando a coisa deixa de ser um hobby e passamos a nos preocupar demais com a qualidade ou o que as pessoas irão pensar sobre suas opiniões, pontos de vista ou até mesmo a estilística do que você escreve. Tenho me perguntado agora, quando foi que passei a me importar com essas coisas e os porquês disso. A possibilidade deste tipo de reflexão é interessante pois nos leva a algumas respostas que demoramos a enxergar. E uma das que eu procurava – já havia sinalizado isto neste blog algumas vezes – é o fato de que na realidade eu não escrevo para um público. Nunca foi este o meu interesse. Acima de tudo eu escrevo – ou ao menos, deveria – para mim mesmo. Assuntos que me interessam. Assuntos que me encafifam. Assuntos que me irritam. E além da cota que me permito de crises filosófico-existenciais; uma enorme parcela de viagens na maionese descabidas. Porque escrever as coisas que tem aqui dentro é e deve ser antes de tudo um prazer, e não qualquer exercício masturbatório intelectual.
Sim, é isso.
Acredito que no momento que nos colocamos na posição de imaginar se alguém irá se importar com o que escrevemos, é o momento em que o espírito e objetivos iniciais de uma produção constante, se perdem. E se perder nestes termos é algo bem ruim; afinal, se o objetivo é escrever para si mesmo, qual é o ponto de realmente se importar com o que os outros supostamente se interessariam em ler? Isto acaba por se refletir na própria sinceridade que se imprime no texto, ou no caso, a falta dela.
Pois é.
Levando em consideração tais pontos, acredito eu que tal blog se tornou engessado em demasia. Neste caso eu teria duas possibilidades: terminar a reformulação que iniciei mais ou menos no meio do ano passado mas nunca tive saco para levar adiante; ou encerrá-lo de vez. E confesso, foi tentador lidar com a possibilidade de encerrá-lo de vez e recomeçar algo novo, diferente.
De qualquer modo não creio que seja este o caminho, afinal, além de 4 anos não ser algo que simplesmente se jogue fora, tenho lá meus laços pessoais que me prendem a muito do que está escrito aqui. Então, opto por seguir um direcionamento diferente e manter tudo isso mas promover algumas mudanças, aos poucos.
De qualquer modo, deixo aqui registrado um sincero agradecimento aos vários autores que já passaram por aqui; alguns tendo permanecido por maior ou menor período de tempo, e que tendo entendido que por “n” motivos já não tinham muito a contribuir, optaram por seguir outros caminhos. Para vocês, um enorme obrigado e saudações. Por um bom tempo me ajudaram a manter isso aqui vivo. Boa sorte em suas empreitadas.
Sigamos em frente...?
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
LelleBelle - Intertextualidade Música & Erotismo
A beleza de se estar fora de seu país de origem – por mais contraditório que isto seja em meu caso pois hoje percebo que se não sou Brasileiro, tampouco sou Alemão, percebo – é a súbita noção de que outras realidades são possíveis. Reais. Pequenos, habitados. Outros, imensos, maravilhosos, além deles. O quão somos limitados e precisamos aprender a voar. Alguns não se dão conta do quão é ruim estar confinado em um lugar minúsculo quando se há outros em que se pode estar; apenas sentem uma espécie de ruido de fundo de que algo não vai bem no reino do “eu”.
Estendendo o raciocínio, geralmente o “eu” liga-se ao “ser”, e o “não ser” o que sabe-se que poderia ser; leva a imobilidade mórbida, a incapacidade de se mover adiante por se perder dentro de si mesmo. Geralmente esta é a hora em que devemos sacudir a poeira, levantar âncoras e partir para algum lugar distante, preferencialmente algum no qual você não seja constantemente lembrado de onde estão suas origens. Estas, vem depois, quando todas as feridas já não sangram e você pode olhar para elas sem se surpreender. Vejam, a vida é um encadeamento de eventos racionais; e muitos deles infelizmente estão fora de nosso controle.
Quando embarquei para o velho continente tinha uma ideia fixa na cabeça, o não voltar mais ao país em que parte da população é o sal da terra. Já longe, distante, percebi -mesmo que inconscientemente - várias correlações entre o velho e o novo continente, em se tratando de hábitos que justificam o “jeito de ser” Brasileiro. Vejam, não digo que me tornei mais tolerante em relação ao que ocorre aí. Apenas adquiri um novo ponto de vista, percepção; menos embasado no passional e mais no racional.
E em se tratando de passionalidade, sou uma destas por natureza. Não faço nada que não seja de maneira apaixonada. E como tal, me apaixono tão facilmente quanto costumo me desiludir. É assim com pessoas, hobbys, gostos, percepções, pontos de vista enfim; a lista é enorme.
Quando embarquei em idos de outubro inicialmente para Roma, andava desacreditado em relação a música, levantando questões relacionadas ao “o que é a música” afinal. É uma manifestação artística? A música “pode” ou “deve” ser considerada arte?
Transitava pelo “deve”. Tempos depois, me virei para o “pode”. Hoje, por mais polêmica que tal posição possa soar; lhes digo que em minha humilde opinião a música enquanto em fase embrionária não é arte, é comunicação subjetiva; o diálogo entre o “eu” e o “eu mesmo”. Isso não é arte. Na verdade é algo além da arte, de cunho extremamente íntimo. Já a música quando produto final, “pode” ser considerada arte, mas não necessariamente o é. Há músicas e músicas. Músicas boas, sinceras. Música pastiche. Música feita para vender. Músicas pífias com trejeitos cool travestidas de intelectualismo pobre. E logicamente, a música-diversão; tão descartável quanto um cotonete usado por alguém que não limpa as orelhas há uma quinzena de dias ou mais.
- Bom, quem sou eu afinal para julgar o gosto alheio...? Viva a pluralidade do ser! - Contanto que não nos encham o saco, regrinha básica para a boa convivência.
Tal encadeamento de ideias foi engatilhada por um singelo filme experimental Holandês chamado LelleBelle.
Não sou cinéfilo e tampouco saberia classificar qual é a deste filme. História previsível, na verdade uma bela diversão em uma sessão Coca Cola & Pipocas quando não se espera nada ou na falta de algo melhor para se fazer. No entanto existe as entrelinhas; estas, tão subjetivas que não ouso dizer o que se passou pela cabeça das diretoras Mischa Kamp ao decidirem filmarem isso.
E são justamente tais entrelinhas que me fizeram retomar tais questões relacionadas a essência do que é a música e o ato da sua produção enquanto não comércio.
LelleBelle embora um filme previsível com uma fotografia bonita e atores tanto quanto; possui uma intertextualidade interessante. Música & Sexo.
Um aviso: Existem cenas explícitas neste filme. Embora todas bastante contextualizadas, naturalmente os mais puritanos tenderão a se chocar, como o fizeram em “O Anticristo” ou então “Lie with Me”. Particularmente não me incomodo.
Retornemos ao que me intriga. A intertextualidade Sexo & Música.
Sábia a decisão da direção manter a distancia os diálogos das cenas relacionadas a música e as cenas relacionadas ao Sexo. De tal maneira, temos uma espécie de tríade em que cada um dos elementos influenciam uns aos outros sem jamais interagirem de maneira direta, objetiva. Cria-se assim elementos que se relacionam-se uns aos outros, mas não caem no pastiche de um filme erótico por exemplo. Não posso dizer se a interpretação minha para o filme é a correta visto que foi a leitura que tive da obra. Mas me faz sentido.
A excitação que a violinista interpretada bela atriz Anna Raadsveld sente em determinadas situações e que é gatilho para a realização de algumas performances dignas de aplauso – ao menos no filme - possuem de fato uma mensagem bastante forte: Música deve ser excitação. Música tem mais a ver com sexo do que com arte. A música enquanto execução é passional. E a falta da passionalidade é a mecanização da música. E a música mecanizada não é música. (existem discussões a respeito, lógico.)
E eis a sina da personagem Belle neste filme: O amadurecimento de uma jovem violinista cuja única paixão é a música; com pretensões de ingressar em uma famosa academia de música, tem seus esforços minados pela sua própria frigidez em relação a própria vida e relações interpessoais.
A evolução de Belle enquanto violinista está atrelada a suas próprias vivências; varias delas calculadas mas sem o resultado esperado, que a leva a uma montanha russa ora dramáticas, ora cômicas. Não impressiona; tal montanha russa é a parte previsível do filme. Lembrem-se do que disse acima. Impressiona as entrelinhas, para quem puder de fato captá-las.
Um filme excitante pelas cenas. Conteúdo inusitado para aqueles que querem observar a dinâmica entre músico & instrumento e são intrigados por isso.
Sexy.
Muito sexy.
LelleBelle - Trailer
Aos que desejarem conferir...
(Legendas em Inglês)
http://www.filesonic.com/file/60258311/Lellebelle_2010_DVDRip_with_E-Sub.part1.rar
http://www.filesonic.com/file/60258289/Lellebelle_2010_DVDRip_with_E-Sub.part2.rar
http://www.filesonic.com/file/60258787/Lellebelle_2010_DVDRip_with_E-Sub.part3.rar
http://www.filesonic.com/file/60254567/Lellebelle_2010_DVDRip_with_E-Sub.part4.rar
http://www.filesonic.com/file/60258436/Lellebelle_2010_DVDRip_with_E-Sub.part5.rar