terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

LelleBelle - Intertextualidade Música & Erotismo

A beleza de se estar fora de seu país de origem – por mais contraditório que isto seja em meu caso pois hoje percebo que se não sou Brasileiro, tampouco sou Alemão, percebo – é a súbita noção de que outras realidades são possíveis. Reais. Pequenos, habitados. Outros, imensos, maravilhosos, além deles. O quão somos limitados e precisamos aprender a voar. Alguns não se dão conta do quão é ruim estar confinado em um lugar minúsculo quando se há outros em que se pode estar; apenas sentem uma espécie de ruido de fundo de que algo não vai bem no reino do “eu”.

Estendendo o raciocínio, geralmente o “eu” liga-se ao “ser”, e o “não ser” o que sabe-se que poderia ser; leva a imobilidade mórbida, a incapacidade de se mover adiante por se perder dentro de si mesmo. Geralmente esta é a hora em que devemos sacudir a poeira, levantar âncoras e partir para algum lugar distante, preferencialmente algum no qual você não seja constantemente lembrado de onde estão suas origens. Estas, vem depois, quando todas as feridas já não sangram e você pode olhar para elas sem se surpreender. Vejam, a vida é um encadeamento de eventos racionais; e muitos deles infelizmente estão fora de nosso controle.

Quando embarquei para o velho continente tinha uma ideia fixa na cabeça, o não voltar mais ao país em que parte da população é o sal da terra. Já longe, distante, percebi -mesmo que inconscientemente - várias correlações entre o velho e o novo continente, em se tratando de hábitos que justificam o “jeito de ser” Brasileiro. Vejam, não digo que me tornei mais tolerante em relação ao que ocorre aí. Apenas adquiri um novo ponto de vista, percepção; menos embasado no passional e mais no racional.

E em se tratando de passionalidade, sou uma destas por natureza. Não faço nada que não seja de maneira apaixonada. E como tal, me apaixono tão facilmente quanto costumo me desiludir. É assim com pessoas, hobbys, gostos, percepções, pontos de vista enfim; a lista é enorme.

Quando embarquei em idos de outubro inicialmente para Roma, andava desacreditado em relação a música, levantando questões relacionadas ao “o que é a música” afinal. É uma manifestação artística? A música “pode” ou “deve” ser considerada arte?

Transitava pelo “deve”. Tempos depois, me virei para o “pode”. Hoje, por mais polêmica que tal posição possa soar; lhes digo que em minha humilde opinião a música enquanto em fase embrionária não é arte, é comunicação subjetiva; o diálogo entre o “eu” e o “eu mesmo”. Isso não é arte. Na verdade é algo além da arte, de cunho extremamente íntimo. Já a música quando produto final, “pode” ser considerada arte, mas não necessariamente o é. Há músicas e músicas. Músicas boas, sinceras. Música pastiche. Música feita para vender. Músicas pífias com trejeitos cool travestidas de intelectualismo pobre. E logicamente, a música-diversão; tão descartável quanto um cotonete usado por alguém que não limpa as orelhas há uma quinzena de dias ou mais.

- Bom, quem sou eu afinal para julgar o gosto alheio...? Viva a pluralidade do ser! - Contanto que não nos encham o saco, regrinha básica para a boa convivência.

Tal encadeamento de ideias foi engatilhada por um singelo filme experimental Holandês chamado LelleBelle.

Não sou cinéfilo e tampouco saberia classificar qual é a deste filme. História previsível, na verdade uma bela diversão em uma sessão Coca Cola & Pipocas quando não se espera nada ou na falta de algo melhor para se fazer. No entanto existe as entrelinhas; estas, tão subjetivas que não ouso dizer o que se passou pela cabeça das diretoras Mischa Kamp ao decidirem filmarem isso.

E são justamente tais entrelinhas que me fizeram retomar tais questões relacionadas a essência do que é a música e o ato da sua produção enquanto não comércio.

LelleBelle embora um filme previsível com uma fotografia bonita e atores tanto quanto; possui uma intertextualidade interessante. Música & Sexo.

Um aviso: Existem cenas explícitas neste filme. Embora todas bastante contextualizadas, naturalmente os mais puritanos tenderão a se chocar, como o fizeram em “O Anticristo” ou então “Lie with Me”. Particularmente não me incomodo.

Retornemos ao que me intriga. A intertextualidade Sexo & Música.

Sábia a decisão da direção manter a distancia os diálogos das cenas relacionadas a música e as cenas relacionadas ao Sexo. De tal maneira, temos uma espécie de tríade em que cada um dos elementos influenciam uns aos outros sem jamais interagirem de maneira direta, objetiva. Cria-se assim elementos que se relacionam-se uns aos outros, mas não caem no pastiche de um filme erótico por exemplo. Não posso dizer se a interpretação minha para o filme é a correta visto que foi a leitura que tive da obra. Mas me faz sentido.

A excitação que a violinista interpretada bela atriz Anna Raadsveld sente em determinadas situações e que é gatilho para a realização de algumas performances dignas de aplauso – ao menos no filme - possuem de fato uma mensagem bastante forte: Música deve ser excitação. Música tem mais a ver com sexo do que com arte. A música enquanto execução é passional. E a falta da passionalidade é a mecanização da música. E a música mecanizada não é música. (existem discussões a respeito, lógico.)

E eis a sina da personagem Belle neste filme: O amadurecimento de uma jovem violinista cuja única paixão é a música; com pretensões de ingressar em uma famosa academia de música, tem seus esforços minados pela sua própria frigidez em relação a própria vida e relações interpessoais.

A evolução de Belle enquanto violinista está atrelada a suas próprias vivências; varias delas calculadas mas sem o resultado esperado, que a leva a uma montanha russa ora dramáticas, ora cômicas. Não impressiona; tal montanha russa é a parte previsível do filme. Lembrem-se do que disse acima. Impressiona as entrelinhas, para quem puder de fato captá-las.

Um filme excitante pelas cenas. Conteúdo inusitado para aqueles que querem observar a dinâmica entre músico & instrumento e são intrigados por isso.

Sexy.

Muito sexy.



LelleBelle - Trailer











Aos que desejarem conferir...
(Legendas em Inglês)

http://www.filesonic.com/file/60258311/Lellebelle_2010_DVDRip_with_E-Sub.part1.rar
http://www.filesonic.com/file/60258289/Lellebelle_2010_DVDRip_with_E-Sub.part2.rar
http://www.filesonic.com/file/60258787/Lellebelle_2010_DVDRip_with_E-Sub.part3.rar
http://www.filesonic.com/file/60254567/Lellebelle_2010_DVDRip_with_E-Sub.part4.rar
http://www.filesonic.com/file/60258436/Lellebelle_2010_DVDRip_with_E-Sub.part5.rar


Um comentário:

Hérika Maria disse...

Eu acabei de ver o filme e encontrei seu blog justamente porque queria saber se assim como eu, outras pessoas adoraram a vibração desse filme.
Incrível que digitando "LelleBelle" no "tudo sabe", as palavras destaques foram:música, sexo, drama, conflito, vinho, cigarro, mais música e mais sexo.
Creio que vc amiga, está coberto de razão, desde a apreciação do filme, até o que disse de música ser passional, e bem..digo que música é prazer, é algo hedonista. É sexo também, mas prazer não é só isso, mesmo assim, praticamente tudo que fazemos quando adultos - quando se tem busca por prazer - se tem sexo incluído. Seja ele físico, seja ele apenas um querer contido.
Adorei o blog!