Em épocas de garoa insistente bem como a velha e boa melancolia que teima em não me dar descanso, tenho me chafurdado em alguns bons e desconhecidos estilos musicais.
Músicas que inspiram uma certa boemia acompanhada pelos mais insensatos vinhos baratos descobri por estes tempos os fabulosos trabalhos de uma veia intitulada “Goth-Folk” ou “Dark-Folk”. Não é exatamente o instrumental que chama a atenção do “todo”, mas sim, os detalhes simplistas que não sobrecarregam a obra – o foco quando não a voz e o simples dedilhar dos violões passa a ser as texturas sonoras bem como os climinhas. Tudo muito clean, sem exageros.
Marissa Nadler definitivamente está entre o meu “Top 3” deste ano, e seu “Little Hells” tem me propiciado companhia constante em minha vida cotidiana. É interessante a sua capacidade de pintar pequenas peças poéticas em forma de música; ela e seu violão, bem como igualmente interessante o “como” a voz dela não raro se funde ao timbre das cordas. Em uma primeira audição tendemos a pensar em como esteticamente dizendo, sua musica soa simples. Mas tal simplicidade é enganadora. Suas melodias, seus vocais, são compostos de maneira totalmente esparsa, nos inspira calma, e é característica comum, uma sensação de que tais músicas são assombradas por um passado infeliz – Mesmo que tal “passado infeliz” nada mais seja do que uma criação ficcional, uma espécie de terapia em forma de música por parte da autora.
Esta foi uma musicista em cujos trabalhos fui a fundo. Soa-me cativante os temas que ela geralmente explora – uma certa característica obsessiva relacionada à morbidez dos relacionamentos diários, a tristeza inerente à alma, bem como o velar de maneira elegantemente bela e cheio de lirismo. Para alguns tudo isso seria um tanto quanto perturbador; enquanto que para outros, meramente chato.
Comparativamente, o “Little Hells” não é um trabalho tão sombrio quanto seus antecessores, mas tampouco pode ser considerado menos melancólico. Já era algo de se esperar visto a personalidade da própria musicista – quem se da ao trabalho de pescar alguma entrevista dela sabe que ela não é exatamente uma pessoa radiante; é apenas uma pessoa que prefere estar em contato com um lado mais sombrio da vida e é uma musicista talentosa o suficiente para transformar com maestria tais contatos, em pequenas pérolas cujas emoções chegam a ser palpáveis para um ouvinte mais atento.
Em um primeiro momento tinha sentido uma certa falta do acompanhamento sutil da Cellista Helena Espvall (Espers) e o uso mais freqüente de Synths bem como flerte para o eletrogoth oitentista; no entanto, após algumas cuidadosas audições resolvi não ser tão xiita e ficar reclamando sobre. Afinal, o “Little Hells”, embora claramente uma continuidade de seus trabalhos anteriores, acerta justamente por sua pegada melancolicamente charmosa.
Ótimo álbum para se ouvir em momentos de calma e reflexão; definitivamente uma bela companhia para noites solitárias.
P.S. -> Para quem tem a oportunidade é recomendadíssimo arrumar uma cópia disso em vinil...
Marissa Nadler – Ghosts & Lovers
Link: “Little Hells”
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