domingo, 23 de janeiro de 2011

O Segredo de Beethoven.




"O Freunde, nicht diese Töne!
Sondern laßt uns angenehmere
anstimmen und freudenvollere.
Freude! Freude!"


No cinema, a vida da mente muitas vezes se transforma num pirão e histórias sobre gênios parecem ser terrivelmente estúpidas. Um filme parece ter tanta firmeza sobre a realidade exterior que o mundo interior da criação é simplesmente demasiado misterioso e indescritível.

O ano é 1824,e este filme de época nos leva ao fim da vida deste grande homem. Particularmente, Beethoven é um compositor muito talentoso, que me agrada muito com suas composições e também por sua história de vida e superação, afinal, uma surdez aos 24 anos poderia significar o fim da carreira de alguém que compõe. Depois de enfrentar um longo período de ostracismo, ele pretende fazer uma volta triunfal e, para isto, está escrevendo a Nona Sinfonia. Sua limitação auditiva o faz com que precise de ajuda, mas seu assistente que o acompanhou durante vários anos está doente e não tem condições de continuar trabalhando. É aí que entra Anna Holtz (Diane Kruger), uma ousada e talentosa estudante de 23 anos. Devido ao seu talento ela é indicada para trabalhar com ele, mas, ele acaba repelindo aos seus serviços (como se ser mulher fosse um crime, ou como se fossemos incapacitadas de algo). É aí que entra uma grande polêmica, o preconceito contra o sexo feminino, que vem desde épocas remotas até os dias atuais.

O filme não é totalmente real, há muita ficção em toda história. Vemos pela personagem Anna Holtz que foi baseada em dois dos copistas masculinos de Beethoven. Ela foi criada, pois em parte, uma história ‘de amor’ ajudou a financiar a produção. Isso até que me é plausível, pois um filme sobre um gênio irritante macho e seus assistentes do sexo masculino seria um pouco tedioso... Qual seria a graça se não houvesse dois opostos se colidindo? Aos poucos ela vai conquistando o grosseiro mestre e adquirindo uma profunda admiração dele.



Em um apartamento mal iluminado, ao meio de ratos, cascas de ovos, penicos transbordando, ele compõe, ela copia. Ela o desafia mostrando toda sua sensibilidade musical, e todo seu talento. Ele acaba a aceitando, criando um forte vínculo entre os dois.




O roteirista Stephen J. Rivele, que escreveu “Copying Beethoven” juntamente com Christopher Wilkinson, explicou que a idéia do filme originou-se com Anthony Hopkins, que posteriormente optou por não assumir o papel. Ed Harris é um ator que pode mostrar na pele do personagem suas tempestades e recolhimento, ele veste Beethoven com uma turbulência violenta que às vezes inunda a sala, e às vezes a recolhe, onde ela ferve interiormente (suas sobrancelhas escuras e seu olhar furioso nos denunciam). Esta não é uma fúria narcísica do gênio, mas sim as agonias de um homem que vive totalmente sozinho em sua cabeça.

Se percebe que apesar de toda sua frieza e grosseria, Ludwig van Beethoven tem um lado totalmente sentimentalista. Ele é mais um ser humano incompreendido e mal interpretado. Ninguém faz um discurso sobre o underground psicológico, mas você nem precisa ouvir o compositor descrevendo seu amor e sua dor, você vê e sente.

É bem interessante, mas, a apresentação da Nona é uma das únicas razões a se assistir o filme. A orquestra que vemos é a Kecskemet Symphony Orchestra, mas o que ouvimos é uma gravação de 1996 de Bernard Haitink conduzindo a Royal Concertgebow Orchestra. Os puristas podem se opor a esta estratégia do cinema, mas isso se passa despercebido. O contraponto visual com a música é de encher os olhos e os ouvidos. Todos os focos da câmera, as explosões de sentimentos e emoções que a sinfonia nos trás é indescritível. 

Rápido comentário sobre a nona: A nona sinfonia de Beethoven incorpora parte do poema An die Freude ("À Alegria"), uma ode escrita por Friedrich Schiller, com o texto cantado por solistas e um coro em seu último movimento. Foi o primeiro exemplo de um compositor importante que tenha se utilizado da voz humana com o mesmo destaque que os instrumentos, numa sinfonia, criando assim uma obra de grande alcance, que deu o tom para a forma sinfônica que viria a ser adotada pelos compositores românticos.







Sou suspeita a falar, pois é uma das minhas sinfonias prediletas e, foi um filme que assisti mais de uma vez... E, vale à pena pois nos enche os olhos e ouvidos.
Espero que gostem!

Um comentário:

Cecil disse...

Bem, na verdae este filme é péssimo e lamentável, e devo discordar de você, Nathalia: nem mesmo a cena da Nona é digna de ser assistida. Arrastei minha paciência para terminar de ver essa película torturante. Nosso amado Beethoven não tem mesmo sorte em Hollywood, ao contrário de Mozart no glorioso "Amadeus", do genial Milos Forman.