quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Quinta Feira, 31 de Dezembro, 2009 05:35 A.M. - "The Distant Sounds of War"....

Quinta Feira, 31 de Dezembro, 2009

05:35 A.M. – Ô madrugada de insônia sem vergonha...


Bom, faltam apenas 18 horas e 25 minutos para que 2009 se vá. E, já vai tarde diga-se de passagem. Não que este ano tenha sido de todo ruim; longe disso. Embora um ano de várias descobertas principalmente no aspecto do auto-conhecimento, definitivamente em um balanço final este foi um ano tedioso. Em vários aspectos. Aliás, em praticamente todos, acho que não se salvou um misero detalhe que tenha me deixado empolgado para valer. Aliás, um – breve interesse em uma garota que conheço já há algum tempo, e que aparentemente, calmamente começa a brotar uma pequena muda... Bom, 2010 já está aí; o que reserva o próximo ano nesse aspecto...? Olho adiante com uma certa curiosidade...


(Pausa para preparar o café das 05:45 A.M.)


Café e um charuto. Que coisa, não é hábito meu fumar charutos. Ocorre que há tempos mantenho uma pequena caixinha guardada nos cantos mais obscuros do meu armário; e de tempos em tempos dependendo da ocasião, gosto de acender um como em uma espécie de ritual. E, como as 6:02 A.M. ainda não é um horário propício para abrir a tal garrafa de Torre Bermeja (Um 2007 Tinto Espanhol; 60% Cabernet Sauvignon, 20% Merlot e 20% Garnacha), ataco de café Gourmet.



De fundo, me delicio com as arcadas suaves de Anja Lechner em seu Cello acompanhando pelo bem marcado pianista Vassilis Tsabropoulos – Algo que em breve preciso resenhar por aqui – em sua melancólica mas redentora “In Memory”.


Memórias. No final, a maior riqueza que podemos carregar conosco sempre serão as tais memórias. Elas contam a nossa história. Elas nos dão nossos referenciais. E elas, em nossos momentos mais lúgrubes, permitem entender que embora vivemos sonhos e expectativas artificiais relacionados ao futuro; existe toda uma rica experiência humana que nos trouxe até onde nos encontramos hoje. Me é doce permitir que meus pensamentos vagueiem pela terra das lembranças que um dia foram o meu “hoje”; e divagar em tais sonhos dos eternos “será que..?” relacionados ao amanhã. Afinal, é isso que nos torna humanos. Sobre isso, não posso pensar em mais nada que não sejam tais palavras que ouso dedilhar.


Tenho uma dezena de textos manuscritos em alguns cadernos espalhados pelo meu quarto. Eles compõe semi-idéias de livros que um dia eu gostaria de escrever. “O que é uma semi-idéia?”; você pode perguntar.


- Bem, costumo defini-los como um dos meus desconexos e incompletos pensamentos que eu geralmente tenho. Meras divagações existenciais; exceto quando contextualizadas no conceito de um livro.


Me lembro que um dos meus hobbys prediletos até cerca de dois anos atrás, era pegar um destes cadernos, uma caneta; sentar em algum bar mais ou menos legal pelos arredores da Avenida Paulista, pedir alguma cerveja refinada, e me desatar a escrever, perdido em meu próprio mundo.


Idéias genéricas acerca de vários assuntos bem como personagens fictícios baseados em pessoas que fizeram parte de minha vida costumam pular para fora de minha cabeça e ganhar vida através de minha caneta. Dependendo do grau de subjetividade que me encontro, as vezes consigo me expressar melhor através da arte abstrata; seja grafite em papel ou seja em tinta a óleo sobre tela. E quando a coisa vai mais além; as melodias do meu Cello costumam ser minha melhor forma de expressão.


Invariavelmente, nestas; sou arrastado para um turbilhão de pensamentos nostálgicos relacionado às pessoas que fizeram parte de minha vida no passado. Dez, Quinze anos atrás. Talvez mais. Por onde andarão tais pessoas? Um enorme carinho pela Patrícia, a qual pisei na bola de maneira indescritível. Saudades da Roberta, e todo o período anterior aos meus dezenove, ou dezoito anos. Uma certa mágoa da Fabiana, aquela “Indaiatubense” – Ou seria “Indaiatubanda” – tratante que nunca se deu ao trabalho de aparecer em minha casa, no Interior de São Paulo (Mas esta; a mágoa é suplantada pelo bem querer e sincero carinho quase fraterno.)


Uma necessidade imensa de tentar entender o que raios aconteceu entre os anos de 2006 e 2007. Saudade irreal; pois sei que tal saudade se refere apenas a uma sombra; um mero eco do passado.


Às vezes me pego divagando em uma noite regada a muito whisky no bairro da Liberdade em São Paulo, sobre algo que poderia ter sido, mas nunca foi. Me pergunto quais paisagens a Amaranta hoje, tem olhos para? Amaranta; nome derivado da flor “Amaranto”; simboliza a imortalidade ou a vida eterna. Também conhecida como “Sempre Viva”.


E a Bárbara, por onde andas...? Uma carreira brilhante lhe é destinada. Fui cativado, embora jamais tenha ousado mencionar. Ela tinha o dom de transformar um simples arco, em uma fonte insuperável de beleza e suavidade aos ouvidos. Tornava minhas tardes em momentos mais tenros e delicados, logo mal-acostumados. E porquê não; até viciados? Era impossível não ser cativado de maneira arrebatadora, pela sonoridade de sua alma expressando-se através de seu Cello, embaladas por suas tão suaves mãos, em perfeito domínio de tão poderoso arco...


Outras amizades entendo que já cumpriram seus papéis para não mais retornarem. Afinal, Eu sou, serei, seremos nós sós em um novelo que sempre tende a se desmanchar.


Enfim, velhos amores, velhas paixões e mais velhas ainda amizades...


06:31; mais uma xícara de café.


Emenda; “Simplicity” - Anja Lechner está estupenda neste trabalho. Sua sutileza, sensibilidade e simplicidade me cativam.


Bom. A essência do Vinho & Cigarros é algo bastante mais profundo do que apenas a música. É a música que nos move. É a música que nos guia. Amores perdidos, Paixões as vezes não correspondidas. Vida é sofrimento. Mas também é festa. Experiências. E um dia, a morte ligara o que foi desligado quando aqui chegamos. Pois a essência da alma infelizmente, estamos cegos para enxergar em sua totalidade.


- Mas não são palavras relacionadas a mazelas, muito pelo contrário. Se o fato de estarmos em “seres vivos”, não dependemos de alguma graça. Muito pelo contrário, a “graça” está nos momentos. E destes, embora admito, houve vários equívocos; sei que tudo tende a se desmanchar em acordes; e acordado, dormimos profundamente em sonhos.

Bom, um dia ordenarei todas estas idéias aparentemente tão desconexas, e transformarei-as em um livro... Tantos temas me vem a mente – sim, síndrome pré Reveillon. Música. Jornalismo. Jornalismo Musical. Depressão Pós Universidade. Depressão pré e pós trinta. Imaginação e Poesia. Pessoas que há muito já se foram (Mas que sei que estão por aí). A inocência em se estar apaixonado.


Não quero pensar que digito tais palavras sentado em uma cadeira, em frente a um reles PC. Mas sim, penso que agora me esbaldo nos versos; nas ligeiras imagens que compõe a minha vida involuntária.



Bem... Eis aí em cima um breve relato – bastante fiel até - de como costuma funcionar as diversas linhas de raciocínio as quais não costumo me entregar; antes, seria mais correto afirmar “ser arrastado por”. Remôo e remôo tais coisas a ponto de que às vezes, eu posso até parecer produtivo; em termos criativos.


Esta é a grande mentira da minha vida: - Em um balanço em termos práticos; eu não tenho nada de concreto a mostrar.


Há muito já; eu fui tomado pelo amor pelo trágico. Costumo ser assombrado pela nostalgia. E às vezes, me sinto arruinado pelas comparações.. Sofro pela falta de várias coisas que nunca foram. Sendo assim, o que me resta a não ser desejar mais do que tudo, estar vivendo uma vida que um dia, valha a pena escrever sobre...?


É. Eu tenho problemas, admito.


...assim como todo mundo, de qualquer modo.


Sério. Eu realmente quero escrever tal livro e publicá-lo. Eu não ligo se ninguém lê-lo ou sequer notá-lo. Apenas quero fazê-lo para ter algo legal que eu possa assinar embaixo. Sequer tenho a pretensão de colocar em meu currículo algo do tipo “livros publicados”.


07:33 A.M.

Último Café; E a e melancólica e sintomática “Año nuevo”, por Beata Söderberg.


Assim concluo o último Post de 2009; com ares de certa esquizofrenia “Eu-tenho-que-atualizar-o-Vinho&Cigarros-com-seja-lá-o-que-raios-significa-este-texto-e-provavelmente-só-fara-sentido-para-mim”....





Link: Curtametragem experimental
"The Distant Sounds of War"
Por Courtney Fathom Sell
Música: 3epkano, "
Snowball" e "Towers Open Fire"



















segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

De "A Insustentável Leveza do Ser"



Que ando tomado por uma nostalgia trágica nestes ultimos tempos, sequer preciso mencionar. Ando fugindo de alguns fantasmas do passado que nada mais fazem do que me ancorar a fatos, lugares e pessoas que não mais existem.


- Façam uma experiência: Visitem a escola aonde "cursaram" o primario. De antemão já lhes adianto que a primeira impressão vai ser de que você imaginava que sua classe era um lugar bem maior.


- Assim, se a vida se apresentasse como um imenso novelo de lã; ao término de seu desenrolar - passando por todos os nós; isto é, os "fatos" que teimam em lhe incomodar; perceberia que nossa vida e vivências são de caráter individual. Os "nós" existem, mas na melhor das hipóteses, são nossos e apenas nossos. É por isso que, não perderia meu tempo entrando em contato com minha antiga vizinha que se mudou para Inglaterrra quando adolescente; para tomar um café. Não preciso de pontos de vista monocromaticos acerca dos porquês de nossas vidas, quando em essência; em se tratando de relações humanas funciono de maneira policromática.


Nestes momentos, meu refúgio é obviamente a música e a literatura do melhor quilate. E rebatendo logo de cara certa crítica que lí perdida por aí; definitivamente prefiro Kundera no balanço perfeito entre "ser" escritor e "ser" filósofo. E acrescento ainda o "ser" musicista.


Dizem que Milan Kundera e seu "A Insustentável Leveza do Ser" foi escrito para pessoas aborrecidas, por alguém que estava aborrecido. Bom, seguindo esta lógica sequer quero imaginar em que estava pensando a tal Stephenie "Shakespeare" Meyer ao escrever sua famigerada obra "Crepúsculo".


O senso policromático que permeia todo "A Insustentável Leveza do Ser" possui uma fantástica simbiose entre o niilismo Nietzscheano, em que hora nos arrebata para uma tragicidade misteriosamente leve cujos destinos de Tomas, Tereza, Sabina e Franz estão selados, e hora nos passa a impressão de um diálogo com o próprio Nietzsche em uma esfera onírica. E, em se tratando de sonhos, existe melhor palco do que a Primavera de Praga, momentos antes da invasão Soviética?


Neste palco é explorado de uma maneira elegantemente comovente e triste; temas que possivelmente nas mãos de outro escritor de menor habilidade seria um verdadeiro massacre a paciência. Niilismo, o Mito do Eterno Retorno, a perda de sí mesmo e o principal deles; a contradição entre o "peso" e a "leveza" do ser.


E para nós, fissurados em boa música; a tônica do romance também tem seu pé calcado no famoso "Es muss sein", um dos motivos do quarteto de cordas nº 16 de Beethoven.


Milan Kundera é um autor que domina a arte de contar histórias com maestria impar. Ao mesmo tempo, é um filósofo intrigante. Embora tenha sido a primeira vez que li tal livro; sei que não será a ultima. E bem sei que; por tras de toda a dialética Nietzscheana presente em sua obra, Karenin está a sorrir por todos nós.


Definitivamente e melancólicamente cativante...






























quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

"Vide Bula" - "Novos" - Velhos ares.


...e lá se foi mais uma pequena eternidade desde a última vez que postei algo aqui no Vinho & Cigarros. E, se é que cabe dentro do livre conceito de "eternidade" por me soar algo tão vasto, sinto que faz séculos que não sento aqui para escrever algo que seja espontâneo - o que me é curioso visto que é justamente a modalidade de escrita que me dá mais prazer.


Então sequer vou perder tempo escrevendo algo do tipo "Eu não estou com tempo de postar" já que ando percebendo que tudo é uma questão de prioridades. O caso é que nos últimos tempos tenho tacado um foda-se generalizado e voltado a minha atenção para o sentido estrito do termo "minha". Já estava na hora.


Ando bem cansado de algumas particularidades minhas. Cansado da minha rotina esquisita. E particularmente cansado das pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida nos últimos dez anos. Ta, ok's; admito que em alguns casos estou sendo injusto bem como um tanto estúpido - sim, essa é para vocês dois, três ou quatro. - visto que houve várias mãos amigas neste período. Mas... Bem, é como dizem, a vida dá suas voltas e segue em frente.


Não me recordo aonde raios li que "(...) para mudar, você tem que perder tudo". Pois bem. Nada mais verdadeiro; sou o cara que perdeu tanto e em tal grau que de certo modo me parece justo dizer que perdi até a mim mesmo em algum ponto do trajeto. E... Caramba! Se perder assim é uma delícia! O mais bizarro é entender que tal perda não foi ocasional - embora muitas vezes eu tenha caído no erro da autocomiseração desenfreada.


Subconscientemente creio existirem mecanismos que fizeram com que eu de fato "desejasse" tais perdas. Fui eu, deliberadamente mesmo sem saber, dando cabeçadas atrás de cabeçadas. E uma das ultimas, foi justamente tal blog. Não sei praticamente nada dos meus leitores, mas sei que existem. Essa "omissão" deliberadamente não deliberada afinal serviu para algo - perceber o quanto este Vinho & Cigarros me é importante. Perceber que, por mais que eu me perca nesse festival de bizarrias que caracteriza todas as nossas vidas; sempre poderei compilar, reestrutuar e posteriormente, reestilizar as idéias aqui neste espaço. Perceber afinal que deixando isso aqui, estou deixando de lado algo extremamente válido e importante para mim.


É por isso que agora coloco o blog de volta ás minhas prioridades. Infelizmente não conseguirei mais manter a freqüência dos posts que o mesmo tinha em sua fase áurea por dois motivos básicos: Um deles é um projeto na web voltado a Geopolítica e Crítica Econômica; parte importantíssima da minha vida "offline". Outro, está mais ou menos explicito no início deste post: Focar a espontaneidade dos posts. Em partes, este é um dos segredos de um bom texto ou de uma ácida e visceral crítica dependendo do contexto. O que me leva a outra divagação que tem me ocorrido nos últimos meses, e é notoriamente uma das crises dos blogueiros de média data:





- Para quem escrevo?


A resposta também está ali em cima: A priori, para mim mesmo.


Mas também, é impossível não levar em consideração várias mensagens que recebo de pessoas que de uma forma ou de outra me encontraram seja via redes sociais ou seja simplesmente enviando e-mails. Alguns acabam conosco por conta dos posts de cunho mais contundente. Outros rasgam elogios. E, os mais legais são os que vira e mexe chegam de estudantes de Cello que colocam a coisa como por exemplo: "(...)Vocês abriram a minha cabeça legal para o Cello". Por estes, mesmo que estejam "miles ahead" em relação a minha pouco ortodoxa - para não dizer quase inexistente - técnica no instrumento, me sinto especialmente lisonjeado por me colocarem como responsável - mesmo que indiretamente – por mostrar um mundo antes desconhecido a eles...


- Nicho Cultural...


Curiosamente estes - também indiretamente - me mostraram que estamos desenvolvendo um trabalho aqui que está atingindo algumas das primeiras ondas de "nativos digitais"; isto é; jovens que atingiram a maturidade legal em idos de 2001 - início da faixa que vai entre os 18 e 34 anos, altamente cobiçada pelos anunciantes. Pela primeira vez em 50 anos, pelo caráter libertário e livre de anúncios da internet; os níveis de audiência da televisão começaram a cair. Embora ainda pequena, a mudança é real e o público está migrando para a economia de nicho. E o Vinho & Cigarros é exatamente isso: Nicho. Nicho de idéias. Cultura. E música, muita música. (Embora cultivemos também o Mainstream, é nítido que a maioria do material aqui postado atende a um grupo bastante restrito.)


- Industria Cultural: "Sucesso ou Fracasso? Aonde, meu caro sabichão?


Faz parte da natureza humana colocar as coisas em termos estatísticos, lidar com extremos absolutos, isso ou aquilo - e o famoso conceito de "sucesso" ou "fracasso".

Esquecemos que o mundo é um complexo de nuances confusas, e que entre os extremos existe a gradação. A maioria do que ouvimos nas FM's da vida bem como nas prateleiras das livrarias batem recordes de venda justamente em detrimento de todo o resto em termos de produção artística; a começar pelos que sequer entram nas lojas.


Sob essa ótica, a grande maioria de quase tudo, de música e livros - a produção artística em geral - é na melhor das hipóteses, apenas um pouco populares. Embora a grande maioria não passe no crivo do sucesso comercial; estes continuam a existir.


- De fato, os "mega-sucessos" são a exceção, e não a regra. As expectativas financeiras de um AC/DC por exemplo, não são as mesmas de um 3ekpano. E, porquê digo isso? Para que entendam que, a cada vez que é votado um projeto de lei em Brasília visando a proteção dos direitos autorais ou somos atacados pela ACPM, os mesmos analisam apenas o topo da curva. O que é bom para os velhos "Novos Baianos" por exemplo, não é necessariamente bom para um "My Latest Novel". Mas ventos de mudança andam soprando neste sentido, e infelizmente a transição tende a ser mais penosa para os próprios artistas de menor expressão na mídia; isto é, os que como mencionei anteriormente, estão no nicho...


Mas a mudança esta aí; bate na porta da indústria cultural, e sai dizendo sem rodeios que a bola da vez não é mais a cultura-comércio, e sim; a cultura pura, como sempre deveria ter sido... Por hora, lhes deixo um apelo em nome dos artistas Independentes; - "Se você gostou do trabalho, faça sua parte: Compre CD's originais, assinem abaixo assinados para promoção de shows, comprem merchandising oficial e mais importante: Frequentem os shows!” (Bem como, assinem abaixo assinados pela diminuição dos preços dos mesmos.)


- Finalizando... Misturando Alho com Bugalhos...


Momento narcisista. mas estou me permitindo sê-lo neste momento da minha vida. Acho que eu mereço um relacionamento. Não sou exatamente o cara mais bonito do pedaço - aliás de qualquer pedaço - e não tenho costas largas, braços fortes ou peitoral definido. Mas eu quero fazer alguém feliz. Até mesmo quero me casar. Quantos caras vocês conhecem que assumem isso na cara dura? Tenho odiado estar solteiro. Mas infelizmente - embora as vezes possa soar o contrário - não aceito nada menos que um amor verdadeiro. Talvez seja isso que anda complicando tudo...















quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Kol Nidrei – Op. 47 – Max Bruch.


Novamente algumas semanas sem postar nada por aqui. O Cello vai bem; tenho conseguido manter um bom ritmo de estudos bem como aumentando o repertório; o que é ótimo visto que nos últimos dois meses tenho sido um completo vagal, em se tratando de meus estudos quanto à música e o instrumento.


Pois bem. No momento estou trabalhando em cima Op.47 de Max Bruch, a “Kol Nidrei”; música esta que considero uma das coisas mais belas já compostas para o Cello. Lhes deixo as partituras para quem se interessar; bem como um vídeo maravilhoso com a mesma sendo executada pela Orquestra Filarmônica de Mulheres de Vienna, com a solista Búlgara Teodora Miteva; sob regência da maestrina Izabella Shareyko.


É interessante notar que nenhum outro hino Judaico ganhou tanta atenção quanto o Kol Nidrei.


Kol Nidre or Kol Nidrei, ou ainda Kal Nidre; (Em aramaico: כל נדרי) é uma declaração recitada nas sinagogas, antes do início dos serviços religiosos no Yohm Kippur, ou o “Dia do Perdão”. Embora a Kol Nidrei não ser considerada uma “reza” propriamente dita; a estrutura das palavras e declamação das mesmas sempre foi acompanhada de uma forte carga emocional desde a época medieval, criando assim, uma introdução dramática aos serviços do Yohm Kippur, no que é conhecida como a “noite do Kol Nidrei”


As versões arranjadas para o a Kol Nidrei diferem enormemente entre si; sendo que várias delas – como o caso do concerto de Bruch – não tem utilidade para os serviços no Yohm Kippur, visto que o caráter Judaico real se perdeu. O que – é importantíssimo salientar – não tira nenhum mérito ou brilhantismo da obra.


A origem da Op. 47 de Bruch está no contato mantido entre Bruch e e a família Lichtenstein. Mesmo sendo protestante, Bruch não teve como não ser tomado pela carga emocional existente na declaração da Kol Nidrei. No entanto, é interessante saber que existem registros em cartas de Bruch indicando que ele mesmo não considerava seu arranjo para a Kol Nidrei como uma autêntica versão para a declaração em serviços religiosos. Muito pelo contrário - ele aponta sua Op. 47 apenas como um arranjo artístico em cima de uma composição “folk”.


Este é um ponto controverso, principalmente quando se trata de definições relativas ao que de fato é uma música folk, e o que é música – ou declaração, neste caso – voltadas a realização de um serviço religioso.


Se não, vejamos:


A música folk tem sido definida de várias maneiras diferentes: Músicas transmitidas boca-a-boca, músicas destinadas às classes sociais mais baixas; ou músicas tradicionais cujos autores não são conhecidos; em clara oposição a músicas de cunho comercial ou até mesmo, o próprio erudito.


Bruch lidava com esta oposição entre o erudito versus folk de uma maneira entusiasta; pois considerava as antigas musicas folk, como a fonte de todas as verdadeiras melodias; aonde todos os músicos e compositores deveriam se inspirar e, em contrapartida, realimentar; aumentando assim a fonte de inspirações para gerações posteriores. Tendo isto em mente, torna-se claro o porque desta brilhante composição - um verdadeiro expoente da música erudita com todas as suas nuances, contrastes e detalhes – não possuir um autêntico sentimento Judaico. (Seja lá o que raios signifique “sentimento Judaico”).


A base da composição é relativamente simples. É fácil identificar duas melodias principais; sendo que a primeira é baseada em uma antiqüíssima música de expiação; e a segunda (Em D Maior), é o movimento intermediário de uma música dotada de uma fluidez impressionante, tão antiga quanto a primeira.


Acreditem ou não; em sua época Bruch era conhecido por seus trabalhos em corais de cunho épico. Hoje, infelizmente, excetuando-se o primeiro de seus três Concertos para violino, a “Scottish Fantasy” e claro, a Kol Nidrei; suas composições caíram no ostracismo, sendo dificílimo encontrar outros registros em áudio. É triste saber que muito se perdeu; mas por outro lado, cada descoberta nos traz a sensação do achado de um pequeno tesouro.


Possivelmente um dos motivos para o obscurantismo relativo a Bruch infelizmente foi o contexto sócio-político de sua época. Embora protestante, seu contato bem como desenvolvimento de arranjos em cima de elementos da cultura Judaica poderia ser algo bastante perigoso para sua integridade física na Alemanha em vias de adotar políticas anti-semitistas. Quanto a isto, podemos apenas especular; visto que na época, apesar de todos os riscos a Kol Nidrei atingiu um certo sucesso, sem que houvesse qualquer represália por parte dos anti-semitas. Duas possíveis explicações para isto lidam com a hipótese de que primeiramente, a declaração fora retirada da liturgia durante a reforma Judaica no século XIX, sendo novamente reintroduzida apenas em 1945; pós 2ª Guerra Mundial. Isto leva a crer que quando Bruch compôs esta peça em 1880, a Kol Nidrei bem como a melodia associada a ela, fossem consideradas apenas como elementos históricos, sem cunho religioso real.


A segunda hipótese é mais bizarra: Max Bruch era um admirador confesso de Johannes Brahms – e, em algumas partes da composição, podemos suspeitar da existência de uma certa sombra de influência dos trabalhos de Richard Wagner. É apenas uma hipótese que talvez nunca seja comprovada; mas, se de fato isso for real, a junção entre elementos de compositores Alemães da época e elementos da cultura Judaica na Alemanha anti-semita, pode ser considerada de uma ironia sem tamanho...


De qualquer modo, independentemente de questões sócio-políticas bem como contexto histórico; esta antiga melodia Judaica revista através dos olhos de um Protestante, é de uma beleza ímpar. Direcionado pela profunda sonoridade do Cello solo, a composição ecoa por um lado mais sombrio e melancólico da orquestra; tendo seu início em uma simplicidade rica e sofisticada, passando por variações cada vez mais elaboradas, para retornar novamente a mesma simplicidade da abertura.


É, meus amigos... A música definitivamente transcende qualquer mero preceito religioso... É uma pena que poucos percebem isso...



Link: Kol Nidrei - Teodora Miteva / Vienna Philharmonic Women´s Orchestra















(Obs: Vídeo em 2 partes; o 2º link se encontra no Youtube)



Link: Partitura

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O mistério de Nick Drake

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Não tenho muito tempo neste instante para escrever as ideias que tenho desenvolvido inspiradas em uma das mais gratas descobertas musicais que tive em minha vida nos últimos anos, Nick Drake. Deixo então uma introdução, um gostinho de apresentação a um novo mundo de referências poéticas e a um personagem misterioso que intriga qualquer um que ouça sua música, suas letras, e saiba sobre sua curta vida... ele se suicidou aos 26 anos. Algumas de suas canções viraram obsessão de jazzistas (va savoir... ele é um artista primordialmente folk, mas o jazz gosta de desafios), como "Day is Done" e "River Man", que ouvirão logo a seguir, com um video bonito e bem entendido do poema por trás de tudo...

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Sem mais delongas, com vocês, o poeta Nick Drake.

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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Saraband - ou a insuficiência do amor


"First, people are together, and then they part ways and talk on the phone, and finally there's silence."

Não é meu objetivo fazer uma resenha do último filme de Ingmar Bergman, seu canto do cisne, como alguém descreveu muito bem. Apenas gostaria de deixar um comentário sobre a impressão que este filme me deixou, quando o assisti há aproximadamente dois anos, e nunca escrevi a respeito.

Eis mais um filme de Bergman sobre a falta de amor, sobre o desamor mais consciente de si, entre pais e filhos, entre amantes ou casados, entre amigos, entre as pessoas. Mais um exemplar sobre o tema da angústia crescente gerada pelo desamor que sabe de si e não o nega, não o esconde com meias palavras e falsos relacionamentos ou hipocrisias sociais, mais um filme para o painel onde se enquadram filmes do mestre como "O Silêncio" (Tystnaden, com a divina Ingrid Thulin, uma das divas de Bergman) , "Gritos e Sussurros" (com várias divas reunidas, entre elas Liv Ullmann, Harriet Anderson e Thulin novamente) e "Sonata de Outono (com Ullmann e Ingrid Bergman). Mas este filme se diferencia dos demais por não ser mais um filme sobre o feminino e a angústia vista pelo olhar de mulheres sufocadas pelo peso dos anos, das obrigações, da existência em si. "Saraband" parte de um pai detestável que é um homem desprezível a priori, interpretado pelo magnífico Erland Josephson, que protagonizou o filme "O Sacrifício", de Tarkovski, numa clara homenagem a Bergman pelo uso da paisagem sueca e pelo ator principal. Josephson é o núcleo de ódio acumulado e desprezo profundo pelo filho e pelos demais, o que o torna um alvo fácil de crítica desde o início do filme. Mas Bergman certamente não poderia parar aqui, e expande o sentimento de vazio e desprezo até que eles estejam presentes em quase todas as pessoas envolvidas. Uma mãe que nunca visita a filha esquizofrênica, o filho que desconta o desamor na filha através de um excessivo e quase incestuoso zelo, uma dominação intelectual e afetiva sufocante.

Neste ponto entra o cello. Motivo da tensão crescente entre pai e filha, o instrumento representa um objeto venenoso e torturante para a jovem, e o único laço possível entre um homem velho e massacrado pela solidão, e o futuro, anunciado no frescor da juventude da menina que é obrigada a estudar sob ameaças alternadas com carinho em excesso uma difícil sonata de Hindemith. O filme de Bergman não é realista. As cenas são extremamente simples em sua maioria, com uma atuação elegante e tranquila, quase ausente em suas naturalidades (refiro-me a Josephson e Ullmann, já que as cenas de pai e filha feitas por Borje Ahlstedt e Julia Dufvenius são de grande tensão dramática... prepare-se para berros, lágrimas e agressões), possivelmente por serem estreladas por dois grandes atores na idade madura... temos aí a desilusão vestida e coroada de calmas flores secas e mantos cinzentos da velhice. Ocorre que, paradoxalmente, parecemos estar num sonho ou num pesadelo tranquilo e silencioso, ao som de uma famosa Sarabande de uma das Suites de Bach... mas a qualquer momento algo horrível pode acontecer, temos constantemente esta sensação. É um filme onírico, mas como devem ser os pesadelos de pessoas refinadas e conformadas com seu vazio exterior e interior.

Ullmann é uma ex-mulher do personagem de Josephson, quem vem visitá-lo sem motivo aparente. Aí resta uma esperança a este desamor generalizado... ela não tem um motivo racional para vir conversar e fazer companhia a um homem tão frio e egocêntrico. Mas ela vem e fica muitos dias, meses... e observa todo o drama dos outros trẽs personagens. Marianne é tão expectadora dos eventos quanto cada um de nós, acompanhando aquela silenciosa loucura crescente. O filho do personagem de Josephson, Henrik, é violoncelista e viúvo, e impõe à filha que ela deve ser solista, destino recusado por ela, que deseja tocar numa orquestra, fazer parte de um grupo, e não viver na infelicidade de um esforço massacrante segundo seu ver. O pai é depressivo e tem medo da solidão, um medo doentio do desamor que ele ainda não assumiu ser sua realidade. Ele já está tão mergulhado nesta solidão quanto seu pai, só que este tem a coragem de assumi-la e vive esta mesma misantropia de forma quase sacana.

A peça de Bach parece representar uma mão salvadora para estas pessoas que naufragam em vazio... o som, profundo e quase sagrado na sua simplicidade, é como amor divino, única possibilidade para estas almas perdidas num mar negro. E a libertação da simplicidade da sarabande, assim como da palavra "não" em um momento de negação, de recusa, que pode decidir toda uma vida e libertar uma pessoa inicialmente fadada ao destino de desprezo e sofrimento inconscientemente moldado por seus pais. Neste ponto, o amor mostra-se insuficiente diante do desejo mais básico dos er humano. O de ser livre.

Será que o problema é que o amor em excesso de fato é desamor transtornado, culpado, doentio, virado obsessão? Ou será que às vezes é necessário realmente sacrificar uma forma de amor absoluto em nome desta ansiada liberdade individual? O amor só pode florescer na liberdade, li uma vez, rase de um iogue famoso (Rajneesh esqueci seu sobrenome, o Osho). Talvez seja este o problema.


Curiosidade: como todo diretor, Bergman tem também seus cacoetes. Uma cena repete sua mania em se preocupar com a angústia do tempo e a consciência dele... a cena em que Liv Ullmann encara um relógio por um minuto. É a mesma coisa que faz Max von Sydow em "A Hora do Lobo", aliás meu Bergman favorito.


Fica o silêncio atormentador e a sarabande de Bach. Triste este filme, e angustiante... mas belo como uma árvore morta à beira de um rio no auge do inverno e da desesperança da madrugada.

domingo, 23 de agosto de 2009

Expressão artistica da morbidez social



Para ler ouvindo “Melos”, de Tsabropoulos, Lechner & Gandhi:


De repente eu deveria ter me graduado em filosofia, ou talvez filosofia da arte.


Atualmente meu irmão está finalizando seu mestrado cujo tema é basicamente como o espaço público hoje, tem se misturado à esfera da vida privada no cotidiano humano. Interessantíssimo.

Mas me chamou a atenção uma conversa que tivemos por estes dias sobre a expressão artística; “o que é” e “quais os seus limites” e, em uma escala mais elevada, “o que é arte”, afinal. Bingo, um período de iluminação momentânea.


Não quero soar polêmico, embora eu saiba que em minha essência, existe algo que incomoda muita gente.


Pois bem:


Em 2007, o artista plástico Costarriquenho Guillermo Vargas Habacuc fez uma “instalação” que causou polêmica, intitulada "Exposición N° 1, em uma mostra artística realizada na Galeria Códice, em Manágua. Na entrada da exposição, ao som do hino Sandinista tocado ao contrário, os visitantes liam a frase "eres lo que lees", cuja as letras eram formadas por comida de cachorro.

Na seqüência, viam um pobre cachorro visivelmente debilitado, amarrado, a definhar de fome até a morte. Naturalmente isto causou protestos, inclusive por parte deste que vos escreve. Tal cachorro recebeu o nome de “Natividad”, e permaneceu amarrado até o dia seguinte a abertura da exposição, quando morreu de fome diante dos expectadores.


Em 2000, o Dinamarquês Marco Evaristti criou uma instalação no museu Trapholt Kuntmuseet, perto da cidade de Kolding; em que foram posicionados 10 liquidificadores em linha reta em uma sala, cada um deles contendo água e um peixinho dourado. A instalação, batizada de "Eyegoblack", convidava os visitantes a acionar os botões dos liquidificadores; podendo ligar o aparelho e moer o peixe vivo - e segundo testemunhas, os liquidificadores foram acionados inúmeras vezes.



E, posteriormente, em 2006; o mesmo Dinamarquês criou outra instalação, desta vez na galeria Aalborg, na qual colocou a venda almôndegas feitas de sua própria gordura e embaladas com sua foto. Tendo aproveitado a gordura extraída de uma lipoaspiração, cada almôndega foi vendida á bagatela de US$ 4.390,00. E, como se não bastasse, algumas das – no mínimo perturbadoras – iguarias, foram consumidas em um happening. O título desta instalação era Polpette al grasso di Marco, ou; "Almôndegas com a gordura de Marco”.


Das três instalações acima; coloco agora sob perspectiva de duas outras – muita atenção a estas - que o próprio Evaristti já havia realizado anos antes: Uma instalação em que havia exposto seus próprios excrementos recobertos com folhas de ouro incrustadas com moscas de diamante; e outra, em que exibia uma Ferrari com um cadáver embalsamado dentro.


Sou absolutamente contra a utilização de quaisquer espécies de seres vivos em instalações artísticas que não o próprio ser humano, pois este, supostamente é dotado de um falso senso de livre arbítrio. Não temos este direito. Mas por outro lado, sou infinitamente menos complacente com o ser humano. Não me incomodaria tanto em ver um condenado definhando, ou então, outro sendo moído em um liquidificador.


No entanto, existe um significado perturbador, muito mais profundo; na discussão de tais polêmicas instalações. Algo que os críticos de arte, público leigo bem como defensores dos direitos humanos ou dos animais, não pegaram nas entrelinhas.

É perigosíssima a tentativa de analise de tais obras sob o risco de cair em alguma espécie de julgamento ético ou moral sobre o ato em si; quando a problemática, a questão real, é sobre o que tais obras versam, e não a crueldade existente nas mesmas.


A questão real neste caso é a mídia, publicidade & marketing. E tais obras, são o veículo de uma critica furiosa e violenta quanto ao status do que damos – e acreditamos – serem reais valores ao que buscamos, almejamos enquanto seres existenciais. É sobre a futilidade do nosso dia a dia. É sobre a brutalidade das nossas relações interpessoais bem como com o mundo.


Somos uma geração estúpida, em que acreditamos que o real valor existencial está nas sandálias que a Gisele Bündchen usa, e que se as usarmos, talvez estejamos a um passo mais próximo a ela. Somos uma geração que acredita que ao termos um carro do ano com sistema GPS, 6 airbags, motor de 170 cavalos e detector de proximidade, seremos melhores do que a grande massa que nos rodeia. Somos uma geração doente, egocêntrica e com um senso deturpado do que é o real e o que é o imaginário. E pior, não sabemos discernir o que é o que, de fato. Somos a geração em que foram cristalizados os valores do que é arte. Do que é belo. Do que é feio. Do que é grotesco. Do que é normal. Do que é anormal. Somos a geração que industrializou e otimizou a criação de outros seres vivos apenas para processá-los em fábricas, pendurados em ganchos, esperando para serem fatiados, triturados e enlatados.


É o caso da velhinha que se senta em uma sala de concertos, e presta atenção em cada nota, cada acorde do Montagues and Capulets de Prokofiev com olhar severo e crítico, mas esquece do “deixar-se levar” e sai dali direto para uma sessão de carnes congeladas de um supermercado. Somos a geração dos que seguem regras impostas por uma mídia de caráter plenamente comercial, e em nome de tal caráter, quantificamos os valores individuais em termos de cifras e do que você veste ou deixa de vestir. E, não é questão de livre arbítrio, é “engula” ou está fadado a andar a margem da “sociedade”, sendo constantemente apontado como um “freak”.


Neste contexto, as 3 instalações acima, sob a ótica das duas ultimas que citei, nos dão uma perspectiva inteiramente nova ante a discussão sobre o que é e o que não é arte. E, estou longe de ter a competência necessária para discutir isso, visto que não tenho gabarito para tal. Mas, o que está claro através delas é que: A arte, por mais grotesca que ela possa parecer – e vejam, novamente reafirmo a minha discordância quanto aos pobres animas “objetizados” em tais instalações – assume um papel de absurda importância; pois é justamente ela que faz frente à mídia. A livre expressão artística não dogmática – e porquê não, até mesmo militante, libertina – é o único veículo de expressão individual que hoje, é capaz de fazer frente e combater o “espectro da coletividade impositiva dos bons costumes e gostos politicamente corretos”; isto é, desmontando, analisando, escrachando e conseqüentemente, tornando evidentes o quão frágil, imbecis e hipócritas são as estruturas de valores que o ser humano carrega consigo hoje. É o único veículo não contaminado com “direcionamentos” criativos artísticos vindo de fora. É o único veículo apartidário, livre e; portanto, dotado de fluidez criativa e informacional total. Este é o ponto. Através de tais “instalações” “artísticas”, por mais hediondas que as mesmas possam ser, nada mais vemos do que o encarar da vivissecção da própria alma humana, se é que existe uma.


...e, aí do próximo que quiser bancar o sabichão pregando que nada mais se criou de bom musicalmente dizendo, após o período barroco; vai tomar uma bela palmatória de arco Chinês...


Ponto.


Finalizando – e nada a ver com o assunto (em partes) - deixo-os com o fabuloso curta Francês chamado “Dix” que aliás esteve no Anima Mundi. Vale muito a pena.



Curta Metragem Francês “Dix”