sábado, 29 de maio de 2010

Redefinindo o Silêncio: John Cage 4' 33''


Pesquisando algo a respeito da interação entre a estética sonora / musical e a estética visual (Procuro algo relacionado à capacidade dos sons musicais nos induzirem a sensação de apreciação plástica e arquitetônica no conjunto da obra bem como em passagens isoladas, me deparei com um trabalho muito interessante a respeito da “Peça Silenciosa”, de John Cage.


É claro que isso tem um belo cunho filosófico-existencial e às vezes, até mesmo metafísico. Acho genial. Sei que nem todos irão apreciar isso, mas por outro lado, sei que outros irão gostar e muito tanto da peça, quanto o pequeno trecho escrito abaixo bem como a dissertação “A Voz e o Silêncio em 4’33’’, de John Cage” – Juciane dos Santos


Resolvi dividir com vocês. Espero que gostem...


A primeira performance do 4’33’’ de John Cage criou um escândalo. Escrita em 1952, é sem dúvida a sua mais notável composição; também conhecida como “peça silenciosa”. A peça consiste em 4 minutos e 33 segundos em que o musicista não toca absolutamente nada. Na premiere, alguns ouvintes mais incautos não perceberam que eles não escutaram nada. Foi executada pela primeira vez pelo pianista David Tudor em Woodstock, Nova Iorque, em 29 de agosto de 1952, para uma platéia de mantenedores e doadores do Benefits Artist Welfare Fund – uma platéia que apoiava a arte contemporânea.


Cage disse: (...) as pessoas começaram a sussurar umas para as outras, e algumas simplesmente começaram a ir embora. Eles não riram – ficaram irritados quando perceberam que nada aconteceria, e, 30 anos depois, ainda não esqueceram: ainda estão irritados”


Para Cage, o silêncio deveria ser redefinido caso o conceito, devesse permanecer viável. Ele reconheceu que não existia uma dicotomia objetiva entre os sons e o silêncio; apenas entre a “intenção de ouvir” e o objeto que direcionava a atenção do ouvinte, para os sons.


“(...) O significado essencial do silêncio é a desistência da intenção.”


Esta idéia talvez seja o marco mais importante de sua mudança filosófica em termos do ato da escrita musical e a composição. Com ela, ele redefiniu o silêncio como uma simples ausência de sons intencionais; ou então, o desligar de nossas consciências.



“(...) Eu acho que minha melhor peça, ao menos a que mais gosto, é a peça silenciosa. Ela é composta por três movimentos, e em nenhum deles existe (intencionalmente) sons. Eu queria que meu trabalho fosse livre de meus próprios gostos e desgostos, porquê a música deve ser livre de sentimentos e idéias do compositor. Eu senti e tive esperanças de ter levado outras pessoas a entender que os sons de seu próprio ambiente constituem uma música muito mais interessante do que a musica que eles ouviriam se fossem a uma sala de concertos.

Eles (o público) não entenderam o ponto. Não existe tal coisa, o silêncio. O que eles pensaram ser silêncio (em 4’33’’) por não saberem como escutá-lo, estava cheio de sons acidentais. Era possível escutar o vento soprando lá fora durante o primeiro movimento. Durante o segundo, gotas de chuva começaram a cair sobre o telhado. E durante o terceiro, as próprias pessoas começaram a fazer os mais variados e interessantes sons enquanto conversavam ou iam embora.”

Fonte: Cage conversation with Michael John White (1982), in Kostelanetz 1988, 66, in: Solomon, Larry J.: The Sounds of Silence




John Cage 4'33'' for piano (1952)














John Cage 4’33’’ Orchestra















Link dissertação:

“A Voz e o Silêncio em 4’33’’, de John Cage” – Juciane dos Santos.

Universidade Federal da Paraíba - PROLING/UFPB.


























2 comentários:

Chico Mouse disse...

Nossa, interessantíssimo!

Engraçado, nas escolas de música (de um modo geral), acho que isso é muito pouco explorado. Os professores dão pouca atenção às pausas, suspiros...

E a frase representa bem (des)pretensão da coisa toda: “(...) O significado essencial do silêncio é a desistência da intenção.” Gênio.

Ielison disse...

hoje em dia não existe mais o megaupload :/
será que tem como encontrar de outra maneira essa dissertação?