quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Roma: Da transitoriedade do "Ser"...


Pega, retorce, vira e martela. Dobra, amassa, recicla. Sempre em frente sem jamais olhar para trás. Pessoas vivem, pessoas morrem. Amigos morrem. E permanecemos. Somos talhados, martelados, forjados e retrabalhados. Mutação plena. Acordamos hoje sem jamais sermos o que eramos ontem.

  • Nós moldamos o “meio”, ou o meio nos molda? Em que medida somos reflexo do meio em que vivemos? Qual é o meio termo? “Ser” ou “aonde ser”?

Um mês em Roma & arredores. Um mês lidando com o meu “eu” inserido em outro meio. A palavra que me vêm em mente é a “transitoriedade”.

Ontem, tarde a noite pela Piazza di Spagna vazia, em suas pedras & asfalto refletindo o neon das lojas de alto luxo, escuto um belo Jazz com um trompete solo maravilhoso. Bom, provavelmente é uma das lojas mais “cool”, já fechadas.


Andando, seguindo pelas vielas de Roma, uma fileira de taxis encostados. Tarde da noite, pós chuva mediterrênea Invernal, pouco movimento. Eis que me deparo com a origem de tão belo Jazz. Um taxista, sem nada melhor para fazer, praticando seu hobby. Som ligado no carro, porta aberta, banco reclinado. Uma música em contrabaixo no som do carro em uma base pré-gravada. Tranquilamente, apontava seu trompete para cima, executando de maneira exímia um solo, tocando para ninguém que não fora ele mesmo.




A melancolia irrompe solta.

Minhas andanças por Roma me levaram a lugares inusitados. Para que ir ao Egito, se temos uma pirâmide maravilhosa nos subúrbios de Roma? Há 2 milênios os gatos decidiram que Roma era uma morada mais agradável que o Egito. Também, pudera, aqui se sentem em casa; afinal nunca vi povo tão fascinado com Obeliscos do que o Romano. Exagero, claro, mas provável que fica pau a pau o número de obeliscos aqui se comparado com a cidade do Cairo. Impressiona!

Um mês inteiro vasculhando Roma tanto no mainstream quanto no underground. Punks. Heavy Metal. Pessoas Descoladas. Loucos & Loucos – Os loucos Romanos, levam ao pé da letra a palavra “louco”.

Amizade com casais de velhinhos donos de cafés em pontos descolados. Amizade com casais de velhinhos donos de cafés aos arredores da Università degli studi di Roma la Sapienza. Velhinhos e velhinhos. Todos detentores de uma personalidade terna e quente. Amistosos. Exagerados em modos, mas o tipo latino da melhor espécie; param, conversam. Se interessam pela sua estória. Boas risadas. Um encanto de pessoas! Velha guarda, bem vividos. Pouco ou nada a ver com a nova geração de cidadãos Romanos. Estes frios, distantes. Um “q” de xenofobismos com pitadas de um ego do tamanho de um bonde.

Motoristas de ônibus Romanos pirados. Gente boníssima que quer apenas saber de viver em paz. Conversas. Experiências. Um senso de cordialidade que as vezes, me pego pensando que o ser humano a muito esqueceu.

A velha e boa Roma mantém o seu encanto. A velha e boa Roma também mantém seus segredos. Streghes; as “boas damas” ou “sábias”. Na Capital mundial do catolicismo, impressiona a quantidade de Streghes circulando pelas vias menos visadas. Algumas, vemos no metrô, trens ou ônibus. Interessante. Lidam com o dia a dia objetivo, a vida “capitalista”. Mas algo em seu olhar, certo brilho, indica que ao mesmo tempo, mantém contato e transitam entre tal mundo, e outro; de cunho bem mais sutil e subjetivo. Ahhh como gostaria de ter a oportunidade para pagar um café e conversar com uma destas!

A saber, as Streghes Italianas são uma potente estirpe de bruxas oriundas da região mediterrâea, sobretudo na região norte e centro da Itália.

Geralmente seguem a sincretização da Deusa Grega Ártemis, conhecida deusa da noite, da caça, magia e feitiçaria cujo nome Romano Diana, a principal divindade para a maioria dos grupos acadêmicos e praticantes da Stregheria ou, os Pupilli della Luna (Os Favoridos da Lua). No entanto, especula-se que existem grupos isolados de Streghes que seguem tradições cujas linhas de trabalhos são baseadas diretamente na cultura Etrusca, alegando-se detentoras de conhecimentos que são transmitidos de forma oral desde cerca de 1200 A.c.

Estão por aí; a 2.000, 3.000 A.c.

Hoje faz uma semana do falecimento de um amigo meu no Brasil, ou como chamamos aqui, a “terrinha”. 30 e poucos anos. Artista plástico cujo legado em uma espécie de “In memorium” foi uma tese de mestrado pela Unicamp.

E Roma está aqui, de pé. Este caldeirão de culturas. Interagindo, e sendo interagida. Absorvendo. Moldando-se. E moldando a tantos que por aqui vivem ou viveram. 2.700 anos de história. Nos limites da história real e história mitológica. Me pergunto:

  • Qual o sentido da transitoriedade humana?

Sinceramente, eu passo...!

Não buscamos objetivos na vida. Talvez, mais do que tudo, buscamos certezas. Mas certezas, tirando o “meio”, é demasiadamente relativa. Ou sabes aonde estará na próxima semana, mês ou ano...?

Seguindo sempre em frente, sem jamais olhar para os erros que ficaram para trás; amanhã subo um pouco mais ao norte do velho continente. Próxima parada, Frankfurt.

O que me aguarda por lá, fora um cemitério Celta e outros restos...?

Apenas a certeza de que o “meio”, é mais forte do que o “ser”...

Veremos... Veremos... Por hora, sempre ao Norte e Leste! Janeiro, decido o que fazer da vida, seja em Roma, Frankfurt, Paris, Praga ou Budapeste..



domingo, 7 de novembro de 2010

Help Marissa Nadler Record Her New Album


Sério,

Só coloquei isso aqui porque acho esta mulher muito charmosa e o trabalho dela, uma pegada meio dark folk melancólica, bem sombrio mesmo...

(Até porquê, ela já arrecadou o que precisava.. rs)

Se alguém quiser conhecer mais o trabalho, eis o link para a resenha do álbum "Little Hells" de Marissa Nadler...

Agora, se já conhecem; então assistam a bem bolada campanha dela para arrecadar fundos para os custos da gravação de seu novo trabalho... Belíssima iniciativa D.I.Y, em um vídeo simples porém super cativante...

(Sim, quem conhece sabe que a Srta. aí de baixo além de charmosíssima e talentosa musicista, é tímida!! Não é uma graça...?)

Link Vídeo:
















P.S -. Chuva em Roma, muita chuva...
Explicado...? rs

sábado, 6 de novembro de 2010

Violinos, Cello, Rock Pt. 25 - "The Pax Cecilia - Blessed Are The Bonds"



Em momentos de nítida iluminação e deslumbramento existencial, é impossível não deixar de falar um pouco sobre música, já que este que vos escreve não vive apenas de sonhos e “A Feiticeira” do Michelet enfiado debaixo do braço.

É preciso ir além, e uma boa trilha sonora ajuda e muito!

Portanto, deixa eu dar um “up” aqui em termos musicais, já que ando nessa vibe bizarramente boa.

Companhia constante em meu I”Steve”Pod, ando me chafurdando nos trabalhos de um grupo Independente chamado de “The Pax Cecilia” - Ah-rá!.

Sinceramente não faço ideia de que buraco chamado Henrietta no Estado de NY surgiram estes caras, e tampouco conseguiria arriscar a dizer qual o tipo de música que praticam. Ambient? Landscape? Eletro-acoustic? Art-Rock? Progressive Metal? Não tem como, é impossível! Até mesmo porquê a grosso modo, executam exatamente todos os gêneros mencionados aí em cima; com uma maestria e desenvoltura ímpar!

Blessed are the Bonds”, aparentemente é um daqueles trabalhos que a cada audição, nos faz perceber todo um leque de pequenos detalhes que passaram despercebidos anteriormente, e nos fazem apertar com insistência o maldito “rew” para escutarmos novamente determinadas passagens e absorver outras – diga-se de passagem, coisa que já fiz novamente aqui no meu note enquanto escrevo estas linhas.

Possuem uma característica interessantíssima, a multiplicidade de camadas sonoras diferentes, todas esquisitas, todas aparentemente desconexas, mas que no conjunto da obra fazem todo o sentido do mundo. Ora, múltiplas camadas de percussão - a boa e velha bateria em alguns andamentos quebrados do prog – extremamente acessíveis, riffs de guitarra animalmente escabrosos, baixos bem marcados, a força melódica de um terceto de cordas dando a característica tecitura sonora delicada que bandas que apelam para este recurso costuma apresentar, bem como linhas delicadíssimas de Piano solo acompanhado pelo Cello solo.

Um daqueles trabalhos que é basicamente impossível compreender em uma única audição. É preciso de umas dez. E já adianto, a cada uma, tornará-te mais fissurado no conjunto.

A construção da arquitetura sonora começa pela música “The Tragedy”, delicadamente assentando os alicerces do que será o álbum, em um piano elegantemente acompanhado por um Cello solo e após vários minutos, o resto da sessão de cordas da banda, incluindo o baixo e a bateria; assentando assim mais uma camada para toda a estrutura. Os vocais, logo flutuam para dentro e para fora; remetendo aos poucos a ideia da progressão sonora que compõe este trabalho.

And in songs like this one / they all blend together / seeking out others like themselves...”

Em uma audição contínua, percebe-se que as primeiras impressões poéticas em termos da estética sonora criada pelo “The Pax Cecilia” não condizem – embora perfeitamente integrada ao corpo musical – com o que se tornará a obra completa. Percebe-se logo que tudo caminha e transmuta para uma aceleração musical que a palavra “surreal” não faz juz.

Paralelamente ao piano que desce a tons mais densos e tensos, os vocais lentamente passam de gentis e suaves, para um tipo frustrado, furioso; cada um deles em contraponto, dando o balanço geral. Novamente, este detalhe se integra na estruturação geral do trabalho dos caras, sem soar descabido e adicionando uma certa aura de fúria poderosa – porém belíssima no sentido macro da proposta da banda. (Aliás, qual seria tal proposta? Se alguém descobrir favor me avisar em um comment, please.. ;)

Épico!

Um detalhe interessante nestes caras, é uma certa aura de filme noir em uma bizarra mistura com algo as vezes progressivo, as vezes jazzeado, e muitas vezes; distorcendo totalmente a paleta sonora que vinham utilizando até trinta segundos atrás. Uma verdadeira salada gourmet com toda a pinta de um prato que irá encher o estômago para um dia de trabalho pesado. Não estão satisfeitos? O que dizer então quando a coisa toda descamba para uma espécie de mistura de heavy metal, com piradas de uma espécie de metal core, e ainda amparado – e contrastado – com o Piano e o terceto de cordas, em uma explosão de raiva, melodias belíssimas e um pouco além, vai para o Landscape total? Sério, de uma maneira surreal a orientação musical envereda para uma espécie de música ambiente, com sérias tendências a melhor fase de Brian Eno. Mas se a esta altura já capturou – se é que é possível isso – a essência da banda, sabe que logo virá outro crescendo, mas permanece o mistério: O que virá agora...?

Lí em algum lugar que não me recordo agora que a melhor maneira de descrever a música do “The Pax Cecilia” seria imaginar o “Godspeed You! Black Emperor” tendo um revertério criativo, contratado um vocalista extremamente competente e decidido enveredar para o Prog. Heavy Metal, mas mantendo todas as características que fazem o Godspeed You! ser o que são.

Eu gostaria de classificar esta banda em alguma categoria musical mas eu simplesmente não consigo! Acho que é aceitável algumas comparações com a “Hey Rosetta!” (Já falei desta banda aqui?) já que ambas tem lá seu pé calcado no heavy metal mesmo que “em Passant”. Mas, algo não bate pois de certo modo toda a abordagem musical é diferente. Talvez seja de fato o piano.

No entanto, sei disso: “The Pax Cecilia” e seu “Blessed are the Bonds” é uma das poucas obras de arte que transcende uma definição, e transformam um punhado de notas musicais em uma força musical que irá sempre revelar algo novo a cada audição fazendo os soar novos belos, ameaçadores e refrescantemente novos.

Para um álbum que irá custar-lhes apenas 1 horinha de audição, não é nada mais e nada menos do que uma pequena obra prima.


Link: "The Pax Cecilia - Blessed are the Bonds"

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Politicamente Incorreto!

Divagações e enxeção de linguiça de um cara ranzinza e mal humorado (só por hoje...) com essa chatisse do tal "politicamente correto". Não me dêem um biscoito nem atenção que já já desencano disso tudo...

Andando pelas ruas de Roma é impossível não perceber um fato curioso: Roma provavelmente é a cidade dos fumantes.

Em uma cidade com mais de 2.500 anos de história pulsando por entre suas vielas, becos, monumentos e fontes, hordas e hordas de cidadãos Romanos bem como de outra miríade incontável de origens geográficas inusitadas, o que mais há em comum entre exemplos tão díspares de elementos humanos, é a pequena parcela de infinidade de marcas de cigarro que cada um carrega em seus bolsos, mãos e acesos, entre os dedos. Em uma rua escura, vê-se brasas, pequenos pontinhos andando para lá e para cá e eventuais exaladas de fumaça branca contra o céu noturno.

Per favore, mi dà l'accendino?” (por favor, me empresta o isqueiro?” se torna um fator inusitado para uma série de encontros casuais, despretensiosos, e que de vez em quando leva a uma companhia para um café e umas voltas pela cidade por alguns dias. Assim, conheci Nástya, uma russa pirada porém gente boníssima de St. Peterburgo, que de acordo com ela, estava “fugindo do inverno Russo em busca de café & climas mais amenos”.

Roma também é a capital da boa boêmia. As noites Romanas são entupidas dos tipos mais variados. Não raro em uma fila de alguma casa noturna, verá adiante um grupo de padres descendo uma rua, conversando, e sem olhares de reprovação direcionado a juventude ruidosa.

Mas ora, o Vaticano também não se encontra em posição de ditar bons modos bem como servir de exemplo para o que é ou deixa de ser politicamente correto.

Creio ser justo dizer que o cidadão médio aqui vai vivendo, vai vivendo... E não quer saber de encheção de saco. Respeitado isso, é a velha máxima Thelemita “faze o que tú queres e há de ser lei”. É a lei de fazer, respeitar o limite alheio e ficar na sua, divertindo-se. Na verdade o bom Romano – salvo algumas exceções – quer mais é que tudo se exploda em uma visível exacerbação do “estou cagando e andando para você”, ou “io no me frego un cazzo”. Pior? Acho que bem tem lá uma certa razão.

Uma das coisas que estavam me incomodando demais no Brasil era justamente esta onda do politicamente correto. Tinha que se tomar cuidado com quem se fazia piadas. Tinha que tomar cuidado com as opiniões alheias. Tinha que se tomar cuidado como se comportava em público. Nunca beber demais pois alguém poderia ficar sabendo e “pegava mal”. Fumante, então? Pronto, o cidadão é um meliante, praticamente um drogado com o pé fincado no ilícito. Ah, dá me...

Não sou religioso. Embora minha curiosidade tenha me levado a ir mais a fundo em tais assuntos do que muitos dos convertidos de final de semana – os mesmos, por sinal, que fazem um curso de fim de semana sobre a cabala Hebraica e viram experts no assunto, tenho lá meu conhecimento guardado a sete chaves. O suficiente ao menos, para saber que estamos aqui neste canto da existência para tudo, menos isso que vivemos em nosso dia a dia.

Me pergunto: Seriam resquícios da ditadura? É uma tendência natural do ser humano querer saber da vida alheia bem como dar pitacos sobre como devemos – ou não – viver nossas próprias vidas? Seria falta do que fazer? Sei que, a opinião não requisitada acerca da vida alheia não é uma opinião bem vinda. Mais, raramente deixo de notar traços de uma suposto complexo de superioridade quando escuto uma coisa dessas; escondido lá no canto, em um suposto sorriso de “sou seu amigo e me preocupo com você”. - Tá, claro, se é assim, me ajuda a pagar minhas contas?

Sei não pessoal... Por hora continuo por aqui... Mas é impossível deixar de ficar encafifado com a ideia de que por mais bagunçado que tudo isso aqui seja; o tal SPQR que víamos nos antigos quadrinhos e desenhos do Asterix; “Sono Pazzi Questi Romani” (São loucos, estes Romanos),se prova verdadeiro e com razão.! Afinal, o que são 500 anos da população Brasileira, perto dos 2500 anos da população Romana?

Em tempo: Que a esquerda – ora bolas, a direita também! - brasileira aprenda de uma vez por todas que o sinônimo para o termo “politicamente correto” é a palavra “chato”.