Pega, retorce, vira e martela. Dobra, amassa, recicla. Sempre em frente sem jamais olhar para trás. Pessoas vivem, pessoas morrem. Amigos morrem. E permanecemos. Somos talhados, martelados, forjados e retrabalhados. Mutação plena. Acordamos hoje sem jamais sermos o que eramos ontem.
Nós moldamos o “meio”, ou o meio nos molda? Em que medida somos reflexo do meio em que vivemos? Qual é o meio termo? “Ser” ou “aonde ser”?
Um mês em Roma & arredores. Um mês lidando com o meu “eu” inserido em outro meio. A palavra que me vêm em mente é a “transitoriedade”.
Ontem, tarde a noite pela Piazza di Spagna vazia, em suas pedras & asfalto refletindo o neon das lojas de alto luxo, escuto um belo Jazz com um trompete solo maravilhoso. Bom, provavelmente é uma das lojas mais “cool”, já fechadas.
Andando, seguindo pelas vielas de Roma, uma fileira de taxis encostados. Tarde da noite, pós chuva mediterrênea Invernal, pouco movimento. Eis que me deparo com a origem de tão belo Jazz. Um taxista, sem nada melhor para fazer, praticando seu hobby. Som ligado no carro, porta aberta, banco reclinado. Uma música em contrabaixo no som do carro em uma base pré-gravada. Tranquilamente, apontava seu trompete para cima, executando de maneira exímia um solo, tocando para ninguém que não fora ele mesmo.
A melancolia irrompe solta.
Minhas andanças por Roma me levaram a lugares inusitados. Para que ir ao Egito, se temos uma pirâmide maravilhosa nos subúrbios de Roma? Há 2 milênios os gatos decidiram que Roma era uma morada mais agradável que o Egito. Também, pudera, aqui se sentem em casa; afinal nunca vi povo tão fascinado com Obeliscos do que o Romano. Exagero, claro, mas provável que fica pau a pau o número de obeliscos aqui se comparado com a cidade do Cairo. Impressiona!
Um mês inteiro vasculhando Roma tanto no mainstream quanto no underground. Punks. Heavy Metal. Pessoas Descoladas. Loucos & Loucos – Os loucos Romanos, levam ao pé da letra a palavra “louco”.
Amizade com casais de velhinhos donos de cafés em pontos descolados. Amizade com casais de velhinhos donos de cafés aos arredores da Università degli studi di Roma la Sapienza. Velhinhos e velhinhos. Todos detentores de uma personalidade terna e quente. Amistosos. Exagerados em modos, mas o tipo latino da melhor espécie; param, conversam. Se interessam pela sua estória. Boas risadas. Um encanto de pessoas! Velha guarda, bem vividos. Pouco ou nada a ver com a nova geração de cidadãos Romanos. Estes frios, distantes. Um “q” de xenofobismos com pitadas de um ego do tamanho de um bonde.
Motoristas de ônibus Romanos pirados. Gente boníssima que quer apenas saber de viver em paz. Conversas. Experiências. Um senso de cordialidade que as vezes, me pego pensando que o ser humano a muito esqueceu.
A velha e boa Roma mantém o seu encanto. A velha e boa Roma também mantém seus segredos. Streghes; as “boas damas” ou “sábias”. Na Capital mundial do catolicismo, impressiona a quantidade de Streghes circulando pelas vias menos visadas. Algumas, vemos no metrô, trens ou ônibus. Interessante. Lidam com o dia a dia objetivo, a vida “capitalista”. Mas algo em seu olhar, certo brilho, indica que ao mesmo tempo, mantém contato e transitam entre tal mundo, e outro; de cunho bem mais sutil e subjetivo. Ahhh como gostaria de ter a oportunidade para pagar um café e conversar com uma destas!
A saber, as Streghes Italianas são uma potente estirpe de bruxas oriundas da região mediterrâea, sobretudo na região norte e centro da Itália.
Geralmente seguem a sincretização da Deusa Grega Ártemis, conhecida deusa da noite, da caça, magia e feitiçaria cujo nome Romano Diana, a principal divindade para a maioria dos grupos acadêmicos e praticantes da Stregheria ou, os Pupilli della Luna (Os Favoridos da Lua). No entanto, especula-se que existem grupos isolados de Streghes que seguem tradições cujas linhas de trabalhos são baseadas diretamente na cultura Etrusca, alegando-se detentoras de conhecimentos que são transmitidos de forma oral desde cerca de 1200 A.c.
Estão por aí; a 2.000, 3.000 A.c.
Hoje faz uma semana do falecimento de um amigo meu no Brasil, ou como chamamos aqui, a “terrinha”. 30 e poucos anos. Artista plástico cujo legado em uma espécie de “In memorium” foi uma tese de mestrado pela Unicamp.
E Roma está aqui, de pé. Este caldeirão de culturas. Interagindo, e sendo interagida. Absorvendo. Moldando-se. E moldando a tantos que por aqui vivem ou viveram. 2.700 anos de história. Nos limites da história real e história mitológica. Me pergunto:
Qual o sentido da transitoriedade humana?
Sinceramente, eu passo...!
Não buscamos objetivos na vida. Talvez, mais do que tudo, buscamos certezas. Mas certezas, tirando o “meio”, é demasiadamente relativa. Ou sabes aonde estará na próxima semana, mês ou ano...?
Seguindo sempre em frente, sem jamais olhar para os erros que ficaram para trás; amanhã subo um pouco mais ao norte do velho continente. Próxima parada, Frankfurt.
O que me aguarda por lá, fora um cemitério Celta e outros restos...?
Apenas a certeza de que o “meio”, é mais forte do que o “ser”...
Veremos... Veremos... Por hora, sempre ao Norte e Leste! Janeiro, decido o que fazer da vida, seja em Roma, Frankfurt, Paris, Praga ou Budapeste..