quinta-feira, 24 de julho de 2008

"Por Um Olhar..."


Olhar
. [Do lat. *Adoculare, atr. das f. aolhar, oolhar, oulhar] V.t.d. 1. Fitar os olhos ou a vista em; mirar, contemplar. 2. Olhar de cara; encarar. 3. Estar em frente de; estar voltado para: "Sua janela olhava para o rio." (...) 14. ESTAR MAIS ELEVADO; estar sombranceiro. 16. Exercer ou aplicar o sentido de vista; procurar ver: "Prova. Olha. Toca. Cheira. Escuta. / Cada sentido é um dom divino." (Manuel Bandeira; Estrela da Vida Inteira, Pag. 20). 17. Bras. Deitar os olhos; Rebentar; Brotar; "O chão parece um tapete verde, as arvores começam a olhar, os algodoais, as ervas, tudo ressurge e revigora ao sopro vivificador da nova estação." (M. Rodrigues de Melo, Várzea do Açú, p. 31) - Novo Dicionário Aurélio, Pág.995 - Ed. Nova Fronteira.

Diz o ditado popular que os olhos são a janela da alma.
Mentira. Dissimula-se o olhar da mesma maneira que dissimulam-se as palavras. O "olhar" hoje já não tem um senso de real valor dentro de nossa sociedade, talvez porque a humanidade esteja dando cada vez mais lugar à objetividade, do que à subjetividade. O ato de apaixonar-se. O ato de se emocionar ao ver uma bela arquitetura antiga. O ato de se sentir pleno, completo e em paz, no meio de um arvoredo, ouvindo os sons do vento e de tudo o que é vivo e te rodeia.

...ou, acordar em uma madrugada fria, e perceber ao seu lado a mulher que você ama, perdida em seus sonhos; enquanto você apenas fica alí, observando-a, seu rosto confortavelmente aninhado em seus travesseiros, e seus cabelos levemente bagunçados.

Houve um outro tempo, em uma outra cidade, em que tive a honra de poder ver um destes momentos; relacionado à uma ex- namorada que hoje tenho como uma irmã. Estávamos em seu quarto, e ela, mulher feita, tirou de uma estante um pote de vidro aonde guardava uma pequena coleção de pedras. Sublime; quase infantil, a maneira como seus olhos brilhavam enquanto, diante de várias lindas pedras espalhadas sobre sua cama, ela me contava sobre cada uma delas. Era o seu olhar. Sua expressão. Sua alma. Inocência. Esta lembrança me acompanha por anos já. Mesmo agora, momento em que escrevo sobre isto neste caderno cujas páginas estão manchadas de vinho barato, ainda vejo aquele olhar...
Passaram-se anos até que tivesse a oportunidade de rever tal olhar novamente, infelizmente não no âmbito pessoal. Passaram-se anos até eu criar coragem e assumir o que sou. Passaram-se anos até que eu entendesse que a minha natureza depende de algo tão subjetivo quanto a música. E com a aceitação veio o Cello. Minha antiga professora. E novamente tal olhar, as vezes que pude vê-la se relacionando com seu Cello.

Desde então me tornei um Voyeur, um colecionador destes olhares tão específico, tão íntimos e; talvez por isso mesmo, tão raros de se encontrar. São olhares verdadeiros. São olhares ternos e completos. São olhares que transmitem paz.

Quem sou eu para explicar a real natureza de tais olhares? Ninguem. Mas, tampouco, como a música em sí, tento estabelecer algum propósito com as palavras deste texto...

Apenas constato de certo modo feliz, que não sou o único que observa isto...


-> Uma Breve coleção de olhares e um mp3...

Tori Amos - Interview - A partir de 04:53s.










Vyvienne Long (Cello) - A partir dos 04:27s. (E claro, a vocalista Lisa Hannigan ao longo do video...)










Uma Mp3... Human Drama
"A Million Years" - (Live, 14384 days later)
Link aqui


"A Million Years"
Push a pin into my arm
I will bleed like anyone
Pull it out and I forget

On a trail blazed with words
One that I was lost upon
The road that I depended on
I follow no more

Tortured man take your hand
Take it from the fire now
Place it in cool water

A hypocrite is one who prays
Only when he feels pain
It's time to open your eyes
So open your eyes

I could wait a million years
Look into a billion eyes
To find another love like this
I could wait a million years

The slamming door the unseen wall
The hurt I never could forget
I struggle to remember

And take my hand from the fire
Refusing all intended scars
You are cool water
Into you, I swim

I could wait a million years
Look into a billion eyes
To find another love like this
I could wait a million years

Held still in one place for too long
Gone blind to the miracle of saving
I pray this angel in my eyes
Was put here to save my life

Through your eyes I feel your soul
What I feel I must believe
What I believe I live
And this coming from a man who clenched

The truth so tight in his hands
Then opened to find evil
Found trusting
Love again

domingo, 20 de julho de 2008

Violinos, Cello, Rock... Pt. 02 -> Emilie Autumn


Como descrever esta vocalista e multi-instrumentista performática chamada Emilie Autumn?
Lí em algum outro lugar que ela pratica um tal de "Acid Jazz", "Punk Cabaret", "Dark Cabaret" entre tantos outros rótulos possíveis. Aliás, é nítida a influência deste último, através da mistura da estética luxo-decadente dos cabarets Alemães da decada de 20, com o vocal de Emilie remontando ao estilo de Marlene Dietrich e a cultura mórbida pós anos 70 do rock gótico, punk, death e darkwave. Apaixonante!
Mas curiosamente. talvez ela esteja de fato correta ao defirnir seu estilo como industrial vitoriana, tanto por suas vestimentas nada ortodoxas bem como seu próprio gosto musical para as composições, que oscilam entre a música clássica da época vitoriana e barroca, mas fortemente calcada na música contemporânea.

Carismática, a garota é talentosíssima pois alem de possuir uma bela voz, mostra um domínio quase perfeito em seus instrumentos; sejam estes o violino, piano, cravo ou a viola. De fato, A banda é fortemente direcionada ao violino com distorção, batidas distorcidas e muito, muito "feeling", com direito a belos vocais característicos do Jazz com a poderosa voz de Emilie. Mas não se enganem, pois a mesma mostra toda a sua potência vocal ao caminhar sem frescuras - e com bastante tranquilidade - entre vocais suaves e melódicos, até chegar ao gutural.

Tendo iniciado seus estudos musicais aos seis anos de idade, logo abandonou os métodos convencionais de aprendizado devido à dificuldade de interação entre ela e seus colegas de aula, preferindo assim continuar suas lições através de aulas particulares em sua casa. Neste período ela desenvolveu parte de suas bases artísticas nas quais futuramente ela desenvolveria seu alter-ego pós-vitoriano industrial, de acordo com suas palavras “(...)lendo qualquer coisa que estivesse debaixo do sol, desde livros de história da música passando pela literatura feminista, até chegar à Shakespeare”

Em sua fase de amadurecimento tanto artístico quanto pessoal, ela passou por uma série de transformações em seu visual – loiríssima de nascença com belos olhos verdes – até chegar ao que ela é hoje, uma mistura carregadíssima, mas ainda assim delicada e graciosa que inicialmente parece contraditória, mas após; revela-se extremamente sólida. Com seus corpetes, cinta-ligas, coturnos, cabelos rosa-flamboyant e trejeitos de uma boneca endiabrada saída de algum delírio do artista plástico Dave Mckean, esta moça consegue cativar pela absoluta coesão entre seu trabalho, estilo, e para alguns,beleza fetichista.

Altamente recomendado para pessoas que são capazes de suportar e buscam algo que seja completamente fora do convencional em se tratando de música moderna, mesmo com uma pinta toda retrô...

De olho nesta garota!



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- Emilie Autumn
"Misery Loves Company Live"

terça-feira, 15 de julho de 2008

Gosto de mulheres violoncelistas...


Engraçado derepente a coisa se torna até um pouco fetichista pois ao meu ver não tem coisa mais sensual que uma mulher tocando cello e se doando àquilo. É bonito. É orgânico. É erótico. Vê-se uma relação intima alí.

Ando com neuras em cima de algumas sonatas para cello, de Vivaldi. E sinceramente é de arrancar suspiros de qualquer um, poder ver uma linda mulher se relacionando com seu instrumento, e extraindo dali “Allegro Poco – RV 44”. bem, sinceramente não sei... Como disse, fetichismo puro.

Até ando acreditando que existe alguma coisa mais transcendental ali naquele momento. Já notou que em algum momento de sua vida... aaaammmm...

Bem... é...

e...

e... caralho que merda!

Perdi a meada do que queria dizer...

Nossa meu que merda isso...

Enfim, vi a apresentação da OSESP em Piracicaba ontem lá no Engenho Central. Surpresíssimo ando encontrando gratas surpresas neste mundo aparentemente... Ahhh bem; assim a coisa ta legal?

Fiquei surpreso com uma peça que não conhecia; “Batuque”, por Oscar Lorenzo Fernandez, compositor Brasuca. E no mínimo engraçada a colocação do Maestro da OSESP: - “Definitivamente nossa interpretação de o ‘Batuque’ é melhor do que a Sinfônica de Nova Iorque”.

Ritmos Brasileiros, a grande maioria das vezes não sou lá muito fã deles, mas sinceramente fiquei surpreso com o que é possível se fazer com eles em cima da música erudita...

sexta-feira, 4 de julho de 2008

"The Dreamers" - Os Sonhadores


Nunca fui fã confesso de Bertolucci, embora por sucessivas vezes meu irmão tanto me insistira à alugar "O Céu Que Nos Protege".

Pois bem, além do famigerado e belo "Último Tango em Paris" o qual assisti já ha muito, hoje durante minha abitual insônia tive a oportunidade de assistir à outra obra deste diretor.

"The Dreamers"; ou "Os Sonhadores.

Em Maio de 1968, a câmera desce veloz arrastando os créditos iniciais pela estrutura de aço da Torre Eiffel até encontrar o jovem Norte Americano Matthew, um estudante de temática do cinema clássico na calçada; apressado a caminho da Cinemateca... para celebrar Samuel Fuller em Paris (quando o cinema norte-americano era ainda "grande cinema"). Completamente apaixonado por cinema, ele rapidamente faz amizade com a jovem Francesa Isabelle e seu irmão gêmeo Theo. Os três têm, em comum, uma enorme paixão pelo cinema, sobretudo cinema clássico. A amizade entre eles começa a florescer e Matthew passa a descobrir uma intimidade fora do comum, da qual os irmãos franceses compartilham, em meio a jogos psicológicos sob a sob a temática do cinema clássico.

Matthew fica inicialmente confuso e impactado, mas aos poucos começa a ser atraído para o mundo deles. Por todo o tempo eles vivenciam uma paixão mútua e isolam-se totalmente do mundo, distanciando-se completamente do contexto conturbado em que vivia a França em maio de 1968.

A vertigem desse filme magní­fico (declaração de amor ao cinema e ao sonho libertário de 68 que não cessa de se acabar) começa aí­ e nos arrasta para a experimentação e descoberta dos corpos e do sexo emergindo das barricadas do desejo de 1968 - quando, contra o impossível de desejar, desejar o impossível tornou-se urgência- pondo em série num mesmo fluxo, cinema norte-americano + Hendrix + Joplin + Trenet (expor o corpo ao som de La mer, irresistível afirmação) + Piaf para indicar de onde saí­mos, um puritanismo surpreso mais um Édipo um tanto gordo se esquizando sem papai nem mamãe entre as paredes do apartamento atravessadas pelos ruídos das ruas. Vozerios, explosões e gritos que chegam pelas janelas - e caminhando para a própria dissolução nas suas barricadas; quando percebem finalmente o enorme estardalhaço vindo das ruas de Paris. Havia estourado uma grande rebelião de estudantes e, como que se acordassem de um sonho, decidem unir-se ao movimento.

Possível parte final de Novecento, mas principalmente retomada de Beleza roubada, disse Bertolucci - descobri através de posterior pesquisa ao grande pai-google , e não, como alguns pensaram ser a retomada do acima mencionado - e magnifico - Último Tango em Paris (um outro tom, embora tamém um Norte-Americano, mas não-inocente; e sim, angustiado em busca de uma terrinha que se encontra com uma parisiense se desterritorializando de papá via Francis Bacon mais o sax de Gato Barbieri; isto é, um outro olhar, mais severo e inquiridor, para o cinema). The Dreamers neste sentido, definitivamente é mais inocente e por isto mesmo, evoca uma aura de sensualidade muito mais refinada do que "Último Tango em Paris"

Não me arrependo de nada, canta Edith Piaf enquanto os créditos correm ao revés (subindo, em movimento inverso ao da abertura), tendo como imagem a desolação despovoada da barricada incendiada cindindo a rua. É este o puro Bertolucci que tanto falam?

Então vos questiono e digo com certeza; Cinema-sonho? Cinema-psicanálise? não, puro cinema calcado nas mais profundas conexões entre o sonho, o auto-descobrimento e perda da inocência.

Recomendadíssimo para quem deseja cinema-poesia & arte em sua mais pura essência...

La mer
Qu'on voit danser le long des golfes clairs
A des reflets d'argent
La mer
Des reflets changeants
Sous la pluie

La mer
Au ciel d'ete confond
Ses blancs moutons
Avec les anges si purs
La mer bergere d'azur
Infinie

Voyez
Pres des etangs
Ces grands roseaux mouilles
Voyez
Ces oiseaux blancs
Et ces maisons rouillees

La mer
Les a berces
Le long des golfes clairs
Et d'une chanson d'amour
La mer
A berce mon coeur pour la vie.

terça-feira, 1 de julho de 2008

"Uma questão de atrito... - Interno!!"


Queria escrever algo aqui. Só não sei ao certo o que gostaria de dizer. Talvez nada, talvez só divagar um pouco.

Bom, após um período relativamente grande, eis que a depressão me pegou novamente, ou como tão singelamente diz uma grande amiga, “de volta ao vale”. Dois dias que coloco a cara para fora do quarto, apenas para comer alguma coisa, e tomar os devidos banhos.

É interessante a noção que a gente cria da realidade em cada estado de espírito diferente. Até antes de ontem, minha vida estava livre, leve... Ontem, sem motivo nenhum as coisas desmoronaram novamente. Arquitetura interna, algo da alma, fundações corroídas. Assim não dá mesmo, construir qualquer coisa em um terreno psíquico destes se torna absurdamente instável.

Tenho saudades de algumas pessoas. Algumas delas, sequer tive um contato real, apenas por curtíssimos períodos de tempo, como em uma noitada por exemplo. Outras, pessoas as quais desejava sinceramente poder conhecer mais aprofundadamente mas não conheço. Não existem chances, e os caminhos não se cruzaram por vezes o suficiente. Nos apegamos à sonhos, construções e idealizações do que queremos ser um dia. Mas para que? “Um dia” é algo também bastante ilusório...

Por hora me apego a um ou dois sonhos, sendo que o principal que construí nas últimas semanas, não sei se irá de fato sair do papel. Fuga? Não sei, talvez. Mudanças geográficas planejadas não são fugas, a grosso modo?

Abri o Estadão de domingo, algo a respeito dos movimentos de migração. É dito ali que grande parte das pessoas que decidem abandonar tudo, não o fazem apenas pela busca de oportunidades melhores. Também o fazem, por frustração em relação ao lugar aonde vivem. Frustração com as desigualdades sociais. Frustração com as relações sociais... Bem, acho que sou um destes...

Enfim...

Não tenho muito o que dizer realmente...

Ao menos... Meu Cello me acompanhou hoje... Hora de retomar... Como lí em “Notes on Interpretation” de Emanuel Feuermann... É tudo uma questão de “atrito”... Para um som belo, é necessário um tipo específico de atrito nas cordas... Então, comigo, vai ver que o atrito interno que estou me submetendo, não é o atrito correto para produzir algo que seja belo...