quinta-feira, 26 de março de 2009

Violinos, Cello, Rock Pt. 17 - Rasputina / Melora Creager



Temos aqui um outro exemplo de como a união entre uma mente perturbada e um Cello, podem contribuir para o surgimento de pequenas pérolas musicais.


Formada pela Cellista Melora Creager em Nova Iorque em 1992, a banda é como um sonho molhado saído de algum sonho de Edward Gorey: Uma mistura cativante de música de câmara, uma textura meio gótico-metal dos fins dos tempos, corsets empinados de algum brechó Vitoriano bem como um humor negro dos mais sarcásticos. Sério. Demorou um bom tempo até que eu conseguisse digerir completamente o som produzido por eles. Denso. Soturno. Bonito. Sarcástico. Por vezes uma melancolia afetada, como em um desdém.


Facilmente Rasputina pode ser vista como uma cria maldita dentro do meio dos Cellistas, pois, embora suas vestimentas dêem um certo ar teatral ao grupo, eles conseguiram fundir inúmeros elementos diferentes do rock, pop, clássico e câmara com bastante sucesso. E, descartando-se o elemento teatral, se torna bem óbvio que a banda apresenta uma quantidade gritante de substância e estilo próprio.


Em suas apresentações, a Srta. Creager – bem como quem possa estar fazendo parte da Rasputina no momento – costuma vestir tais trajes e empunhar heroicamente seus Cellos, devidamente acompanhadas por um baterista.


Com 10 anos de estrada, 4 albuns e alguns singles; já no álbum de estréia – “Thanks for the Ether”, eles mostraram que não eram apenas uma banda de rock com três Cellos e uma bateria. Na verdade este álbum foi uma abertura simbólica dos cadeados do hospício, pois ele mostrou quanta bizarrice estava por vir dali para frente.


Já na primeira faixa “My Little Shirtwast Fire”, a Srta. Creager narraa uma história que faz alusão ao incêndio da fábrica de tecidos Triangle Shirtwaist Factory, que matou 145 funcionárias em 25 de Março de 1911. No refrão, em tom de desespero, acompanhada de cordas cortantes e uma bateria propositalmente fora de ritmo, Melora suplica “Yes, we’re burning can you help us please? / Yes, we’re begging, we’re on bended knees” .



O tom de bizarrice e o interesse por tragédias demonstrados em suas melodias banda são reforçados na música “The Donner Party”, onde a vocalista narra a história de um grupo de imigrantes que ficaram presos em uma nevasca em Sierra Nevada e, pela sobrevivência, passaram a comer aqueles que não sobreviveram ao desastre.


Aliás, as letras em si são um show a parte:


Ao invés de escrever músicas que são de entendimento fácil e óbvio, a Srta. Creager prefere sair da obtusidade geral e se prende a uma mistura de divagações pessoais acerca do mundo que a rodeia. Músicas como "My Little Shirtwaist," "Nozzle," "Transylvanian Concubine," "Howard Hughes," e "Rusty the Skatemaker" são quase impossíveis de serem categorizadas ou entendidas; apenas após uma bela reflexão. Liricamente, a Srta. Creager desafia a si própria bem como seus fãs; atingindo resultados extraordinários.


Vale dizer que entre as Cellistas que já integraram a Rasputina estão a Cellista Julia Kent (Atualmente Antony & The Johnsons) e Zöe Keating (Atualmente com Amanda Palmer) – Todas devidamente resenhadas no Vinho & Cigarros.


Deixo aqui seu álbum ao vivo, o “Radical Recital” por conter algumas das músicas que mencionei acima; bem como também dar uma vaga idéia de como são os shows do Rasputina: Hilários, divertidíssimos!

Muito bom!




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quarta-feira, 25 de março de 2009

Tese: A física e a técnica interpretativa de Emanuel Feuermann



Nas palavras do grande Pablo Casals: "What a great artist Feuermann was! His early death was a great loss to music.".

Como já disponibilizei cá por estas bandas o trabalho de Emanuel Feuermann conhecido como “Notas sobre a interpretação”; dando continuidade aproveito e deixo aqui o trabalho de doutorado do Cellista Norte Americano Brinton Smith.

Seu trabalho, “The Physical and Interpretive Technique of Emanuel Feuermann” (A física e a técnica interpretativa de Emanuel Feuermann” lhe garantiu o titulo em doutor de artes musicais pela Julliard School, em Nova Iorque.

Acredito que vai lhes ser bastante útil.

O trabalho todo é dividido além de especulativo – pois Emanuel Feuermann não deixou muitos escritos – também é comparativo acerca suas técnicas, mas não caindo no erro da categorização em “melhor” ou “pior”.

O segundo capítulo contém uma análise detalhada dos dois trabalhos disponíveis comercialmente das suas gravações dos concertos para Cello de Dvorak; que são contrastados com as gravações de Casals, Piatigorsky, Rostropovich e Yo-Yo Ma; possibilitando através disso, as diferenças interpretativas que permitem definir a técnica utilizada por Feuermann.

No terceiro capítulo, analisa-se a fundo as três gravações dos concertos de Schumann, e novamente, as mesmas são contrastadas com as edições por Joachim Stutschewsky, Leonard Rose and Heinrich Schiff. Particularmente bastante interessante as anotações acerca da escolha de Feuermann para arcadas e pizzicatos.

O quarto capítulo é uma análise dos aspectos físicos da técnica de Feuermann, observados em uma filmagem. E novamente, para uma definição do que é diferente ou incomum em sua técnica, são usados vídeos com performances de Casals, Piatigorsky, Rostropovich e Yo-Yo Ma. São analisados atributos físicos como a posição do corpo, altura do espigão em comparação à uma análise física dos mecanismos da mão direita x arco x ombro bem como da mão esquerda x dedos x ombro.

Enriquecedor e no mínimo, bastante proveitoso.



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terça-feira, 24 de março de 2009

Violinos, Cello, Rock Pt. 16 - My Latest Novel


Banda Escocesa bem legal.

Na verdade, muita ênfase nesse “bem legal”. É muito 10 mesmo!

My Latest Novel é um quinteto baseado em Greenrock, perto da Glasgow, na Escócia, atualmente contando em sua formação, um violino nas habilidosas mãos de Laura McFarlane; bem como ocasionais intervenções de uma Viola e um Cello, embora estes dois últimos não fazem parte da formação da banda; só aparecendo como convidados especiais em certas músicas.


Com uma atitude boêmia e melodias folk fáceis como base musical, o grupo desenvolve uma espécie de rock teatral brilhante, em que usam e abusam do contraste entre o melancólico e o “bom” humor. Utilizam muito do “falar” e não cantar; em algumas músicas sugerido através disto um processo narrativo. E, não são poucas às vezes para quem é mais aberto a esquisitices musicais; que a banda no meio de uma de suas faixas simplesmente mude completamente a direção sonora e atmosfera; fazendo com que o ouvinte fique com coceiras em andar até o display do CD player para saber se de fato é a mesma música que esta rolando. Interessantíssimo!


Existe algo de 3epkano na musica deles, embora a proposta seja bem diferente e a tessitura sonora que estes exploram é tão densa quanto, eles tem uma certa leveza que o 3epkano não tem. Mas isto se deve até mesmo do foco musical de ambas as bandas: 3epkano trabalha na criação de “trilhas sonoras” em filmes antigos em P&B, transformando suas apresentações em uma interação constante entre o áudio e o visual.


Já My Latest Novel, sem o recurso do isual, acabam trabalhando com o foco 100% direcionado a textura sonora. Temos como resultado este maravilhoso álbum que é o “Wolves”, um trabalho intrigante e altamente evocativo; calcado na melancolia folk e devaneios bucólicos. Um verdadeiro achado, que vale a pena deixar algumas vezes no “repeat”...




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terça-feira, 17 de março de 2009

Lee Summers - Cello & Polaroid



Okay,

Dando uma surfada pela web para coletar idéias e fazer aquelas pesquisas básicas, me deparei com este fotógrafo que fez uma série de fotos bem bacanas envolvendo uma garota e um cello. Indo na contramão da era digital, ele utilizou uma Polaroid para fazê-las. Bem bacana! Sei lá porquê, resolvi postar aqui também. Talvez alguém se interesse...










Interpretação: Variações da expressão melódica...


Quando tudo corre bem com os estudos relacionados ao Cello, naturalmente chega um momento em que pela prática adquirida, você deixa de se preocupar com o ritmo e a entonação das notas.


Acho que este é um dos momentos mais legais no aprendizado do instrumento; quando você percebe que o ato de “tocar” vai além da simples execução de uma partitura por exemplo. E também, se não tomar cuidado, pode ser um momento bem frustrante do estudo devido à ainda existentes limitações técnicas.


Muitas vezes quando ouvimos um arranjo criado e executado no Cello, percebemos um algo vivo no som, como se o mesmo fosse orgânico, dotado de vida e emoções próprias e oras, de certo modo o é. E, como músicos muitas vezes, nos sentimos tentados a copiá-los. Sabemos quais tons e nuances queremos atingir, mas não temos certeza de como fazê-lo. Entendemos quais são os ingredientes que compõe e fazem variar o som cru; e às vezes, parece que tudo o que precisamos é uma espécie de livro de receitas que nos ensine quando e em quais proporções devemos usar tais ingredientes dependendo das cores e sons que queremos atingir.


Vale dizer que embora muitas das técnicas necessárias para a cor e a vivacidade do som são relacionadas à mão esquerda; é o arco que é realmente é o “mestre” em dar vida ao som. Então, é primordial ter domínio sobre a velocidade do arco bem como ponto de contato e manuseio do mesmo.


Como disse uma vez o célebre Cellista Paul Tortolier, “(...) Eu notei que quando alguns de meus alunos finalmente corrigem alguns maus hábitos técnicos, existe uma mudança em sua interpretação. Eles percebem que suas interpretações tinham sido tão medíocres quanto sua técnica.”


Esta “transição” interpretativa é bastante natural, e naturalmente não existe uma regra rígida para se passar por ela.


“Eu... segui mais pelo modelo ensinado por Rostropovich, uma arcada bastante profunda e difusa, aonde o controle do arco se dá mais através da própria palma da mão, o que me ajudou a atingir a sonoridade que eu desejava” Carter Brey


“Eu percebi através de Rostropovich que sua aproximação rígida às vezes impede a produção de certos sons, restringindo assim a gama de expressões possíveis. Certos sons não estavam disponíveis ou até mesmo eu sequer imaginava; por que eu seguia muito a risca as regras técnicas de Starker” Maria Kliegel


Interessante que Rostropovich foi a influência corruptora para estes dois Cellistas.


É, importante ressaltar que antes de entrar no mérito das ‘experimentações” em busca das cores e nuances sonoras, é importantíssimo tentar atingir a maior gama possível de expressões sonoras, calcados na técnica.


Quando finalmente perceber que apenas a técnica não lhe ajudar a atingir um resultado esperado então talvez seja a hora de começar a experimentar novas idéias. Talvez tocar com os dedos mais rígidos certas passagens. Ou quem sabe, as articulações dos dedos mais rígidas. Ou mais soltas. Cotovelo mais baixo. Pressão maior no arco. Arcadas sobre o espelho. Ou mais próximo ao cavalete. Aumentar ou diminuir a altura do espigão. Ou, qualquer outra coisa que você tenham lhe dito ou que você imagine ser tecnicamente ruim ou errado.


Apenas tente novas idéias.

Veja, eu não estou dizendo que devem começar a utilizar tais métodos pouco ortodoxos a toda hora, mas apenas que “talvez” existam momentos que tais técnicas (??) possam ser úteis.


Por exemplo, o Cellista Lynn Harrell. Muitas das técnicas e idéias empregadas por ele, jamais serão encontradas em qualquer método ou livro.


“Às vezes eu seguro o arco com os dedos de um jeito raso de modo que os dedos não cheguem tão perto da crina, como no modo convencional na pegada do arco.

O polegar toca a própria vareta do arco e não se apóia tanto no talão. Assim, a mão fica em uma posição relativamente alta para que você possa torcer o arco entre o polegar e o resto dos dedos. O dedo mínimo pode ser posicionado em cima da vareta do arco, como um violinista, e o pulso oscila naturalmente. Esta pegada de arco é para a execução de sons mais delicados. O maior problema de se manusear o arco desta forma, é a dificuldade de impedir que o arco gire em ao redor de seu próprio eixo pois você está segurando algo que é arredondado e pode se mover sob a pressão exercida no arco, principalmente nas cordas mais baixas.”


“(...)Para uma pegada mais potente, eu costumo abaixar meu terceiro e quarto dedo. O terceiro, eu abaixo até que eu consiga segurar embaixo do talão, e o quarto quase embaixo do talão também. O polegar, diretamente encaixado no talão, mas em ângulo, para que ele não deslize. Mantenho meu pulso firme nesta posição. Nesta posição, é quase impossível torcer o arco, é como se estivesse segurando um bastão de baseball, o que garante a potência.”


Mas é interessante também que, após a experimentação de cada nova idéia, se a mesma se mostrar útil; que faça também uma análise dos “porquês” de tal idéia ter se mostrado útil, bem como quando e aonde ela pode ser aplicada. A grande maioria dos clássicos, não permite tantas invenções, experimentalismos ou ousadia.


Também é válido dizer que o quanto mais você se torna ciente da sua mecânica corporal e movimentos, mais amplo se torna seu leque de opções sonoras possíveis. Que tipo de som você pode produzir movendo seu pé esquerdo enquanto toca, por exemplo?


Oras... Talvez no final, você irá perceber que tudo não deixe de ser uma questão de “deixar-se levar”.



quinta-feira, 5 de março de 2009

Damien Rice BBC Four Sessions


Falando em Lisa Hannigan no post anterior,


Segue aqui o .AVI do maravilhoso registro ao vivo “Damien Rice – BBC Four Sessions”.


Embora já há alguns anos acompanho a carreira deste cidadão, nunca escrevi nada a respeito do mesmo por aqui, apenas das suas co-parceiras de composição, a Srta. Hannigan e a Srta. Long. Explico: Não vou com a cara dele.


Mas musicalmente falando dou o braço a torcer, o cara é bom; e também injetou sangue novo em um mercado musical que estava saturado de bandas sem nenhuma representatividade real, isto é, meros produtos a serem comercializados no mercado. Música cheia de uma atmosfera toda própria. Música de coração. Sofisticada. Delicada. Intimista. Dou o mérito a ele por mostrar que musicalmente dizendo; muitas vezes a simplicidade aliada a uma atitude despretensiosa realmente é o que há de mais sofisticado.


– Mas ainda assim, me dou o direito de não ir com a cara dele.


O maior problema quando um artista como o Sr. Rice atinge o estrelato, é a quantidade de sub-produtos musicais que são despejados no mercado logo na seqüência, tentando seguir a trilha de sucesso criado pelo artista original; e na grande maioria dos casos, atingindo resultados medíocres e esgotando a fórmula até que a mesma se torne cansativa; mesmo quando re-utilizada pelo seu criador. Isso justifica por exemplo, a inexplicável ascensão à fama, de James Blunt; ou então aquela versão bizarríssima de "The Blower's Daughter" "Abrasileirada" na voz de Ana Carolina, conhecida por "É isso aí" (Aliás, deveriam existir leis contra essas bizarrias)


Mercado, enfim...


Damien Rice é figura extremamente competente em seus shows ao vivo, e quem teve a oportunidade de ver alguma se suas apresentações sabe que um registro
das mesmas, não reflete sequer 1/10 do que as mesmas são, quando se está ali de corpo e alma presente. E veja, isto não significa que seus álbuns ao vivo sejam ruins, muito pelo contrário; são ótimos! ...talvez então, isto dê uma vaga idéia de como eram suas apresentações antes da “partilha” entre seus colaboradores originais.


Por outro lado, resolvi postar este vídeo ao vivo, pois, o mesmo sustenta uma interessante teoria que creio ter sido comprovada por estas horas. Quando houve a “partilha” em março de 2007, a parcela mais Xiita dos fãs de Damien Rice que o mesmo não perdera nada com a saída de Lisa Hannigan e Vyvienne Long.


Pois bem.


Acho que este é um excelente vídeo póstumo daquelas épocas, que por hora, diz justamente o contrário... A não ser, claro; que Damien Rice solte algo realmente genial nos próximos tempos...


Veremos.


É um belíssimo show.


Links:

















Parte 1
Parte 2
Parte 3





terça-feira, 3 de março de 2009

Violinos, Cello, Rock Pt. 15 - "Lisa Hannigan" feat. Vyvienne Long



Alguém se recorda da Vocalista Irlandesa Lisa Hannigan?

Em março de 2007, como a sombra de Peter Pan que repentinamente rompe com seu corpo, a vocalista Lisa Hannigan juntamente com a Cellista Vyvienne Long rompem uma parceria musical de longa data com Damien Rice. Na época, de acordo com Rice, sua relação profissional tinha se esgotado e criativamente, seguido rumos diferentes. Se não longamente antecipada, ao menos muitos já há bastante tempo aguardavam trabalhos solos por parte das duas ex- integrantes da banda de Rice.

Neste meio tempo, Vyvienne Long trabalhou em seu magnífico e experimental E.P., o “Birdtalk”, já mencionado e resenhado aqui no Vinho & Cigarros.

Já a Srta. Hannigan embora seguindo pelo mesmo caminho, levou adiante uma série de projetos paralelos; alguns não relacionados a artes, como por exemplo a captação de recursos para a “Oxfam International” [1] , a “Fair Trade” [2] ou então, de cunho artístico além da participação especial em inúmeros trabalhos musicais como vocalista convidada para bandas como o “The Cake Sale”; a fundação de sua própria Companhia de Teatro.

Finalmenteem setembro de 2008, Lisa coloca no mercado de maneira independente o seu aguardado “debut” solo, o “Sea Sew”

Pois bem. Existem duas aproximações possíveis de um ouvinte para este álbum: Aquela de uma pessoa que já acompanhava sua carreira durante suas colaborações junto ao Damien Rice, e aquela a qual você nunca antes tinha ouvido falar na Srta. Hannigan. Opto pela primeira, que é justamente o meu caso bem como creio eu, da maioria dos leitores do Vinho & Cigarros.

Se fosse necessárias apenas duas palavras para definir este álbum, não pensaria duas vezes em defini-lo como absolutamente “Sincero & Precioso”. Porquê o que tenho em minhas mãos aqui no momento que resenho este trabalho, é justamente um trabalho

recheado de uma sinceridade ímpar. Fazia muito tempo, aliás anos já; que não segurava um CD que fosse tão autêntico e despretensioso no que ele se propõe.

Ocorre que, ao ouvir com calma seu trabalho, você tem aquela pálida impressão de quando você por acaso reconhece uma pessoa em no metrô, mas não consegue se lembrar de seu nome. Este reconhecimento se deve a uma leve conexão com seus trabalhos de épocas de Damien Rice, mas com suas melhores qualidades elevadas a um novo patamar, agora que ela lida com sua voz em primeiro plano nas composições, bem como também a própria liberdade criativa.

Na grande maioria das faixas está presente também às melodias suaves, leves e sensuais criadas pela Cellista Vyvienne Long, que ajudam a dar o tom das músicas; no geral não tão melancólicas quanto ao que faziam juntas ao Damien. Mas, não se enganem, pois a tal melancolia ainda existe, mas talvez agora como uma espécie de nuance sonora, um complemento, ou uma sensação que fica ali, de fundo, não facilmente percebida.

Aliás, esta também é uma característica interessante deste álbum. O tom de casualidade. É fácil se enganar, confundindo o “casual” com “simplista” em um primeiro momento. E, de simples, este álbum não tem nada. Ao longo do álbum inteiro, ela explora uma infinidade de texturas sonoras através de seu vocal doce que pode passar totalmente despercebido aos mais desatentos. E o Cello da Srta. Long, a segue com a mesma suavidade em uma segunda voz, trabalhando em um dueto maravilhoso, explorando, tecendo novas melodias, que se abraçam de modo suave e gentil com a voz principal.

No geral, embora Lisa Hannigan tenha sido mais reconhecida como a vocalista de apoio de Damien Rice e não tão em voga quanto o próprio; os que acompanhavam seu trabalho já sabiam do potencial desta garota. Portanto, por um certo grupo de apreciadores de sua voz – incluindo este que vos escreve – seu trabalho solo sempre foi aguardado com uma enorme apreensão. Ela foi sábia, não apressou em nada o lançamento deste trabalho. Neste meio tempo, fez tudo o que uma artista pode fazer fora gravar seu próprio álbum; desde deixar-se ser coberta por chocolate derretido para uma propaganda social de “Fair Trade”, bem como tocar covers de canções Punk em eventos de caridade.

E, em uma ultima análise, como ex- segunda voz de Damien Rice, é justo dizer que ela tinha tudo a perder e tudo a provar; mas com este álbum; “Sea Sew”; ela simplesmente afastou e calou de modo suave e gentil quaisquer críticas e expectativas que pudessem ter permanecido até então...

Mágico!




[1] “Oxfam International” – confederação de organizações sociais que atuam juntas em mais de 100 países com o objetivo de encontrar soluções para a pobreza e injustiça social

[2] “Fair Trade”, um movimento s

ocial que visa o pagamento justo aos trabalhadores de países produtores de insumos e matérias primas, deliberadamente trabalhando com produtores e trabalhadores marginalizados, com o objetivo de tirá-los da situação de vulnerabilidade colocando-os em uma segurança econômica através da auto-suficiência.



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domingo, 1 de março de 2009

Kummer - Cello Method extracts



Friederich August Kummer talhou seu nome no Cello, como um talentoso intérprete, professor e autor de inúmeras composições de ensino para o instrumento. Nascido em 5 de Agosto de 1797 em Meiningen, era filho de um Oboísta. Ainda era bastante novo quando seu pai foi convidado pela corte de Dresden.

Assim, quando Dotzauer começou sua carreira lá, em 1811, Kummer que tinha estudado Oboé sob influencia de seu pai, se tornou seu aprendiz.

Julgando por este método de Cello publicado originalmente em 1839; o objetivo principal para quem se propõe a aprender o instrumento – de acordo com Kummer – era conseguir produzir um tom cheio, poderoso, mas não frio. Ele sempre enfatizava a característica extremamente expressiva do instrumento como fica claro pelas suas próprias palavras; “(...) Por conta do maravilhoso som do Cello, a sua característica mais marcante definitivamente é a influencia da mente e do coração. Para a intensificação e modificação dos sons, que é a base para se tocar partes melódicas, nós devemos seguir o exemplo de um bom cantor. A performance deve ser simples e natural, e na medida do possível, evitar sobrecarregá-la com floreios. Muitas vezes, notas soltas e simples tocadas no Violoncelo tem um poder muito maior do que uma grande quantidade de passagens tecnicamente difíceis.”

O ponto de vista de Kummer tanto quanto Cellista e Intérprete, em se tratando dos objetivos da virtuose no instrumento, é bastante característico; como fica claro nesta passagem: - “O maior objetivo do virtuoso é a de que ele dar vida a um corpo que o compositor criou através do som. A força que serve a este objetivo está no próprio artista; isto é, o produto de seus sentimentos em seu máximo grau de pureza e nobreza apenas atingidos quando através de uma simplicidade natural, sem floreios.”

Embora reconhecesse-as como importantes ferramentas para a expressividade,

Kummer sempre alertou aos seus aprendizes quanto ao uso excessivo de técnicas de expressividade como o vibrato por exemplo.

Vale mencionar que o método de Kummer pode ser considerado de maor validade pratica do que o conhecido método de seu antigo mestre, Dotzauer. A própria divisão interna do método se vale de uma exposição sistemática bem como progressividade natural das técnicas e diretrizes por ele abordado.

Acho que a grande diferença entre os dois métodos no final, é que o panorama geral quanto à abordagem do instrumento no método Kummer embora muitas vezes similar ao Dotzauer, é de caráter muito mais natural, simples - embora o cotovelo baixo ainda seja bastante característico. Quanto a este ponto; o cotovelo baixo sempre foi uma característica da Escola Alemã de Cello até pelo menos a metade do século XIX, inclusive podendo ser visto varias vezes repetido no método de Sebastian Lee, publicado em 1845...

Vale mencionar que o método disponível aqui não está completo, são excertos dos exercícios do original. Mas mesmo assim é de uma relevância enorme para quem estuda o instrumento. Então, caso alguém tenha-o completo em PDF, me dê um toque por favor. Se não, escanearei o meu impresso e mais para frente postarei aqui.


Link:























Apontamentos de um Sábado à noite - Somos amargos... Com orgulho!




Eu queria escrever algo sobre ontem à noite.


Queria escrever algo sobre o aniversário de um amigo jornalista. Claro, não sobre ele; mas sobre ter conhecido uma garota interessante. Baixinha. Cabelos pretos, trejeitos mais ou menos tímidos. Pianista. Mais ou menos escritora.


Idealista. Jeito cativante. Coisas que às vezes, fazem valer nossa noite. Fiquei encantado, sinceramente.


Não a conheci direito para dizer a verdade. Do pouco que conheci, fiquei com aquela sensação bem lá no fundo; de que ela não foi muito com minha cara. Mas como diz a Gabe lá no MIT em Boston, “That’s fine”.


Após a reuniãozinha, fomos parar em um posto de gasolina para tomar uma cerveja. Uma das bizarrias que apenas uma cidade pequena pode lhe proporcionar. Ela, Toddynho. Realmente, cativante.


Junto estava um cara que já tinha cruzado antes de outras desventuras noturnas. Também jornalista. Aprendi que para não passar do ponto, é legal alternar entre cerveja e algo não alcoólico. Então obviamente não passei do ponto.


A conversa final na qual sobraram apenas eu, este cara e outra garota, foi algo estranho, aquela sensação de “deja-vu”. Quero dizer; já tive muitas destas. A famosa divagação alcoolizada e de fala pastosa, sobre o que as mulheres esperam de um cara. Existe um certo amargor em tais palavras.


Às vezes costumo interpretar tal jeito de ser como uma espécie de neo romantismo. Estas questões, a atitude, o estado de espírito. Não deixa de ser uma extensão em uma ultima análise, da visão de mundo centrada no indivíduo. Aos “culturados”, quem não se lembra do retrato dos dramas humanos, amores trágicos e ideais utópicos, bem como desejos de escapismo? Todos morreram jovens e solitários.


Vivemos em uma sociedade de imagem. Uma sociedade de espetáculo, como bem definiu Guy Debord. A sociedade do “objetivo” – e a execração do “subjetivo”. Isto explica muita coisa.

Quando me coloco nestas relações interpessoais cuja base é o plano objetivo; mas a análise pessoal se dá dentro do plano subjetivo; as coisas tendem a se tornar confusas.


Não existe uma maneira de tentar se fazer compreendido quando o assunto envereda para o encanto que você sente quando conhece uma pessoa interessante. Faço um paralelo com o que mais me toca; a música. Ela, tem o poder de ir direto mesmo em mim. Uma bela melodia muitas vezes simplesmente atravessa todas as barreiras que custo a manter de pé. É como se de repente eu fosse pego em uma onda e tomasse aquele caldo, sabe? Coisa de se afogar.


Mas é engraçado porquê não vejo isso como uma coisa ruim. Ontem a noite, li em um livro o seguinte:


"(...) quando se chamava Lori Jones, Amiri Baraka escreveu que arte é qualquer coisa que faça você sentir orgulho de ser humano. É uma grande definição de arte e também do impulso religioso, que, no fim das contas, não passa do impulso artistico com um figurino diferente: o desejo de dizer ou ver algo que nos convença de que temos importância, de que nossas vidas breves e confusas têm sentido, direção e vetor definido, apesar de sua confusão e breviedade.Arte não é "criar ordem a partir do caos". Isso é problema de deus, seja ele/ela quem for. Arte, é o sonho da ordem a partir dos sentidos do caos: a tacada perfeita na bola oito, a pedra talhada que se parece com o Deus Apolo, Charlie Parker improvisando em "How High the Moon" ou Fred Astaire simplesmente cruzando uma sala."


É aí que está.

Quando sou pego por essa sensação de arrebatamento – mais comumente por músicas, mas isso também ocorre com visuais e - pessoas, como foi o caso ontem – eu me sinto vivo. E me sinto meio que conectado com uma coisa sagrada, é como se eu entendesse – lógico, subjetivamente, não dá para colocar em palavras – todos os “porquês” que me perseguem por aí. É o maior barato, nessas horas não sinto o vazio; e as coisas voltam a fazer sentido; mesmo que este seja frágil e temporário.


Eu não consigo imaginar como é viver uma vida calcada em decisõ

es puramente racionais. Não posso escolher a hora em que irei me emocionar, ou como abrir ou fechar este canal como se fosse um transistor.


...e na verdade nem sei se gostaria disto, de qualquer forma.


Não querendo apelar para clichês mas não consigo deixar de pensar em uma frase que a Cate Blanchet usou em um filme; “eu prefiro sentir demais a não sentir”, ou coisa do tipo. Mas, me faz sentido.


Toda a zona que impera em nós de vez em quando, essa confusão, a tormenta toda, não é só por isso, acho que tem algo a mais. Não sei dizer o que é, claro. Mas é inegável sim, o “não saber administrar” e “não estar preparado”, estes, fazem parte sim da equação toda.


Se eu analisar bem mesmo, eu até posso afirmar que eu gosto bastante desse plano mais subjetivo das coisas. Isso porquê embora me traga uma série de dificuldades dentro da esfera das relações humanas; é como se eu conseguisse sacar o porque de um monte de coisas e atitudes, principalmente entre as pessoas – o que não significa que eu consiga interagir de acordo com estes insights claro. É aí que a coisa toda se torna um pouquinho frustrante, e talvez seria a hora ideal de dar uma desligada no subjetivo e entrar no modo 100% racional.


Eu li outro dia a respeitodo que é o conceito popular hoje em dia de “normalidade” perante a sociedade. Sabe quando parece que faz um “plim” e cai uma moeda? Pois é. Era mais ou menos o seguinte; o que diz se você é mais ou menos normal, é a sua própria aceitação da realidade que te rodeia. Assim sendo, quanto mais você é conivente e aceita o mundo como ele é, mais normal você é; e quanto menos você aceita a realidade e se revolta, mais anormal você é perante a sociedade.


Mas é estranho.


Não aceitar algumas coisas do mundo; como por exemplo as filhadaputices que existem por aí, as injustiças, as sacanagens, te transformam em uma pessoa anormal? Aí, eu não consigo deixar de pensar que está tão na cara que o que vivemos como “real” hoje, é uma puta de uma inversão total de valores. E em uma análise mais profunda, vemos as fissuras que existem dentro de todos os discursos que regem o comportamental interpessoal.



Aí, você fica com aquela impressão que você sabe de uma coisa que mais ninguém sabe, ou na verdade ninguém está nem aí para. Muito estranho isso. Vivemos uma realidade cuja auto-sustentação é impossível, e o colapso, de fato é iminente.


Aí me pego orgulhoso quanto a minha interpretação da realidade em um plano subjetivo, mas ao mesmo tempo me pego também frustrado e de saco cheio de enxergar tudo isso. Acho que é uma outra interpretação para a tal manjada frase “a ignorância é uma dádiva”.


Mas no final; vamos ficando mais velhos... Com trinta anos hoje, loucuras à parte; não acredito que eu venha de fato a mudar esta minh

a noção de mundo, e como disse ali em cima; talvez eu nem queira mesmo.

Mas só me sinto triste porquê no final, são poucas as pessoas que conseguem ter uma noção mais ou menos próxima para as coisas que quero dizer, quando vão “além” do que vivemos aqui.


Mudanças são boas. Só tenho minhas dúvidas até que ponto no final das contas, eu me permito tais mudanças.

Enfim...


A tal garota, foi um devaneio interessante...


Só por hoje, continuo seguindo sozinho.