Temos aqui um outro exemplo de como a união entre uma mente perturbada e um Cello, podem contribuir para o surgimento de pequenas pérolas musicais.
Formada pela Cellista Melora Creager em Nova Iorque em 1992, a banda é como um sonho molhado saído de algum sonho de Edward Gorey: Uma mistura cativante de música de câmara, uma textura meio gótico-metal dos fins dos tempos, corsets empinados de algum brechó Vitoriano bem como um humor negro dos mais sarcásticos. Sério. Demorou um bom tempo até que eu conseguisse digerir completamente o som produzido por eles. Denso. Soturno. Bonito. Sarcástico. Por vezes uma melancolia afetada, como em um desdém.
Facilmente Rasputina pode ser vista como uma cria maldita dentro do meio dos Cellistas, pois, embora suas vestimentas dêem um certo ar teatral ao grupo, eles conseguiram fundir inúmeros elementos diferentes do rock, pop, clássico e câmara com bastante sucesso. E, descartando-se o elemento teatral, se torna bem óbvio que a banda apresenta uma quantidade gritante de substância e estilo próprio.
Em suas apresentações, a Srta. Creager – bem como quem possa estar fazendo parte da Rasputina no momento – costuma vestir tais trajes e empunhar heroicamente seus Cellos, devidamente acompanhadas por um baterista.
Com 10 anos de estrada, 4 albuns e alguns singles; já no álbum de estréia – “Thanks for the Ether”, eles mostraram que não eram apenas uma banda de rock com três Cellos e uma bateria. Na verdade este álbum foi uma abertura simbólica dos cadeados do hospício, pois ele mostrou quanta bizarrice estava por vir dali para frente.
Já na primeira faixa “My Little Shirtwast Fire”, a Srta. Creager narraa uma história que faz alusão ao incêndio da fábrica de tecidos Triangle Shirtwaist Factory, que matou 145 funcionárias em 25 de Março de 1911. No refrão, em tom de desespero, acompanhada de cordas cortantes e uma bateria propositalmente fora de ritmo, Melora suplica “Yes, we’re burning can you help us please? / Yes, we’re begging, we’re on bended knees” .
O tom de bizarrice e o interesse por tragédias demonstrados em suas melodias banda são reforçados na música “The Donner Party”, onde a vocalista narra a história de um grupo de imigrantes que ficaram presos em uma nevasca em Sierra Nevada e, pela sobrevivência, passaram a comer aqueles que não sobreviveram ao desastre.
Aliás, as letras em si são um show a parte:
Ao invés de escrever músicas que são de entendimento fácil e óbvio, a Srta. Creager prefere sair da obtusidade geral e se prende a uma mistura de divagações pessoais acerca do mundo que a rodeia. Músicas como "My Little Shirtwaist," "Nozzle," "Transylvanian Concubine," "Howard Hughes," e "Rusty the Skatemaker" são quase impossíveis de serem categorizadas ou entendidas; apenas após uma bela reflexão. Liricamente, a Srta. Creager desafia a si própria bem como seus fãs; atingindo resultados extraordinários.
Vale dizer que entre as Cellistas que já integraram a Rasputina estão a Cellista Julia Kent (Atualmente Antony & The Johnsons) e Zöe Keating (Atualmente com Amanda Palmer) – Todas devidamente resenhadas no Vinho & Cigarros.
Deixo aqui seu álbum ao vivo, o “Radical Recital” por conter algumas das músicas que mencionei acima; bem como também dar uma vaga idéia de como são os shows do Rasputina: Hilários, divertidíssimos!
Muito bom!
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Um comentário:
Gostei de saber desse grupo. Não saco nada de rock mais contemporâneo, quanto mais a cena de cello (+violino) rock, nem sabia que era tão rica... graças ao teu blog. Valeu pela pesquisa. E parabéns pelo espaço.
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