O genial pianista canadense Glenn Gould aposentou-se dos palcos bastante cedo, aos 31 anos. Isso foi em 1964, e seu motivo foi simplesmente... porque ele odiava o público, detestava os palcos, a obrigação e os anacronismos do mundo de concerto. Ele dizia que o público não entendia nada... então para que continuar aquela farsa? Gould continuou a gravar discos sublimes, mas manteve-se isolado, estudando sua música, criando para si e para as gravações. Virou um mito misantropo, que deixou provas inebriantes do poder da Beleza e da possibilidade de grandes altitudes no espírito humano, a começar pela famosa interpretação das Variações Goldberg, de 1955, que já garantiriam seu lugar no topo das listas de artistas mais admiráveis de todos os tempos.
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Mas a atitude de Gould foi assim tão drástica e incompreensível? Ele foi mesmo muito radical e até desrespeitoso, arrogante com relação àqueles que o amavam? Minha teoria aqui é de que ele foi apenas honesto, coerente e sensível à realidade das audiências de música clássica. Nada mais. E realmente o público o amava? Minha segunda teoria responde... não.
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O público de música clássica é, em sua considerável parte, simplesmente abominável.
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Idas frequentes a concertos, a prática de fazer parte destas plateias feita em muitos anos desde tenra idade e uma sensibilidade aguçada para comportamentos sociais deram-me a percepção, que geraram a inevitável e triste conclusão. Para que fique claro onde quero chegar, e detalhar a exposição para que a frase acima não seja tão radical e irresponsável quanto parece, vou enumerar minha posição acerca do público de música erudita (a parte massiva, mais comum, obviamente não me refiro a todas as pessoas, ao preço de expôr falso testemunho e gerar um paradoxo, incluindo a mim mesma):
- As pessoas que frequentam concertos (sejam sinfônicos, operísticos, ou música de câmara) são em sua boa parte de extremo conservadorismo no que se refere a Estética, a valores morais, religiosos, políticos, e às suas próprias concepções mofadas de arte e entretenimento (e apesar de não explicitarem o fato, elas confundem arte e entretenimento, como o fazem as massas de classes menos abastadas, de outras formas).
- A maioria teve uma educação rígida quanto ao que define status śocio-cultural, e possui ideias antiquadas no que se refere a Cultura de forma geral. Elas se sentem na obrigação de consumir arte para "pertencerem a uma elite" e serem consideradas pessoas cultas, como seus pais lhes ensinaram.
- Boa parte simplesmente não entende nada do que ouve, e adora qualquer um que apareça na sua frente tocando uma de suas peças favoritas, de algum de seus compositores favoritos, filtro esse que restringe os artistas a um período bem específico da História da Música, uma mancha amarelada que se estende do fim do Barroco ao Romantismo Tardio do início do século XX. Elas têm cera nos ouvidos e não cansam de ouvir as mesmas peças, como se fossem cantigas de ninar em suas caixinhas de música carcomidas.
- O público segue um ritual de etiquetas frígidas a respeito de uma missa da qual não entenderam uma palavra, não sabem porque estão ali, e se tornam agressivas e mesmo baixas e mal-educadas com quem ousar mudar o tom do rito sacrossanto eregido por suas ignorâncias e insensibilidades cristalizadas em anos.
Vamos aos "causos".
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i. Uma orquestra do Rio, a Petrobras Sinfônica, tem ou tinha até ano passado uma série de concertos que eram antecedidos por momentos de descontração, que chamavam "Happy Hour Miolo". Antes do concerto, o público chegava aproximadamente uma hora mais cedo e no hall de entrada da Sala Cecilia Meireles ouvia um grupo de jazz, ou algo parecido, e enquanto isso as pessoas eram servidas por garçons de pequenas doses de vinho Miolo. Ou seja, era mesmo um happy hour. Num destes concertos, onde se não me engano iriam tocar Schubert, fui com uma amiga, e ficamos a bebericar nosso vinho e a ouvir um grupo que tocava desde Piazzolla a Dave Brubeck. Quem conhece jazz, sabe que a música é feita pra tudo... num show de jazz, fala-se, ri-se, e também eventualmente se dança se a música instigar. É a música mais livre que existe. À nossa volta, estavam senhoras e senhores na maior parte idosos e vestidos com pompa excessiva. Alguns evitaram o vinho por que segundo foram adestrados, ops, ensinados, música clássica exige concentração, e o vinho, como outras drogas (ver o post "Tarja Preta" abaixo para mais), tira essa rigidez do cérebro de um ser considerado sério por seus pares. Boa parte destes senhores estavam sentados e não moviam um músculo e não proferiam uma sílaba, como se algum maestro tivesse dado algum sinal ao exército para a execução (!). Algumas pessoas, entretanto, incluindo minha amiga e eu, conversavam descontraidamente, enquanto o grupo começou a tocar entusiasmado o clássico de Dave Brubeck, "Take Five".
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Alguns mais jovens, incluindo eu, começamos a ensaiar movimentos de cabeça e corpo animados, como um convite à dança, sutil, mas irresistível... afinal, era "Take Five"! Quem sabe, sabe.
De repente, enquanto conversávamos baixo e a música tocava animada no happy hour, uma senhora vestida num manto vermelho e maquiada ao extremo levantou-se com olhar muito duro e agressivo e disse para nós duas: "Vocês vão fazer o favor de calar a boca? Quero ouvir a música. Se não se calarem, dêem o fora". Como se ela tivesse o poder de nos expulsar da Sala, como se outras pessoas não estivessem conversando, como se estivéssemos nos esgoelando, e finalmente, como se não fosse um happy hour, e não uma peça de câmara. Respondi, erguendo o copinho de vinho com certo ar simpático meio fanfarrão: "senhora, relaxe...é só um happy hour!". Ela nos ameaçou três vezes, e não tirava o olho de nós (que éramos duas das pessoas mais jovens que estavam no ambiente). Resolvemos, para que minha amiga não fizesse uma cena xingando a dita senhora, ir para o outro lado, e curtimos de lá o ótimo som dos músicos. Conclusões: ela estava de mau humor, ela não sabe que jazz nasceu nos puteiros e que é feito para enlouquecer, ela aprendeu que numa sala de concertos (mesmo no hall de entrada), os músicos tocam e o público se cala, e depois aplaude educadamente. Ela não sabe nada de música, de fato tampouco o que está fazendo ali. E ainda alimenta preconceitos: "duas jovens com roupas exibidas que nem essas duas, enchendo a cara e falando, dando risinhos, só podem ser estúpidas que não têm educação. Vou lhes dar uma lição". Mal sabe a tal senhora que provavelmente as duas estúpidas sabem mais sobre música do que ela jamais saberá em toda a sua monótona vida silenciosa.
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i. Uma orquestra do Rio, a Petrobras Sinfônica, tem ou tinha até ano passado uma série de concertos que eram antecedidos por momentos de descontração, que chamavam "Happy Hour Miolo". Antes do concerto, o público chegava aproximadamente uma hora mais cedo e no hall de entrada da Sala Cecilia Meireles ouvia um grupo de jazz, ou algo parecido, e enquanto isso as pessoas eram servidas por garçons de pequenas doses de vinho Miolo. Ou seja, era mesmo um happy hour. Num destes concertos, onde se não me engano iriam tocar Schubert, fui com uma amiga, e ficamos a bebericar nosso vinho e a ouvir um grupo que tocava desde Piazzolla a Dave Brubeck. Quem conhece jazz, sabe que a música é feita pra tudo... num show de jazz, fala-se, ri-se, e também eventualmente se dança se a música instigar. É a música mais livre que existe. À nossa volta, estavam senhoras e senhores na maior parte idosos e vestidos com pompa excessiva. Alguns evitaram o vinho por que segundo foram adestrados, ops, ensinados, música clássica exige concentração, e o vinho, como outras drogas (ver o post "Tarja Preta" abaixo para mais), tira essa rigidez do cérebro de um ser considerado sério por seus pares. Boa parte destes senhores estavam sentados e não moviam um músculo e não proferiam uma sílaba, como se algum maestro tivesse dado algum sinal ao exército para a execução (!). Algumas pessoas, entretanto, incluindo minha amiga e eu, conversavam descontraidamente, enquanto o grupo começou a tocar entusiasmado o clássico de Dave Brubeck, "Take Five".
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Alguns mais jovens, incluindo eu, começamos a ensaiar movimentos de cabeça e corpo animados, como um convite à dança, sutil, mas irresistível... afinal, era "Take Five"! Quem sabe, sabe.
De repente, enquanto conversávamos baixo e a música tocava animada no happy hour, uma senhora vestida num manto vermelho e maquiada ao extremo levantou-se com olhar muito duro e agressivo e disse para nós duas: "Vocês vão fazer o favor de calar a boca? Quero ouvir a música. Se não se calarem, dêem o fora". Como se ela tivesse o poder de nos expulsar da Sala, como se outras pessoas não estivessem conversando, como se estivéssemos nos esgoelando, e finalmente, como se não fosse um happy hour, e não uma peça de câmara. Respondi, erguendo o copinho de vinho com certo ar simpático meio fanfarrão: "senhora, relaxe...é só um happy hour!". Ela nos ameaçou três vezes, e não tirava o olho de nós (que éramos duas das pessoas mais jovens que estavam no ambiente). Resolvemos, para que minha amiga não fizesse uma cena xingando a dita senhora, ir para o outro lado, e curtimos de lá o ótimo som dos músicos. Conclusões: ela estava de mau humor, ela não sabe que jazz nasceu nos puteiros e que é feito para enlouquecer, ela aprendeu que numa sala de concertos (mesmo no hall de entrada), os músicos tocam e o público se cala, e depois aplaude educadamente. Ela não sabe nada de música, de fato tampouco o que está fazendo ali. E ainda alimenta preconceitos: "duas jovens com roupas exibidas que nem essas duas, enchendo a cara e falando, dando risinhos, só podem ser estúpidas que não têm educação. Vou lhes dar uma lição". Mal sabe a tal senhora que provavelmente as duas estúpidas sabem mais sobre música do que ela jamais saberá em toda a sua monótona vida silenciosa.
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ii. Outra vez, esta mesma orquestra citada acima recebeu um dos mais aclamados pianistas do nosso tempo, Bruno Gelber, para a execução do dificílimo e emocionante Concerto para Piano no. 3, de Rachmaninoff, no velho (e cheirando a mofo) Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Programão para as velhinhas chacoalharem suas jóias e os senhores com seus ternos feitos sob medida. Muitas destas pessoas, contando também os jovens (entre eles, muitos casais de namorados, o rapaz querendo mostrar cultura para a mocinha burra ou vice-versa, mas nenhum dos dois com a menor noção do que possa significar este concerto para o mundo pianístico, ou da carreira de Gelber), pelo que se apreende das conversas, apenas sabe que é Rachmaninoff, que era romântico, e fez "peças lindas", isso basta. Muito bem.
O concerto foi sofrível. O pianista estava mal de saúde e em má forma, esforçou-se muito certamente, mas a orquestra não ajudou. Certamente que é uma má orquestra, vive correndo, ensaia pouco comparado ao esforço necessário, mal regida e administrada, mas que possui alguns bons músicos e trata de oferecer, ao contrário da Orquestra Sinfônica Brasileira (que é simplesmente cara demais para seu nível e a situação sócio-econômica de uma cidade como o Rio), peças de primeira a preços muito acessíveis, e projetos inovadores (como o Aquarius, música clássica na Praia de Copacabana). Mas é uma orquestra que se arrasta, e cujo regente, deitando-se confortavelmente na fama e em sua longa carreira, tem por seguro que é sempre a estrela da cena. O senhor Isaac Karabtchevsky decidiu que não precisa fazer muito esforço, ele já chegou ao topo e domina qualquer peça. Desrespeita grandemente muitos compositores com essa atitude. Nessa noite, foi o velho russo Rach. Atrasos constantes, um som apagado, erros nos metais, uma depressão que faria corar qualquer suicida. O final? Grandes e efusivos aplausos acompanhados de gritos de "bravo", "magnífico", "sublime", e mais uns dois ou três adjetivos do limitado repertório de elogios da audiência de música erudita. Eles simplesmente idolatram qualquer coisa que seja feita nos palcos. Onde estão as mentes alertas? E as pessoas que entendem e fazem música? Elas simplesmente não vão aos concertos. Nas palavras de algumas pessoas que conheço deste universo, simplesmente é cansativo, não vale a pena, e as pessoas são chatas e efusivas. O espetáculo perdeu a graça há muito tempo.
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iii. Conheci um violinista que iria apresentar-se em pouco tempo no Concerto Triplo, de Beethoven. Ele estava apavorado, pois nãos e sentia preparado para isso. A fim de consolá-lo, disse: "você já enfrentou outros concertos difíceis... para que se importar com o que as pessoas vão achar da sua performance? O público não sabe de nada". Ele concordou, mas estava preocupado com os poucos que iriam realmente ouvir compreendendo, alguns violinistas, era a opinião deles que contava. Lembrei-me da famosa frase da peça de J.P. Sartre, "Huis Clos", quando uma das personagens, que está com as outras pessoas num quarto abafado e sem espelhos, para toda a eternidade após suas mortes, diz: "l'enfer...l'enfer c'est les autres" (o inferno...o inferno são os outros). O inferno é o semelhante, é o ser humanos olhando para você, ou pensando sobre você, lhe julgando, ou lhe azucrinando com suas manias ridículas e suas palavras grosseiras... o inferno não pode ser experienciado na solidão. A solidão é a ausência de paraíso e de tormenta, é o nirvana. Glenn Gould que o diga. Recordo-me também do regente que aparece no famosos filme de F.Fellini, "Ensaio de Orquestra". Num momento de confissão, ele diz ao jornalista que grava sua entrevista palavras parecidas com estas: ao conduzir meus músicos, que estão em oblívio e cheios de desamor pelo que fazem, não olho para eles... suas faces patéticas, seus olhos que me odeiam... evito seus olhares. Este maestro está só com sua música. Sua orquestra é sua abominável plateia sem consciência. Durante o concerto, existem etiquetas. Estas todos conhecem e seguem à risca. Se algum pobre desavisado não conhecê-las, ou se esquecer num momento de empolgação, e por exemplo aplaudir entre dois movimentos da mesma peça, ouvirá uma saraivada de "shhhhhhhhh" pior do que o próprio som de seu pobre aplauso. Se você cochichar no ouvido de alguém que lhe acompanha, seus vizinhos de cadeira irão lhe censurar com olhares e mesmo lhe ofender. Em suma, os policiais do bom comportamento nas salas de concerto são impecáveis em presença de espírito (de porco) e ainda mais grosseiros do que os hábitos que querem aniquilar. Eles desejam aniquilar a própria emoção e o envolvimento com a arte que se lhes mostram.
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iv. Há dois anos, fui assistir a um concerto da Sinfônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, bela porcaria, mas o repertório me interessava. Mas eu não sabia da parte ruim: era um concerto didático para crianças das escolas públicas. Quando cheguei na sala, fiquei aterrorizada, mas estava lá, então não custava nada sentar-me e pelo menos me divertir. Havia mais algumas pessoas desavisadas como eu, mas o que se espera numa situação destas? Uma sala lotada de aproximadamente 300 crianças e adolescentes sem a menor noção do que iria acontecer ali, sem acesso, sem nada. E rindo muito, se divertindo, o que tornava o ambiente bem agradável de fato. O concerto era para eles e ponto final, não para nós. Ninguém realmente apareceu para lhes instruir sobre as tais etiquetas, que os músicos tomam por certo, e nada sobre os compositores. Então de didático aquilo não teve nada. Mas enfim, não é meu objetivo falar sobre isso, mas sim contar sobre a experiência de estar numa plateia totalmente diferente da plateia usual de música clássica. Num solo de piccolo (peça de Vivaldi), olhei para o lado e vi um menininho de no máximo 7 anos com os olhos estupefatos, a boca aberta, uma maçã na mão...ele estava comendo a maçã quando foi tomado de assalto pela beleza daquele som e pela habilidade da musicista. Vi a emoção e o deslumbre estampado na inocência de um garoto humilde, enquanto uma senhora idosa do outro lado fazia caretas para os aplausos fora de hora das excitadas crianças.
Sinceramente, poucas vezes me diverti tanto numa sala de concertos quanto nesse dia, entre crianças e adolescentes "mal-educados".
Para as plateias usuais, aquilo é seu entretenimento apenas. A Nona Sinfonia de Mahler não vai mudar suas vidas, não vai lhes proporcionar uma experiência dionisíaca, não vai revolucionar seus estômagos e corações. Elas estão ali por obrigação, porque é culto ir ao concerto ao invés de ver TV. Elas não têm a menor emoção real e suas concepções estéticas são limitadas a ideias de beleza extremamente conservadoras. Todas, praticamente, nasceram no século XX, mas parecem desconhecer as vanguardas que mudaram as ideias de música, como atonalismo, por exemplo. Concertos de compositores como Dutilleux ou Arvo Pärt ficam vazios, e muitos dos próprios músicos não estão preparados para "tanta" modernidade. O violinista citado anteriormente me afirmou mesmo que odeia tocar até Villa-Lobos! Só lhe agrada século XIX para trás. Ele não percebe que toda a sua glória de violinista ambicioso, se houver, será experienciada e aplaudida por uma plateia constituída de pessoas sem emoção, sem tesão, sem ousadia, e mesmo sem musicalidade. Algumas precisam usar aparelhos de audição e usam suas melhores roupas da década de 50 para prestigiar seus concertos e assim pertencerem à casta "dos que sabem". Porque ele e mais alguns tantos fazem cara feia para as crianças das escolas públicas, que não têm respeito pelos anacronismos da música clássica, seus velhos spallas de casaca preta cumprimentando solistas e regentes com toda a reverência (depois de terem fumado seus baseados nos bastidores). Porque estas crianças talvez até preferissem Phillip Glass com suas séries repetitivas e seus sons maravilhosamente melancólicos à chatice grandiloquente de um Brahms (porque ele consegue ser chato inúmeras vezes... Nietzsche afirmou que Brahms fazia música para senhoras mal-amadas... não chego a tanto, mas ele exige um bocado de paciência e vinho às vezes). Porque elas talvez cantassem junto com um Hermeto Pascoal e sua espetacular inventividade e liberdade com instrumentos (porque para ele tudo dá som), sua humildade e generosidade (na última faixa do disco "Festa dos Deuses", ele grita: "a música universal é música de direito!"), e dormiriam, para escândalo das senhoras e seus colares, durante a execução de um monótono poema sinfônico de Liszt ou de uma ópera brega de um Donizetti. O pior é que eu já perdi vários concertos ótimos para estas pessoas anacrônicas, porque elas correm para garantir seus lugares e tomam rapidamente todos os ingressos... esgotam lugares para entrar em devaneios sonâmbulos diante de uma Maria João Pires.
O concerto foi sofrível. O pianista estava mal de saúde e em má forma, esforçou-se muito certamente, mas a orquestra não ajudou. Certamente que é uma má orquestra, vive correndo, ensaia pouco comparado ao esforço necessário, mal regida e administrada, mas que possui alguns bons músicos e trata de oferecer, ao contrário da Orquestra Sinfônica Brasileira (que é simplesmente cara demais para seu nível e a situação sócio-econômica de uma cidade como o Rio), peças de primeira a preços muito acessíveis, e projetos inovadores (como o Aquarius, música clássica na Praia de Copacabana). Mas é uma orquestra que se arrasta, e cujo regente, deitando-se confortavelmente na fama e em sua longa carreira, tem por seguro que é sempre a estrela da cena. O senhor Isaac Karabtchevsky decidiu que não precisa fazer muito esforço, ele já chegou ao topo e domina qualquer peça. Desrespeita grandemente muitos compositores com essa atitude. Nessa noite, foi o velho russo Rach. Atrasos constantes, um som apagado, erros nos metais, uma depressão que faria corar qualquer suicida. O final? Grandes e efusivos aplausos acompanhados de gritos de "bravo", "magnífico", "sublime", e mais uns dois ou três adjetivos do limitado repertório de elogios da audiência de música erudita. Eles simplesmente idolatram qualquer coisa que seja feita nos palcos. Onde estão as mentes alertas? E as pessoas que entendem e fazem música? Elas simplesmente não vão aos concertos. Nas palavras de algumas pessoas que conheço deste universo, simplesmente é cansativo, não vale a pena, e as pessoas são chatas e efusivas. O espetáculo perdeu a graça há muito tempo.
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iii. Conheci um violinista que iria apresentar-se em pouco tempo no Concerto Triplo, de Beethoven. Ele estava apavorado, pois nãos e sentia preparado para isso. A fim de consolá-lo, disse: "você já enfrentou outros concertos difíceis... para que se importar com o que as pessoas vão achar da sua performance? O público não sabe de nada". Ele concordou, mas estava preocupado com os poucos que iriam realmente ouvir compreendendo, alguns violinistas, era a opinião deles que contava. Lembrei-me da famosa frase da peça de J.P. Sartre, "Huis Clos", quando uma das personagens, que está com as outras pessoas num quarto abafado e sem espelhos, para toda a eternidade após suas mortes, diz: "l'enfer...l'enfer c'est les autres" (o inferno...o inferno são os outros). O inferno é o semelhante, é o ser humanos olhando para você, ou pensando sobre você, lhe julgando, ou lhe azucrinando com suas manias ridículas e suas palavras grosseiras... o inferno não pode ser experienciado na solidão. A solidão é a ausência de paraíso e de tormenta, é o nirvana. Glenn Gould que o diga. Recordo-me também do regente que aparece no famosos filme de F.Fellini, "Ensaio de Orquestra". Num momento de confissão, ele diz ao jornalista que grava sua entrevista palavras parecidas com estas: ao conduzir meus músicos, que estão em oblívio e cheios de desamor pelo que fazem, não olho para eles... suas faces patéticas, seus olhos que me odeiam... evito seus olhares. Este maestro está só com sua música. Sua orquestra é sua abominável plateia sem consciência. Durante o concerto, existem etiquetas. Estas todos conhecem e seguem à risca. Se algum pobre desavisado não conhecê-las, ou se esquecer num momento de empolgação, e por exemplo aplaudir entre dois movimentos da mesma peça, ouvirá uma saraivada de "shhhhhhhhh" pior do que o próprio som de seu pobre aplauso. Se você cochichar no ouvido de alguém que lhe acompanha, seus vizinhos de cadeira irão lhe censurar com olhares e mesmo lhe ofender. Em suma, os policiais do bom comportamento nas salas de concerto são impecáveis em presença de espírito (de porco) e ainda mais grosseiros do que os hábitos que querem aniquilar. Eles desejam aniquilar a própria emoção e o envolvimento com a arte que se lhes mostram.
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iv. Há dois anos, fui assistir a um concerto da Sinfônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, bela porcaria, mas o repertório me interessava. Mas eu não sabia da parte ruim: era um concerto didático para crianças das escolas públicas. Quando cheguei na sala, fiquei aterrorizada, mas estava lá, então não custava nada sentar-me e pelo menos me divertir. Havia mais algumas pessoas desavisadas como eu, mas o que se espera numa situação destas? Uma sala lotada de aproximadamente 300 crianças e adolescentes sem a menor noção do que iria acontecer ali, sem acesso, sem nada. E rindo muito, se divertindo, o que tornava o ambiente bem agradável de fato. O concerto era para eles e ponto final, não para nós. Ninguém realmente apareceu para lhes instruir sobre as tais etiquetas, que os músicos tomam por certo, e nada sobre os compositores. Então de didático aquilo não teve nada. Mas enfim, não é meu objetivo falar sobre isso, mas sim contar sobre a experiência de estar numa plateia totalmente diferente da plateia usual de música clássica. Num solo de piccolo (peça de Vivaldi), olhei para o lado e vi um menininho de no máximo 7 anos com os olhos estupefatos, a boca aberta, uma maçã na mão...ele estava comendo a maçã quando foi tomado de assalto pela beleza daquele som e pela habilidade da musicista. Vi a emoção e o deslumbre estampado na inocência de um garoto humilde, enquanto uma senhora idosa do outro lado fazia caretas para os aplausos fora de hora das excitadas crianças.
Sinceramente, poucas vezes me diverti tanto numa sala de concertos quanto nesse dia, entre crianças e adolescentes "mal-educados".
Para as plateias usuais, aquilo é seu entretenimento apenas. A Nona Sinfonia de Mahler não vai mudar suas vidas, não vai lhes proporcionar uma experiência dionisíaca, não vai revolucionar seus estômagos e corações. Elas estão ali por obrigação, porque é culto ir ao concerto ao invés de ver TV. Elas não têm a menor emoção real e suas concepções estéticas são limitadas a ideias de beleza extremamente conservadoras. Todas, praticamente, nasceram no século XX, mas parecem desconhecer as vanguardas que mudaram as ideias de música, como atonalismo, por exemplo. Concertos de compositores como Dutilleux ou Arvo Pärt ficam vazios, e muitos dos próprios músicos não estão preparados para "tanta" modernidade. O violinista citado anteriormente me afirmou mesmo que odeia tocar até Villa-Lobos! Só lhe agrada século XIX para trás. Ele não percebe que toda a sua glória de violinista ambicioso, se houver, será experienciada e aplaudida por uma plateia constituída de pessoas sem emoção, sem tesão, sem ousadia, e mesmo sem musicalidade. Algumas precisam usar aparelhos de audição e usam suas melhores roupas da década de 50 para prestigiar seus concertos e assim pertencerem à casta "dos que sabem". Porque ele e mais alguns tantos fazem cara feia para as crianças das escolas públicas, que não têm respeito pelos anacronismos da música clássica, seus velhos spallas de casaca preta cumprimentando solistas e regentes com toda a reverência (depois de terem fumado seus baseados nos bastidores). Porque estas crianças talvez até preferissem Phillip Glass com suas séries repetitivas e seus sons maravilhosamente melancólicos à chatice grandiloquente de um Brahms (porque ele consegue ser chato inúmeras vezes... Nietzsche afirmou que Brahms fazia música para senhoras mal-amadas... não chego a tanto, mas ele exige um bocado de paciência e vinho às vezes). Porque elas talvez cantassem junto com um Hermeto Pascoal e sua espetacular inventividade e liberdade com instrumentos (porque para ele tudo dá som), sua humildade e generosidade (na última faixa do disco "Festa dos Deuses", ele grita: "a música universal é música de direito!"), e dormiriam, para escândalo das senhoras e seus colares, durante a execução de um monótono poema sinfônico de Liszt ou de uma ópera brega de um Donizetti. O pior é que eu já perdi vários concertos ótimos para estas pessoas anacrônicas, porque elas correm para garantir seus lugares e tomam rapidamente todos os ingressos... esgotam lugares para entrar em devaneios sonâmbulos diante de uma Maria João Pires.
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Se o concerto for gratuito então, prepare-se: as supostas educadas plateias irão lhe arrancar pelos cabelos se necessário, do seu lugar, para garantir uma boa visibilidade, em detrimento de outros. Minha irmã foi empurrada por uma senhora enfurecida durante uma execução do Requiem de Mozart na Igreja da Candelária, porque a menina estava "na sua frente". Culta, esta senhora, muito culta e gentil.
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Ao fim de uma apresentação, independente do quão boa ou ruim ela foi, pergunte a algum sujeito ou senhora ao seu lado o que acharam: "maravilhoso... ele é muito bom." E não sabem desenhar mais ideias a respeito. E muitos acham que estão sendo didáticos ou agradáveis com você, mais jovens, porque pressupõem que jovens só gostam de música ruim, então precisam incentivar seu bom gosto lhe parabenizando. Concedendo-lhe sua falsa complacência. Na verdade, mal sabem que a complacência foi minha, por aturar suas tosses durante toda a apresentação.
Esquecem-se de que música é revolução e poesia, é a arte mais visceral que pode haver ("os ouvidos não têm pálpebras", como escreveu lindamente o espetacular Pascal Quignard, escritor e músico francês). Deve-se ouvir música com o estômago. E qual é o objetivo dela? Música tem objetivo? Quem tem o poder de definir isto? Ela não é só cortina em torno do leito, para acalmar bestas e acalentar bebês. Ela também é chamado para o sexo, canto de guerra, lamento de escravo cativo, uivo do vento, espasmo de terror, agonia, arfar de moribundo, choro de bebê banhado em sangue recém-nascido, miado de gatos, grito de revolução, urro dos que não têm voz. Música é para os que perderam sua expressão. Remeto-vos novamente a Pascal Quignard e uma de suas mais belas obras, "Tous Les Matins du Monde", transformada em filme por Alan Corneau (1991), trilha sonora tocada por Jordi Savall e Le Concert des Nations. O mestre Mr. de Sainte-Colombe toca sua viola da gamba para o fantasma de sua mulher, após ter se isolado das brilhantes plateias e a corte do Rei Sol, fugindo de glórias, para viver música e natureza.
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Ao fim de uma apresentação, independente do quão boa ou ruim ela foi, pergunte a algum sujeito ou senhora ao seu lado o que acharam: "maravilhoso... ele é muito bom." E não sabem desenhar mais ideias a respeito. E muitos acham que estão sendo didáticos ou agradáveis com você, mais jovens, porque pressupõem que jovens só gostam de música ruim, então precisam incentivar seu bom gosto lhe parabenizando. Concedendo-lhe sua falsa complacência. Na verdade, mal sabem que a complacência foi minha, por aturar suas tosses durante toda a apresentação.
Esquecem-se de que música é revolução e poesia, é a arte mais visceral que pode haver ("os ouvidos não têm pálpebras", como escreveu lindamente o espetacular Pascal Quignard, escritor e músico francês). Deve-se ouvir música com o estômago. E qual é o objetivo dela? Música tem objetivo? Quem tem o poder de definir isto? Ela não é só cortina em torno do leito, para acalmar bestas e acalentar bebês. Ela também é chamado para o sexo, canto de guerra, lamento de escravo cativo, uivo do vento, espasmo de terror, agonia, arfar de moribundo, choro de bebê banhado em sangue recém-nascido, miado de gatos, grito de revolução, urro dos que não têm voz. Música é para os que perderam sua expressão. Remeto-vos novamente a Pascal Quignard e uma de suas mais belas obras, "Tous Les Matins du Monde", transformada em filme por Alan Corneau (1991), trilha sonora tocada por Jordi Savall e Le Concert des Nations. O mestre Mr. de Sainte-Colombe toca sua viola da gamba para o fantasma de sua mulher, após ter se isolado das brilhantes plateias e a corte do Rei Sol, fugindo de glórias, para viver música e natureza.
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Bem, eu não vou mais a concertos, a não ser que apareça alguma grande estrela por estas bandas, se conseguir ingresso, ou para observar os violoncelistas, aprender com eles, seus golpes de arco, suas técnicas de mão esquerda, sua interpretação, ou mesmo observar seus vícios. Mas não suporto mais os clichês, os comentários tolos, as orquestras ruins com músicos pedantes e deslumbrados com seu pequeno mundo, as etiquetas excessivas, as brigas por lugar, as performances sofríveis, a multidão competindo com suas bolsas e echarpes sendo de fato tão pouco respeitável quanto a multidão de cabeludos headbangers num show do Sepultura. Se eu quiser ouvir Messiaen ou a Sinfonia dos Mil (que ouvi sentada na areia de Copacabana há dois anos, ao lado do mar, uma experiência que teria sido mística se não fosse a excessiva segurança e mau gosto do regente Karabtchevsky e a grosseria de pessoas que não deveriam estar ali- um homem disse à sua esposa atrás de mim: mas que chatice... para que essa harpinha agora? como se ele entendesse tudo de arranjo e harmonia, dando pitaco no Mahler... aí, Mahler, corrige isso, hein?), vou ouvir no meu quarto, com muito vinho e os melhores intérpretes. E sem plateia ao meu redor para gritar "bravo" no final, com seu ruído de mau gosto, seus papéis de bala e seus comentários complacentes e risíveis. L'enfer, c'est les autres.
O
O
6 comentários:
hehehe
...eu me lembrei de uma estória que uma amiga me contou, das épocas em que eu morava em Santos.
ao sair do estacionamento supermercado Extra, percebeu que um carro estava a cerca de 1/2 quarteirão de distância, buzinando e dando luz alta. fechou o semáforo e ela parou o carro no cruzamento. o carro que buzinou e deu luz alta, emparelha do lado dela e abaixa o vidro. ela, em um ato reflexo ídem. disse ela que estava um casal, o cara e uma mulher; e o cara começa a esbravejar qualquer coisa para ela. ficou sem entender visto que o carro estava a 1/2 quarteirão de distância, e soltou essa: "meu senhor, eu realmente ia perguntar porquê deu luz alta e estava buzinando; talvez com minha manobra - a 1/2 quarteirão de você - você pudesse ter se assustado. mas; como você veio com essa educação ímpar, eu sinceramente quero mais é que você vá tomar no cú. diz ela que a mulher do lado do cara colocou a mão na boca, contendo os risos, e o cidadão ficou mais vermelho que extrato de tomate em pizza. sinal verde, ela seguiu em frente.
mas vamos pegar isso, e colocar sob a perspectiva do que está escrito neste post:
eu não tenho como entender música. não tenho como entender o erudito. mas, talvez seja algo para ser entendido. quero dizer, não pela nossa parcela "racional" do ser. o próprio Freud dizia que, ao se pegar um sonho e narrá-lo, o objeto em sim - o sonho - ja terá sido alterado pelos mecanismos que racionalizam nossos pensamentos e permitem que coloquemos de uma forma a ser passado adiante. portanto, por mais que queira se falar a respeito do "sonho", jamais conseguirá de fato passar para "o próximo" o teor do sonho em sí.
e a música?
acredito que a música seja - em partes - similar a isto.
então, ocorre que temos um grupo de pessoas, os "apreciadores do erudito" (e também não quero cair no erro de generalizá-los, óbvio; tem muita gente bacana neste meio) que insistem em utilizar o erudito como uma espécie de rótulo que seja indicativo de "bom gosto & refinamento". mas oras bolas, porquê o ato de se "gostar" de erudito tem que ser algo que implique nisto?
o erudito é mais. é muito mais do que isso. a experiência polifônica é algo que é capaz de afiar os sentidos. é algo que se levarmos em conta "os sentidos" humanos, nos eleva a um outro patamar.
...mas isso não é exclusividade do erudito.
é meio lamentável a gente enxergar um certo "xiitísmo" por parte dos apreciadores do Erudito quando levantam a bandeira do "só o meu presta, o resto é porcaria". e, mais lamentável ainda perceber que provavelmente uns 90% adotam tal posição por pura questão de "auto rotulagem". (Inventando palavras novas aqui)
pois, a capacidade para compreensão real do que se está vendo e ouvindo... bem, deste, definitivamente passam longe, beeem longe...
mas que diabos, e eu? não tenho a certeza de que eu compreenda todas as peças que costumo ouvir. mas como disse... talvez não haja o que "ser" compreendido; talvez seja tudo baseado apenas na "experiência". e com toda a certeza, não é algo que deva ser "racionalizado"...
Mas outra coisa me chamou a atenção:
a música, em quase todas as suas formas de expressão, é utilizada amplamente como fator determinante de status sócio-cultural. oras eu mesmo passei por isso em minhas épocas de baterista frustrado, cabelos compridos, calças rasgadas, coturno e música beeem pesada. abandonei a bateria e os cabelos compridos. adotei o cello e o terno e gravata. mas aos finais de semana ainda costumo colocar meus coturnos e calças rasgadas para... tocar Cello! rs
embora hoje, ainda costume desenterrar meus plays do bom e velho Heavy Metal, percebi que o "rótulo" não significa absolutamente nada, ainda mais quando o assunto é expressão artística. hoje é fácil identificar o que é de fato música-arte, dotada de vida e sinceridade, do que é produto de manufatura industrial; artigo destinado a venda e pronto. se engana quem pensa que o erudito está livre disto. o erudito de fato, foi o primeiro "estilo" musical a ser explorado pela indústria do entretenimento, no início da "era das gravações".
É curioso colocar as coisas sob essa perspectiva, pois, indica que, o que a parcela dita "erudita" da população nada mais faz além de repetir o que eu fazia nas épocas dos citados cabelos compridos, calças rasgadas, camisetas de bandas e coturnos...
lamentável.
música é mais do que isso. bem mais.
Pois é, Andreas... quando refiro-me a "entender" aqui, é realmente não apenas ao que pode ser racionalizado, música, estrutura, com harmonia, estilo, historicidade... isso não importa tanto. É mesmo o "ouvir inteiro" que me preocupa, a atenção e o interesse por cada evento, cada "barulhinho", desde o violino até o xilofone lá no fundo, o efeito e participação de cada um... ora, estes fenômenos podem bem ser intuídos e inspecionados por qualquer ouvinte interessado e sensível... o menininho com a maçã, que citei, certamente percebeu mais do que a senhora preocupada com seu status sócio-cultural fazendo caretas... essa falta de percepção e a idolatria excessiva a nomes e famas (um concerto de Yo Yo Ma lota não pelo que ele é, mas pelo que o nome dele representa) é que dão desgosto e incomodam... poderiam me dizer: ignore. Mas toda essa fenomenologia, se me permitem o abuso com o termo filosófico, é como odores para um nariz hipersensível. :P
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