sexta-feira, 4 de julho de 2008

"The Dreamers" - Os Sonhadores


Nunca fui fã confesso de Bertolucci, embora por sucessivas vezes meu irmão tanto me insistira à alugar "O Céu Que Nos Protege".

Pois bem, além do famigerado e belo "Último Tango em Paris" o qual assisti já ha muito, hoje durante minha abitual insônia tive a oportunidade de assistir à outra obra deste diretor.

"The Dreamers"; ou "Os Sonhadores.

Em Maio de 1968, a câmera desce veloz arrastando os créditos iniciais pela estrutura de aço da Torre Eiffel até encontrar o jovem Norte Americano Matthew, um estudante de temática do cinema clássico na calçada; apressado a caminho da Cinemateca... para celebrar Samuel Fuller em Paris (quando o cinema norte-americano era ainda "grande cinema"). Completamente apaixonado por cinema, ele rapidamente faz amizade com a jovem Francesa Isabelle e seu irmão gêmeo Theo. Os três têm, em comum, uma enorme paixão pelo cinema, sobretudo cinema clássico. A amizade entre eles começa a florescer e Matthew passa a descobrir uma intimidade fora do comum, da qual os irmãos franceses compartilham, em meio a jogos psicológicos sob a sob a temática do cinema clássico.

Matthew fica inicialmente confuso e impactado, mas aos poucos começa a ser atraído para o mundo deles. Por todo o tempo eles vivenciam uma paixão mútua e isolam-se totalmente do mundo, distanciando-se completamente do contexto conturbado em que vivia a França em maio de 1968.

A vertigem desse filme magní­fico (declaração de amor ao cinema e ao sonho libertário de 68 que não cessa de se acabar) começa aí­ e nos arrasta para a experimentação e descoberta dos corpos e do sexo emergindo das barricadas do desejo de 1968 - quando, contra o impossível de desejar, desejar o impossível tornou-se urgência- pondo em série num mesmo fluxo, cinema norte-americano + Hendrix + Joplin + Trenet (expor o corpo ao som de La mer, irresistível afirmação) + Piaf para indicar de onde saí­mos, um puritanismo surpreso mais um Édipo um tanto gordo se esquizando sem papai nem mamãe entre as paredes do apartamento atravessadas pelos ruídos das ruas. Vozerios, explosões e gritos que chegam pelas janelas - e caminhando para a própria dissolução nas suas barricadas; quando percebem finalmente o enorme estardalhaço vindo das ruas de Paris. Havia estourado uma grande rebelião de estudantes e, como que se acordassem de um sonho, decidem unir-se ao movimento.

Possível parte final de Novecento, mas principalmente retomada de Beleza roubada, disse Bertolucci - descobri através de posterior pesquisa ao grande pai-google , e não, como alguns pensaram ser a retomada do acima mencionado - e magnifico - Último Tango em Paris (um outro tom, embora tamém um Norte-Americano, mas não-inocente; e sim, angustiado em busca de uma terrinha que se encontra com uma parisiense se desterritorializando de papá via Francis Bacon mais o sax de Gato Barbieri; isto é, um outro olhar, mais severo e inquiridor, para o cinema). The Dreamers neste sentido, definitivamente é mais inocente e por isto mesmo, evoca uma aura de sensualidade muito mais refinada do que "Último Tango em Paris"

Não me arrependo de nada, canta Edith Piaf enquanto os créditos correm ao revés (subindo, em movimento inverso ao da abertura), tendo como imagem a desolação despovoada da barricada incendiada cindindo a rua. É este o puro Bertolucci que tanto falam?

Então vos questiono e digo com certeza; Cinema-sonho? Cinema-psicanálise? não, puro cinema calcado nas mais profundas conexões entre o sonho, o auto-descobrimento e perda da inocência.

Recomendadíssimo para quem deseja cinema-poesia & arte em sua mais pura essência...

La mer
Qu'on voit danser le long des golfes clairs
A des reflets d'argent
La mer
Des reflets changeants
Sous la pluie

La mer
Au ciel d'ete confond
Ses blancs moutons
Avec les anges si purs
La mer bergere d'azur
Infinie

Voyez
Pres des etangs
Ces grands roseaux mouilles
Voyez
Ces oiseaux blancs
Et ces maisons rouillees

La mer
Les a berces
Le long des golfes clairs
Et d'une chanson d'amour
La mer
A berce mon coeur pour la vie.

5 comentários:

Pensamentos Indizíveis disse...

Putz, preciso assistir esse filme!
E precisamos tomar um café, hein!
Beijão!

Fábio Shiraga disse...

Eu tento rever Os Sonhadores uma vez por ano. Nosso amigo Paulo Corrêa ainda destaca a belíssima cena da Vênus de Milo.

Abraço.

Anônimo disse...

é um lindíssimo filme

Anônimo disse...

Semana passa vi outro filme igualmente libertador do cineasta: Desejo Roubado. Revela um pouco da decadência criativa e existencial da geração de 68. À morte dos velhos experimentalistas, a força libidinosa dos jovens e a atmosfera saudosista de hoje e ontem. abraços!! (paulo corrÊa)

Unknown disse...

Belo filme. Os Sonhadores é uma história interessante e cativante amor diretamente ligada ao contexto político-cultural aconteceu na primavera de '68 tumultos na cidade de Paris, capturando perfeitamente cenários e ambientes. Uma fita sedutor, com um grande elenco sobre todos os atores de cinema Eva Green (Isabelle) e Louis Gardel (Theo), surpreso com a simplicidade e graça encarnado quando alguns personagens e complexo coloridas, como Michael Pitt, que, completando o trio, e ao abrigo de um apático, alucinado enquanto aparentemente atira trabalho com interpretação meticuloso, embora às vezes um pouco inútil. No geral, é um drama de amor cheio de ideais e descobertas que adora o cinema.