sábado, 6 de setembro de 2008

Cemitério do Araça... Arte tumular, devaneios...



Em São Paulo hoje, após terminar as coisinhas que tinha a fazer resolvi caminhar da praça da república até a

Avenida Paulista pela Consolação.

Tinha dois lugares que queria conhecer mas por vagabundagem - ou antes, pura falta de tempo - não tinha dado certo.


Os dois na própria Consolação. Então assim, próximo a República eu entro em uma Igreja em estilo similar ao gótico - embora com uma variedade de elementos de outros estilos arquitetônicos bastante visíveis.


Entrei. Chão sendo lavado, e deixo um rastro de passos com meu coturno encardido. Alguem me olha feio.


Não há muito a dizer, geralmente gosto de igrejas e o silêncio dentro das mesmas. E a luminosidade lúgrube. Existe algo que inspira paz, ao mesmo tempo uma certa opressão e medo - mesmo que estes dois de maneira tão velada - dentro destes lugares. Olho ao meu redor. Apesar de não seguir nenhuma doutrina ou crença que possa ser considerada convencional, me entristece o fato de a grande maioria das doutrinas ditas "Alimento para alma" hoje em dia menosprezem algo tão sublime e belo quanto as Artes Sacras. - Porquê?


Duas hipóteses, ou condenam a beleza criada pelo homem por achar que isto é uma afronta à qualquer divindade que se supõe a existência - afinal a criação do ser humano é atestado de incompetência criativa - ou, passavam por um momento de contenção de gastos quanto a contratação de artistas competentes e a moda pegou.


Já entrou em uma igreja de alguma doutrina mais moderninha? Estéril, impessoal.


Enfim, saindo dali continuei minha caminhada ladeira acima. Chego ao cemitério da Consolação. Basicamente, o que a grande massa nunca percebeu é o fato de que normalmente, independente do fato de um cemitério ser uma necrópole, isto é; uma cidade de mortos, eles também costumam ser verdadeiros museus a céu aberto.


Minha intenção original ao visitar este lugar era tirar algumas fotos para escrever algo sarcástico e ácido sobre o destino comum de todas as pessoas que por aqui transitam - digo, acabar um pouquinho mais com o ser humano só de birra - mas desisti depois que uma vez lá dentro. Maravilhosas as esculturas daquela morada final.


Caminhei por cerca de uma hora nesta que é uma das necrópoles mais antigas de São Paulo. Eu olhava embasbacado para todos os lado, vendo verdadeiras peças de arte alí, todas apresentando uma naturalidade que apenas a ação do tempo sobre o mármore é capaz.


Assim, eu ví anjos perfeitos, em poses que inspiram a realeza. Ví mulheres lindas e seus vestidos esvoaçantes, seus rostos delicadamente tristes, debruçadas sobre lápides; tão naturais que se esquece que estão ali, congeladas no tempo, algumas desde mil oitocentos e sessenta. Ví capelas particulares, pequenos santuários pessoais dedicados à quem já a muito se foi, mas sabe-se pelo esmero e delicadeza em sua construção, o quanto foi importante para alguem.


- Existe tristeza e dor em um cemitério, óbvio. Mas tambem existe amor em estado bruto.


Em respeito a isto, particularmente à esta pequena parcela da alma humana, o "luto" por algo ou alguem amado que partiu (não necessariamente desta para melhor; apenas uma "perda" mesmo que por separação de caminhos - o luto não ocorre apenas na morte, óbvio); não vou acabar com nenhum destes momentos descambando para a crítica-chutar-o-pau-da-barraca aqui.


Para os que não sabem e são abertos para tal, vale mencionar que, embora em sua grande maioria as esculturas sejam de autoria anônima; existe todo um movimento artistico denominado "arte tumular", cujas peças são de uma expressividade emotiva assombrosa.


...resta agora apenas, explorar a ligação entre esta mescla parasitária social que se auto-intitulam de neo-góticos mas não passam de emos disfarçados; e estes locais que são tão sagrados em sua própria essência... Cruzei com um desta espécie por lá, bem como duas garotas "normais" que me olharam assustadas e só se aproximaram ao perceberem a máquina fotográfica...


Nota pessoal - Não usar roupas pretas e rasgadas nas próximas incursões aos "limites" da existência humana...



5 comentários:

Anônimo disse...

Ando refletindo muito (até demais) sobre morrer e viver...o post veio bem a calhar no contexto. Mas ó, vim mais pra dizer que tá tenso responder...teus recados são bloqueados no orkut :/.
Adicionei um e-mail aqui do teu perfil do blogger no msn, espero que seja o certo :). Caso não seja, theopivarvakis@hotmail.com

Drieli disse...

Embasbacado? não sabia que você falava isso.
E sobre as roupas rasgadas, quer lançar tendência ou é falta de linha & agulha mesmo?
Acho que é mais a questão da tendência mesmo... esse povinho ultra-fashion dói o meu pâncreas.
Incrível encontrar emos no cemitério! Na verdade acho que os emos são uma espécie de pombos com cabelo grudados na testa, um make carregado e roupitchas.
Jesus.
Só para constar, estou profundamente magoada contigo (olha o doce).
Aniversei. hahaha

Um beijo.

Drieli disse...

Bicho, não dá. Vou ter que escrever email! hahaha

Drieli disse...

oooooooohhh, as fotos enquadradinhas, que bonitinho!

tô muito chapada de sono, Jesus.

Beijo no joelho.

Anônimo disse...

nossa muito linda as fotos!