Quando tudo corre bem com os estudos relacionados ao Cello, naturalmente chega um momento em que pela prática adquirida, você deixa de se preocupar com o ritmo e a entonação das notas.
Acho que este é um dos momentos mais legais no aprendizado do instrumento; quando você percebe que o ato de “tocar” vai além da simples execução de uma partitura por exemplo. E também, se não tomar cuidado, pode ser um momento bem frustrante do estudo devido à ainda existentes limitações técnicas.
Muitas vezes quando ouvimos um arranjo criado e executado no Cello, percebemos um algo vivo no som, como se o mesmo fosse orgânico, dotado de vida e emoções próprias e oras, de certo modo o é. E, como músicos muitas vezes, nos sentimos tentados a copiá-los. Sabemos quais tons e nuances queremos atingir, mas não temos certeza de como fazê-lo. Entendemos quais são os ingredientes que compõe e fazem variar o som cru; e às vezes, parece que tudo o que precisamos é uma espécie de livro de receitas que nos ensine quando e em quais proporções devemos usar tais ingredientes dependendo das cores e sons que queremos atingir.
Vale dizer que embora muitas das técnicas necessárias para a cor e a vivacidade do som são relacionadas à mão esquerda; é o arco que é realmente é o “mestre” em dar vida ao som. Então, é primordial ter domínio sobre a velocidade do arco bem como ponto de contato e manuseio do mesmo.
Como disse uma vez o célebre Cellista Paul Tortolier, “(...) Eu notei que quando alguns de meus alunos finalmente corrigem alguns maus hábitos técnicos, existe uma mudança em sua interpretação. Eles percebem que suas interpretações tinham sido tão medíocres quanto sua técnica.”
Esta “transição” interpretativa é bastante natural, e naturalmente não existe uma regra rígida para se passar por ela.
“Eu... segui mais pelo modelo ensinado por Rostropovich, uma arcada bastante profunda e difusa, aonde o controle do arco se dá mais através da própria palma da mão, o que me ajudou a atingir a sonoridade que eu desejava” – Carter Brey
“Eu percebi através de Rostropovich que sua aproximação rígida às vezes impede a produção de certos sons, restringindo assim a gama de expressões possíveis. Certos sons não estavam disponíveis ou até mesmo eu sequer imaginava; por que eu seguia muito a risca as regras técnicas de Starker” – Maria Kliegel
Interessante que Rostropovich foi a influência corruptora para estes dois Cellistas.
É, importante ressaltar que antes de entrar no mérito das ‘experimentações” em busca das cores e nuances sonoras, é importantíssimo tentar atingir a maior gama possível de expressões sonoras, calcados na técnica.
Quando finalmente perceber que apenas a técnica não lhe ajudar a atingir um resultado esperado então talvez seja a hora de começar a experimentar novas idéias. Talvez tocar com os dedos mais rígidos certas passagens. Ou quem sabe, as articulações dos dedos mais rígidas. Ou mais soltas. Cotovelo mais baixo. Pressão maior no arco. Arcadas sobre o espelho. Ou mais próximo ao cavalete. Aumentar ou diminuir a altura do espigão. Ou, qualquer outra coisa que você tenham lhe dito ou que você imagine ser tecnicamente ruim ou errado.
Apenas tente novas idéias.
Veja, eu não estou dizendo que devem começar a utilizar tais métodos pouco ortodoxos a toda hora, mas apenas que “talvez” existam momentos que tais técnicas (??) possam ser úteis.
Por exemplo, o Cellista Lynn Harrell. Muitas das técnicas e idéias empregadas por ele, jamais serão encontradas em qualquer método ou livro.
“Às vezes eu seguro o arco com os dedos de um jeito raso de modo que os dedos não cheguem tão perto da crina, como no modo convencional na pegada do arco.
O polegar toca a própria vareta do arco e não se apóia tanto no talão. Assim, a mão fica em uma posição relativamente alta para que você possa torcer o arco entre o polegar e o resto dos dedos. O dedo mínimo pode ser posicionado em cima da vareta do arco, como um violinista, e o pulso oscila naturalmente. Esta pegada de arco é para a execução de sons mais delicados. O maior problema de se manusear o arco desta forma, é a dificuldade de impedir que o arco gire em ao redor de seu próprio eixo pois você está segurando algo que é arredondado e pode se mover sob a pressão exercida no arco, principalmente nas cordas mais baixas.”
“(...)Para uma pegada mais potente, eu costumo abaixar meu terceiro e quarto dedo. O terceiro, eu abaixo até que eu consiga segurar embaixo do talão, e o quarto quase embaixo do talão também. O polegar, diretamente encaixado no talão, mas em ângulo, para que ele não deslize. Mantenho meu pulso firme nesta posição. Nesta posição, é quase impossível torcer o arco, é como se estivesse segurando um bastão de baseball, o que garante a potência.”
Mas é interessante também que, após a experimentação de cada nova idéia, se a mesma se mostrar útil; que faça também uma análise dos “porquês” de tal idéia ter se mostrado útil, bem como quando e aonde ela pode ser aplicada. A grande maioria dos clássicos, não permite tantas invenções, experimentalismos ou ousadia.
Também é válido dizer que o quanto mais você se torna ciente da sua mecânica corporal e movimentos, mais amplo se torna seu leque de opções sonoras possíveis. Que tipo de som você pode produzir movendo seu pé esquerdo enquanto toca, por exemplo?
Oras... Talvez no final, você irá perceber que tudo não deixe de ser uma questão de “deixar-se levar”.
Um comentário:
Muito bom o post. Pra mim ainda é dificil fazer uma interpretação legal das musicas, mas estou estudando
continue com o blog, acompanho sempre.
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