Considerando que ando realmente vagabundo para postar alguma coisa por aqui – ando priorizando minhas anotações em forma de “diário de bordo” que não o blog, temporariamente; posto aqui uma banda bem legal que preciso escutar com mais calma. Na verdade conheci ontem a noite; grato a Amaranta por cruzar o Atlântico e me encontrar em Frankfurt para me apresentar isso.
Texto & link; créditos ao blog “Feijão Tropeiro Musical”.
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Em seu segundo lançamento, Zach Condon permanece perambulando pela musicalidade impar de uma Europa perdida na memória, mas desce dos Bálcãs para a Europa ocidental, e senta-se para admirar uma corrida de balões de ar ocorrida na Paris do início do século 20. E dá-lhe chanson francesa entoada entusiasmadamente em formato novo pop – a influência central do álbum é a obra de Jacques Brel, mas namora também a classe do Magnetic Fields, projeto do multi-instruementista Stephin Merritt, sem abandonar a sonoridade cigana da estréia.
Viola, acordeom, bandolim, trompetes, flugelhorn e orgão criam um clima tão rico de sons e imagens que é difícil não se apaixonar e/ou não se perder por The flying club cup. Da voz de Zach Condon escorre uma poesia melancólica que comove enquanto conta a história de uma paixão proibida de um tempo qualquer (existem paixões proibidas hoje em dia?) que pode causar o enfrentamento de duas grandes famílias (nem Montechios nem Capuletos, mas poderiam ser estes os personagens) e colocar a perder a organização de uma corrida de balões.
"Nantes" abre o disco (após os 18 segundos de "A call to arms") de forma quase desorganizada, como se o Beirut fosse uma orquestra de rua. Da voz de Zach escorre saudade e tristeza: "Já faz muito tempo que eu vi você sorrir", canta o jovem que só vê um sentido na noite: chorar. "A sunday smile" narra uma das paisagens mais deliciosas de se ver: um cachorro deitado na sombra lambendo suas feridas em um dia de domingo. A conquista segue em "Cliquot", cujo personagem pergunta no refrão empolgante: "Que melodia levará minha amante para a cama"?
A musicalidade do Beirut não é algo que desce fácil a ouvidos acostumados com o clássico pop britânico (digerido e devolvido com poucas variações pelos norte-americanos) dos últimos quarenta anos. Porém, para brasileiros acostumados com a delicadeza da bossa nova, com os acordes dissonantes da tropicália e com os tambores de maracatu do manguebeat (e, por que não, com a influência latino-caribenha do reggae e do calipso na axé music), o Beirut é uma surpresa de final de noite, quando após noites em claro estamos prestes a dormir, e a sonhar, e nos deparamos com o último acontecimento, aquele que vai dar o tom do sono – e dos sonhos.
A orquestra cigana de Zach Condon dá vida a uma arte que – cada vez mais – se ampara na reciclagem e na repetição. Acompanhado de músicos tão jovens quanto ele, este garoto de 21 anos de Albuquerque, nos Estados Unidos, não se prende a uma corrente pop, ao contrário, navega solitário por terras quase desabitadas desse mundo velho sem porteira. Seu passeio musical em um balão rende um repertório cuidadoso de 13 canções inspiradas e inspiradoras que servem para fazer a alma do ouvinte – afogada na desilusão de uma música pop que padece de criatividade – respirar novamente enquanto observa a lua velejar nos olhos da amada.
Para ouvir sem piscar.