domingo, 26 de dezembro de 2010

Violinos, Cello, Rock Pt. 26 - Beirut

Considerando que ando realmente vagabundo para postar alguma coisa por aqui – ando priorizando minhas anotações em forma de “diário de bordo” que não o blog, temporariamente; posto aqui uma banda bem legal que preciso escutar com mais calma. Na verdade conheci ontem a noite; grato a Amaranta por cruzar o Atlântico e me encontrar em Frankfurt para me apresentar isso.


Texto & link; créditos ao blog “Feijão Tropeiro Musical”.


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Em seu segundo lançamento, Zach Condon permanece perambulando pela musicalidade impar de uma Europa perdida na memória, mas desce dos Bálcãs para a Europa ocidental, e senta-se para admirar uma corrida de balões de ar ocorrida na Paris do início do século 20. E dá-lhe chanson francesa entoada entusiasmadamente em formato novo pop – a influência central do álbum é a obra de Jacques Brel, mas namora também a classe do Magnetic Fields, projeto do multi-instruementista Stephin Merritt, sem abandonar a sonoridade cigana da estréia.


Viola, acordeom, bandolim, trompetes, flugelhorn e orgão criam um clima tão rico de sons e imagens que é difícil não se apaixonar e/ou não se perder por The flying club cup. Da voz de Zach Condon escorre uma poesia melancólica que comove enquanto conta a história de uma paixão proibida de um tempo qualquer (existem paixões proibidas hoje em dia?) que pode causar o enfrentamento de duas grandes famílias (nem Montechios nem Capuletos, mas poderiam ser estes os personagens) e colocar a perder a organização de uma corrida de balões.


"Nantes" abre o disco (após os 18 segundos de "A call to arms") de forma quase desorganizada, como se o Beirut fosse uma orquestra de rua. Da voz de Zach escorre saudade e tristeza: "Já faz muito tempo que eu vi você sorrir", canta o jovem que só vê um sentido na noite: chorar. "A sunday smile" narra uma das paisagens mais deliciosas de se ver: um cachorro deitado na sombra lambendo suas feridas em um dia de domingo. A conquista segue em "Cliquot", cujo personagem pergunta no refrão empolgante: "Que melodia levará minha amante para a cama"?


A musicalidade do Beirut não é algo que desce fácil a ouvidos acostumados com o clássico pop britânico (digerido e devolvido com poucas variações pelos norte-americanos) dos últimos quarenta anos. Porém, para brasileiros acostumados com a delicadeza da bossa nova, com os acordes dissonantes da tropicália e com os tambores de maracatu do manguebeat (e, por que não, com a influência latino-caribenha do reggae e do calipso na axé music), o Beirut é uma surpresa de final de noite, quando após noites em claro estamos prestes a dormir, e a sonhar, e nos deparamos com o último acontecimento, aquele que vai dar o tom do sono – e dos sonhos.


A orquestra cigana de Zach Condon dá vida a uma arte que – cada vez mais – se ampara na reciclagem e na repetição. Acompanhado de músicos tão jovens quanto ele, este garoto de 21 anos de Albuquerque, nos Estados Unidos, não se prende a uma corrente pop, ao contrário, navega solitário por terras quase desabitadas desse mundo velho sem porteira. Seu passeio musical em um balão rende um repertório cuidadoso de 13 canções inspiradas e inspiradoras que servem para fazer a alma do ouvinte – afogada na desilusão de uma música pop que padece de criatividade – respirar novamente enquanto observa a lua velejar nos olhos da amada.


Para ouvir sem piscar.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Como escolher um arco?

Oi, amigos! Como cêis tão? Espero que bem. Essa é só uma passadinha pra tirar a poeira do blog, hahah! Depois posto com mais calma. ^^

Encontrei essas informações fuçando na net. Não sei quem é o autor, mas resolvi publicar aqui assim mesmo pra conhecimento de todos. Um pouco de conhecimento geral sobre arcos (se alguém souber o autor, me avisa, tá? eu coloco os créditos.)


COMO ESCOLHER UM ARCO

Aceita-se geralmente que um musico de instrumento de corda compra primeiro um instrumento antes de começar a procurar um arco. A pergunta de muita gente é: o que é mais importante, o instrumento ou o arco? Eu digo o seguinte: você vai a um recital de violino ou você vai a um recital de arco? É o músico um violinista ou um “arquista”? Eu acredito que isso responde à pergunta. Entretanto, depois que o instrumento ideal é encontrado, o arco deve ser a próxima procura. Ao procurar um arco, deve-se ter em mente que apenas porque um arco é caro não lhe faz automaticamente um arco melhor. Em termos de materiais o pau brasil é a melhor madeira para o arco. Outras madeiras são usadas para arcos mais simples e para arcos de estudante. Nos últimos 10 anos a fibra de carbono tem se mostrado uma opção interessante para a confecção de arcos e muita gente diz que a fibra de carbono é tão boa quanto o pau-brasil. Sendo que os arcos de fibra de vidro são usados para estudantes. A crina do arco é tradicionalmente branca ou preta sendo que a crina preta é mais usada para arcos de contrabaixo. Muitos substitutos foram experimentados, mas a crina do cavalo é considerada ainda o melhor material. Quando estiver avaliando um arco certifique-se que a crina é nova ou pouco usada. Com o tempo a crina estica e perde sua habilidade de reter resina. Um bom arco com crina velha é como um bom violino com cordas velhas.

Redondo ou octagonal

A forma do arco é assunto de muita discussão. Algumas pessoas acreditam que um bom arco deve ser redondo, outras preferem o formato octogonal. Porém, o equilíbrio do arco e a qualidade da madeira que está sendo usada serão o fator decisivo na qualidade do arco.

Equilíbrio

O equilíbrio correto de um arco é muito importante. O arco não deve ser demasiado pesado no talão e nem ser demasiado leve na ponta. Se for demasiado leve na ponta será difícil começar um som forte na parte superior do arco, se for demasiado pesado no talão será difícil controlar golpes de arco como o spicatto e mudança de corda.

Força e flexibilidade

A força da vareta e a flexibilidade são basicamente opostos, contudo são extremamente necessários para que um arco seja capaz de produzir um bom som. A força da vareta é absolutamente essencial para fazer um som forte e poderoso. O arco deve ter rapidez de resposta e clareza na articulação. Para avaliar a força, eu verifico primeiro a dificuldade para girar o parafuso ao apertar a crina. Se o talão estiver bem ajustado na vareta e o parafuso girar com extrema facilidade o arco é demasiado fraco. Coloque o arco em cima de uma corda do seu instrumento e force para baixo, verifique quanta resistência ele oferece antes de encostar a crina na vareta.

Curvatura e alinhamento

A curvatura é extremamente importante porque determina algumas características muito importantes. Se o arco tiver uma curvatura excessiva poderá se tornar muito duro e desajeitado e se não for curvado o bastante se tornará fraco e sem clareza nas articulações. O arco pode perder sua curvatura com o tempo se não for devidamente afrouxado na hora de guardar. A curvatura pode ser refeita e para isso é necessário um luthier que tenha experiência, pois esse é um procedimento muito delicado. Os arcos franceses costumam ter bastante curvatura na parte superior começando bem perto da ponta, isso dá mais firmeza e som mais brilhante. Os arcos alemães por sua vez têm curva mais suave e homogênea, portanto, produzem som mais escuro e a vareta fica um pouco mais flexível.

País de origem

Os franceses são conhecidos pelos seus arcos assim como os italianos são para violinos. O francês inventou o arco como nós o conhecemos hoje e a maioria dos golpes de arcos usa palavras francesas. A França, durante muitos anos, produziu muitos archetiers de alto nível, mesmo para os arcos feitos por fabricantes franceses modernos o preço tenderá a ser mais elevado do que de outros países tais como alemães, suíços, e estados unidos.

Ornamentação

Fabricantes de arcos individualizam seus produtos de diversas maneiras. Alguns arcos são altamente decorativos, alguns adornados muito simplesmente. O músico não deve supor que mais decoração significa automaticamente mais qualidade.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Roma: Da transitoriedade do "Ser"...


Pega, retorce, vira e martela. Dobra, amassa, recicla. Sempre em frente sem jamais olhar para trás. Pessoas vivem, pessoas morrem. Amigos morrem. E permanecemos. Somos talhados, martelados, forjados e retrabalhados. Mutação plena. Acordamos hoje sem jamais sermos o que eramos ontem.

  • Nós moldamos o “meio”, ou o meio nos molda? Em que medida somos reflexo do meio em que vivemos? Qual é o meio termo? “Ser” ou “aonde ser”?

Um mês em Roma & arredores. Um mês lidando com o meu “eu” inserido em outro meio. A palavra que me vêm em mente é a “transitoriedade”.

Ontem, tarde a noite pela Piazza di Spagna vazia, em suas pedras & asfalto refletindo o neon das lojas de alto luxo, escuto um belo Jazz com um trompete solo maravilhoso. Bom, provavelmente é uma das lojas mais “cool”, já fechadas.


Andando, seguindo pelas vielas de Roma, uma fileira de taxis encostados. Tarde da noite, pós chuva mediterrênea Invernal, pouco movimento. Eis que me deparo com a origem de tão belo Jazz. Um taxista, sem nada melhor para fazer, praticando seu hobby. Som ligado no carro, porta aberta, banco reclinado. Uma música em contrabaixo no som do carro em uma base pré-gravada. Tranquilamente, apontava seu trompete para cima, executando de maneira exímia um solo, tocando para ninguém que não fora ele mesmo.




A melancolia irrompe solta.

Minhas andanças por Roma me levaram a lugares inusitados. Para que ir ao Egito, se temos uma pirâmide maravilhosa nos subúrbios de Roma? Há 2 milênios os gatos decidiram que Roma era uma morada mais agradável que o Egito. Também, pudera, aqui se sentem em casa; afinal nunca vi povo tão fascinado com Obeliscos do que o Romano. Exagero, claro, mas provável que fica pau a pau o número de obeliscos aqui se comparado com a cidade do Cairo. Impressiona!

Um mês inteiro vasculhando Roma tanto no mainstream quanto no underground. Punks. Heavy Metal. Pessoas Descoladas. Loucos & Loucos – Os loucos Romanos, levam ao pé da letra a palavra “louco”.

Amizade com casais de velhinhos donos de cafés em pontos descolados. Amizade com casais de velhinhos donos de cafés aos arredores da Università degli studi di Roma la Sapienza. Velhinhos e velhinhos. Todos detentores de uma personalidade terna e quente. Amistosos. Exagerados em modos, mas o tipo latino da melhor espécie; param, conversam. Se interessam pela sua estória. Boas risadas. Um encanto de pessoas! Velha guarda, bem vividos. Pouco ou nada a ver com a nova geração de cidadãos Romanos. Estes frios, distantes. Um “q” de xenofobismos com pitadas de um ego do tamanho de um bonde.

Motoristas de ônibus Romanos pirados. Gente boníssima que quer apenas saber de viver em paz. Conversas. Experiências. Um senso de cordialidade que as vezes, me pego pensando que o ser humano a muito esqueceu.

A velha e boa Roma mantém o seu encanto. A velha e boa Roma também mantém seus segredos. Streghes; as “boas damas” ou “sábias”. Na Capital mundial do catolicismo, impressiona a quantidade de Streghes circulando pelas vias menos visadas. Algumas, vemos no metrô, trens ou ônibus. Interessante. Lidam com o dia a dia objetivo, a vida “capitalista”. Mas algo em seu olhar, certo brilho, indica que ao mesmo tempo, mantém contato e transitam entre tal mundo, e outro; de cunho bem mais sutil e subjetivo. Ahhh como gostaria de ter a oportunidade para pagar um café e conversar com uma destas!

A saber, as Streghes Italianas são uma potente estirpe de bruxas oriundas da região mediterrâea, sobretudo na região norte e centro da Itália.

Geralmente seguem a sincretização da Deusa Grega Ártemis, conhecida deusa da noite, da caça, magia e feitiçaria cujo nome Romano Diana, a principal divindade para a maioria dos grupos acadêmicos e praticantes da Stregheria ou, os Pupilli della Luna (Os Favoridos da Lua). No entanto, especula-se que existem grupos isolados de Streghes que seguem tradições cujas linhas de trabalhos são baseadas diretamente na cultura Etrusca, alegando-se detentoras de conhecimentos que são transmitidos de forma oral desde cerca de 1200 A.c.

Estão por aí; a 2.000, 3.000 A.c.

Hoje faz uma semana do falecimento de um amigo meu no Brasil, ou como chamamos aqui, a “terrinha”. 30 e poucos anos. Artista plástico cujo legado em uma espécie de “In memorium” foi uma tese de mestrado pela Unicamp.

E Roma está aqui, de pé. Este caldeirão de culturas. Interagindo, e sendo interagida. Absorvendo. Moldando-se. E moldando a tantos que por aqui vivem ou viveram. 2.700 anos de história. Nos limites da história real e história mitológica. Me pergunto:

  • Qual o sentido da transitoriedade humana?

Sinceramente, eu passo...!

Não buscamos objetivos na vida. Talvez, mais do que tudo, buscamos certezas. Mas certezas, tirando o “meio”, é demasiadamente relativa. Ou sabes aonde estará na próxima semana, mês ou ano...?

Seguindo sempre em frente, sem jamais olhar para os erros que ficaram para trás; amanhã subo um pouco mais ao norte do velho continente. Próxima parada, Frankfurt.

O que me aguarda por lá, fora um cemitério Celta e outros restos...?

Apenas a certeza de que o “meio”, é mais forte do que o “ser”...

Veremos... Veremos... Por hora, sempre ao Norte e Leste! Janeiro, decido o que fazer da vida, seja em Roma, Frankfurt, Paris, Praga ou Budapeste..



domingo, 7 de novembro de 2010

Help Marissa Nadler Record Her New Album


Sério,

Só coloquei isso aqui porque acho esta mulher muito charmosa e o trabalho dela, uma pegada meio dark folk melancólica, bem sombrio mesmo...

(Até porquê, ela já arrecadou o que precisava.. rs)

Se alguém quiser conhecer mais o trabalho, eis o link para a resenha do álbum "Little Hells" de Marissa Nadler...

Agora, se já conhecem; então assistam a bem bolada campanha dela para arrecadar fundos para os custos da gravação de seu novo trabalho... Belíssima iniciativa D.I.Y, em um vídeo simples porém super cativante...

(Sim, quem conhece sabe que a Srta. aí de baixo além de charmosíssima e talentosa musicista, é tímida!! Não é uma graça...?)

Link Vídeo:
















P.S -. Chuva em Roma, muita chuva...
Explicado...? rs

sábado, 6 de novembro de 2010

Violinos, Cello, Rock Pt. 25 - "The Pax Cecilia - Blessed Are The Bonds"



Em momentos de nítida iluminação e deslumbramento existencial, é impossível não deixar de falar um pouco sobre música, já que este que vos escreve não vive apenas de sonhos e “A Feiticeira” do Michelet enfiado debaixo do braço.

É preciso ir além, e uma boa trilha sonora ajuda e muito!

Portanto, deixa eu dar um “up” aqui em termos musicais, já que ando nessa vibe bizarramente boa.

Companhia constante em meu I”Steve”Pod, ando me chafurdando nos trabalhos de um grupo Independente chamado de “The Pax Cecilia” - Ah-rá!.

Sinceramente não faço ideia de que buraco chamado Henrietta no Estado de NY surgiram estes caras, e tampouco conseguiria arriscar a dizer qual o tipo de música que praticam. Ambient? Landscape? Eletro-acoustic? Art-Rock? Progressive Metal? Não tem como, é impossível! Até mesmo porquê a grosso modo, executam exatamente todos os gêneros mencionados aí em cima; com uma maestria e desenvoltura ímpar!

Blessed are the Bonds”, aparentemente é um daqueles trabalhos que a cada audição, nos faz perceber todo um leque de pequenos detalhes que passaram despercebidos anteriormente, e nos fazem apertar com insistência o maldito “rew” para escutarmos novamente determinadas passagens e absorver outras – diga-se de passagem, coisa que já fiz novamente aqui no meu note enquanto escrevo estas linhas.

Possuem uma característica interessantíssima, a multiplicidade de camadas sonoras diferentes, todas esquisitas, todas aparentemente desconexas, mas que no conjunto da obra fazem todo o sentido do mundo. Ora, múltiplas camadas de percussão - a boa e velha bateria em alguns andamentos quebrados do prog – extremamente acessíveis, riffs de guitarra animalmente escabrosos, baixos bem marcados, a força melódica de um terceto de cordas dando a característica tecitura sonora delicada que bandas que apelam para este recurso costuma apresentar, bem como linhas delicadíssimas de Piano solo acompanhado pelo Cello solo.

Um daqueles trabalhos que é basicamente impossível compreender em uma única audição. É preciso de umas dez. E já adianto, a cada uma, tornará-te mais fissurado no conjunto.

A construção da arquitetura sonora começa pela música “The Tragedy”, delicadamente assentando os alicerces do que será o álbum, em um piano elegantemente acompanhado por um Cello solo e após vários minutos, o resto da sessão de cordas da banda, incluindo o baixo e a bateria; assentando assim mais uma camada para toda a estrutura. Os vocais, logo flutuam para dentro e para fora; remetendo aos poucos a ideia da progressão sonora que compõe este trabalho.

And in songs like this one / they all blend together / seeking out others like themselves...”

Em uma audição contínua, percebe-se que as primeiras impressões poéticas em termos da estética sonora criada pelo “The Pax Cecilia” não condizem – embora perfeitamente integrada ao corpo musical – com o que se tornará a obra completa. Percebe-se logo que tudo caminha e transmuta para uma aceleração musical que a palavra “surreal” não faz juz.

Paralelamente ao piano que desce a tons mais densos e tensos, os vocais lentamente passam de gentis e suaves, para um tipo frustrado, furioso; cada um deles em contraponto, dando o balanço geral. Novamente, este detalhe se integra na estruturação geral do trabalho dos caras, sem soar descabido e adicionando uma certa aura de fúria poderosa – porém belíssima no sentido macro da proposta da banda. (Aliás, qual seria tal proposta? Se alguém descobrir favor me avisar em um comment, please.. ;)

Épico!

Um detalhe interessante nestes caras, é uma certa aura de filme noir em uma bizarra mistura com algo as vezes progressivo, as vezes jazzeado, e muitas vezes; distorcendo totalmente a paleta sonora que vinham utilizando até trinta segundos atrás. Uma verdadeira salada gourmet com toda a pinta de um prato que irá encher o estômago para um dia de trabalho pesado. Não estão satisfeitos? O que dizer então quando a coisa toda descamba para uma espécie de mistura de heavy metal, com piradas de uma espécie de metal core, e ainda amparado – e contrastado – com o Piano e o terceto de cordas, em uma explosão de raiva, melodias belíssimas e um pouco além, vai para o Landscape total? Sério, de uma maneira surreal a orientação musical envereda para uma espécie de música ambiente, com sérias tendências a melhor fase de Brian Eno. Mas se a esta altura já capturou – se é que é possível isso – a essência da banda, sabe que logo virá outro crescendo, mas permanece o mistério: O que virá agora...?

Lí em algum lugar que não me recordo agora que a melhor maneira de descrever a música do “The Pax Cecilia” seria imaginar o “Godspeed You! Black Emperor” tendo um revertério criativo, contratado um vocalista extremamente competente e decidido enveredar para o Prog. Heavy Metal, mas mantendo todas as características que fazem o Godspeed You! ser o que são.

Eu gostaria de classificar esta banda em alguma categoria musical mas eu simplesmente não consigo! Acho que é aceitável algumas comparações com a “Hey Rosetta!” (Já falei desta banda aqui?) já que ambas tem lá seu pé calcado no heavy metal mesmo que “em Passant”. Mas, algo não bate pois de certo modo toda a abordagem musical é diferente. Talvez seja de fato o piano.

No entanto, sei disso: “The Pax Cecilia” e seu “Blessed are the Bonds” é uma das poucas obras de arte que transcende uma definição, e transformam um punhado de notas musicais em uma força musical que irá sempre revelar algo novo a cada audição fazendo os soar novos belos, ameaçadores e refrescantemente novos.

Para um álbum que irá custar-lhes apenas 1 horinha de audição, não é nada mais e nada menos do que uma pequena obra prima.


Link: "The Pax Cecilia - Blessed are the Bonds"

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Politicamente Incorreto!

Divagações e enxeção de linguiça de um cara ranzinza e mal humorado (só por hoje...) com essa chatisse do tal "politicamente correto". Não me dêem um biscoito nem atenção que já já desencano disso tudo...

Andando pelas ruas de Roma é impossível não perceber um fato curioso: Roma provavelmente é a cidade dos fumantes.

Em uma cidade com mais de 2.500 anos de história pulsando por entre suas vielas, becos, monumentos e fontes, hordas e hordas de cidadãos Romanos bem como de outra miríade incontável de origens geográficas inusitadas, o que mais há em comum entre exemplos tão díspares de elementos humanos, é a pequena parcela de infinidade de marcas de cigarro que cada um carrega em seus bolsos, mãos e acesos, entre os dedos. Em uma rua escura, vê-se brasas, pequenos pontinhos andando para lá e para cá e eventuais exaladas de fumaça branca contra o céu noturno.

Per favore, mi dà l'accendino?” (por favor, me empresta o isqueiro?” se torna um fator inusitado para uma série de encontros casuais, despretensiosos, e que de vez em quando leva a uma companhia para um café e umas voltas pela cidade por alguns dias. Assim, conheci Nástya, uma russa pirada porém gente boníssima de St. Peterburgo, que de acordo com ela, estava “fugindo do inverno Russo em busca de café & climas mais amenos”.

Roma também é a capital da boa boêmia. As noites Romanas são entupidas dos tipos mais variados. Não raro em uma fila de alguma casa noturna, verá adiante um grupo de padres descendo uma rua, conversando, e sem olhares de reprovação direcionado a juventude ruidosa.

Mas ora, o Vaticano também não se encontra em posição de ditar bons modos bem como servir de exemplo para o que é ou deixa de ser politicamente correto.

Creio ser justo dizer que o cidadão médio aqui vai vivendo, vai vivendo... E não quer saber de encheção de saco. Respeitado isso, é a velha máxima Thelemita “faze o que tú queres e há de ser lei”. É a lei de fazer, respeitar o limite alheio e ficar na sua, divertindo-se. Na verdade o bom Romano – salvo algumas exceções – quer mais é que tudo se exploda em uma visível exacerbação do “estou cagando e andando para você”, ou “io no me frego un cazzo”. Pior? Acho que bem tem lá uma certa razão.

Uma das coisas que estavam me incomodando demais no Brasil era justamente esta onda do politicamente correto. Tinha que se tomar cuidado com quem se fazia piadas. Tinha que tomar cuidado com as opiniões alheias. Tinha que se tomar cuidado como se comportava em público. Nunca beber demais pois alguém poderia ficar sabendo e “pegava mal”. Fumante, então? Pronto, o cidadão é um meliante, praticamente um drogado com o pé fincado no ilícito. Ah, dá me...

Não sou religioso. Embora minha curiosidade tenha me levado a ir mais a fundo em tais assuntos do que muitos dos convertidos de final de semana – os mesmos, por sinal, que fazem um curso de fim de semana sobre a cabala Hebraica e viram experts no assunto, tenho lá meu conhecimento guardado a sete chaves. O suficiente ao menos, para saber que estamos aqui neste canto da existência para tudo, menos isso que vivemos em nosso dia a dia.

Me pergunto: Seriam resquícios da ditadura? É uma tendência natural do ser humano querer saber da vida alheia bem como dar pitacos sobre como devemos – ou não – viver nossas próprias vidas? Seria falta do que fazer? Sei que, a opinião não requisitada acerca da vida alheia não é uma opinião bem vinda. Mais, raramente deixo de notar traços de uma suposto complexo de superioridade quando escuto uma coisa dessas; escondido lá no canto, em um suposto sorriso de “sou seu amigo e me preocupo com você”. - Tá, claro, se é assim, me ajuda a pagar minhas contas?

Sei não pessoal... Por hora continuo por aqui... Mas é impossível deixar de ficar encafifado com a ideia de que por mais bagunçado que tudo isso aqui seja; o tal SPQR que víamos nos antigos quadrinhos e desenhos do Asterix; “Sono Pazzi Questi Romani” (São loucos, estes Romanos),se prova verdadeiro e com razão.! Afinal, o que são 500 anos da população Brasileira, perto dos 2500 anos da população Romana?

Em tempo: Que a esquerda – ora bolas, a direita também! - brasileira aprenda de uma vez por todas que o sinônimo para o termo “politicamente correto” é a palavra “chato”.


domingo, 31 de outubro de 2010

Uma sociologia das baladas

Não sou um Pierre Bourdieu, mas faço o melhor que posso.

Interrompendo apenas por um momento as notícias romanescas do nosso querido amigo Andreas Der Mann (rs), gostaria de relatar minhas curiosas observações sobre o evento mais celebrado da nossa geração (80 e 90's): a balada.

Antigamente, eu ouvia o termo e me lembrava das canções de antigos menestréis espanhóis ou portugueses, ou de forma menos solene, as canções românticas de artistas do nosso tempo e do tempo das nossas mães, avós... coisas como "F... Comme Femme", ou "Love me, Tender", ou ainda "Michelle".



Salvatore Adamo mostrando sua atraente e elegante voz sem sincronia com o video

Mas fiquei mais velha e descobri que balada significava outra coisa, aparentemente mais excitante, mas bem mais boba de fato.

Na última sexta-feira foi meu aniversário. Chamei dois amigos e minha irmã para irmos a uma festa de rock (segundo o que anunciavam no site da casa noturna chamada Pista 3, do monopólio carioca Grupo Matriz). Gosto de festas de boa música, você paga, não conhece ninguém, ninguém te convidou, mas isso é igual pra todos... pagou, entrou, bebeu, dançou. Democracia das festas, você não tem que disputar a atenção de algum anfitrião ou rezar para que venham à sua festa.

No ano passado, fui à Casa da Matriz, que tem um ótimo ambiente, espaçoso, toca música boa, (de rock indie-eletro-pop a Creedence Clearwater Revival), e saí 4h30. A casa tem lounge com obras de artistas jovens, fliperama,, duas pistas e cardápio de bebidas variado, incluindo uma elegante renomeação, "Espanhola, para a deliciosa bebida com nome nojento, "Pau na Coxa" (vinho e leite condensado). Ao contrário da matriz (Casa da Matriz, criativo, hein? É que a casa fica na Rua da Matriz, perto da Igreja da Matriz, em Botafogo... qualquer coisa perguntem ao Papa Ratzinger... Andreas!), a Pista 3 é um bunker como qualquer casa noturna feita para as baladas da minha geração em diante: um buraco isolado acusticamente com banheiros minúsculos, um bar para que as pessoas possam encher a cara, uma pista com música ruim (Black Eyed Peas et al) pesada, mas tudo bem para quem já bebeu o bastante, e luzes piscando no breu, onde um monte de gente se amontoa e não podemos ver a cara de quase ninguém. Foi lá que (tentei) celebrei meus 29 anos.

Depois de dois chopps e uma taça de espumante, é possível reduzir seu senso crítico a um nível de rio calmo e perene sem chuva, mas não esvaziá-lo. Você dança meio sem graça a uma música que tem uma batida 2/4 repetitiva e luzes que brilham no fundo da sua retina com uma rapidez, e tantas pessoas sem identidade à sua volta quais fantasmas. Um homem passa mal com a cara numa lixeira. Outros dançam, outros só ficam parados no meio da turba à caça de vítimas. Porque eles se dizem "caçadores". Meu pai dizia: homem tem que trair, porque é caçador. Então, o machismo de homens como meu pobre pai foi recompensado com a humilhação de caçar num aquário preto regado a Absolut. Boa sorte.

Um cara fortinho me encarava e eu sem ânimo para aquele drama tragicômico saí à francesa e fui para o segundo piso, onde havia uma mesa de sinuca. Fiquei numa fila do banheiro onde havia 5 ou 6 meninas falando pelos cotovelos de forma ridícula, bêbadas, com suas maquiagens e roupas dark e pseudo-alternativas saíam pela culatra num espaço de menos de 2 m². Quando voltei à pista, o fortinho havia avançado sobre uma amiga e aparentemente se deram bem. Ufa. Mas quando eu me cria salva, aparece outro fortinho que me tasca um : "queria te conhecer". Aff. Para minha surpresa, ele depois me apresentou ao seu "peguete" (como se diz na gíria carioca super modernosa sobre pessoas com quem se mantém um vínculo sexual momentâneo sem compromissos futuros), para me dizer de forma indireta que ele era gay, e que uma amiga dele gostou muito de mim. Puxa, eu disse, é um elogio, mas não gosto de meninas. E assim seguiu-se a noite, eu levando cantada de meninas, ou de homens bêbados, por outro lado. Não, caro(a) leitor(a), eu não peguei ninguém.

O que mais me espanta na minha geração é a imensa capacidade de eles viverem cenas repetidas e nunca se cansarem. O cara bebe, bebe, e passa mal... aí bebe de novo. A menina fica com um, fica com outro, beija, beija, e fica com mais um. Elas repetem seus padrões de vestir, suas bolsas e sapatos, suas maquiagens, algumas vezes "dark", pois elas têm estilo, não se existe, o estilo existe antes. Os meninos com as mesmas posturas de segurança na frente de supermercado ou de salva-vidas de piscina de clube. E as cantadas... meu Deus, que frases hediondas. A gente tem que rir mesmo, não é simpatia...



Não sou contra o hedonismo e o descompromisso, eventualmente. Mas ser livre não é o mesmo que ser vulgar e repetitivo. Minha geração em diante... sofre-se um mal que é o mal do desamor, do desacato, do desrespeito, da desconsideração, do desleixo. É basicamente uma DesGeração. Todo um vazio, uma bocarra de Moby Dick à nossa espera, e os ignaros e tolos nunca pareceram piores. Nossos inimigos começam em nossos espelhos, ao contrário da geração de nossos pais e avós, cujos inimigos eram o Capitalismo, o Conservadorismo, o sistema, o governo, as leis racistas, a segregação, a brutalidade. De fato estes ainda são nossos inimigos, mas minha geração prefere ir à balada (não a dos cantores ultra-românticos de antigamente) para beber e cair, e assim, no breu e no desperdício de energia e calor, olvidar o front. Olvidar-se e lançar-se numa terra de ninguém. Nenhum futuro, nenhum passado, nenhuma piada terna, nenhuma conexão. No man's land.

Fico com a antiga balada.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

“I Gatti di Roma” ou, “Os gatos de Roma”.


Roma é uma cidade curiosa.


Nós como seres humanos, em grande parte pelo sistema de crenças judaico-cristão, tendemos a naturalmente pensar que o mundo é o nosso playground pessoal, e que tudo o que nos rodeia foi criado exclusivamente para nosso bel prazer.

Em uma cidade como Roma, está escancarada em faces de rochas nuas a questão da transitoriedade e relativismo de tudo o que nos rodeia. Ao escavarmos uma rua, temos um verdadeiro mapa da história e psique humana. Lembranças recentes da Roma enquanto moderna metrópole representada em algum maço de cigarros jogado em um canto qualquer, se misturam com evidentes traços estratificados de períodos mais antigos: Traços Barrocos, Renascença. Bairros medievais. Caravaggio trabalhando em Roma em 1592 até 1606. A Comuna Romana em 1084. O sagrado Império Romano, em 799. Domínio Bárbaro e Bizantino em 480. A morte de Marco Aurélio em 180. Julio César invadindo Roma em 49 A.C. com sua Legião. A formação da República em 509 A.C. Domínio Etrusco em 650 A.C. Traços de fortalezas datando de 800 A.C nas margens do rio Tibre. Evidencias de movimentos migratórios Indo-Européias para a região, em 2.000 A.C. Saímos da história arqueológica para adentrar os reinos dos mitos e lendas, tentando localizar no tempo, Rômulo e Remo, os órfãos criados por uma loba que supostamente fundaram Roma em 753 A.C.

Nos acostumamos a pensar as metrópoles por nós criadas, como exclusivamente nossos domínios.

Apesar da história que permeia esta cidade, não são os humanos que dominam e governam-a. Seus habitantes mais dignos são notoriamente dotados de uma realeza particular. São os gatos de Roma.

Em várias instâncias, os gatos Romanos possuem mais direitos legais do que as pessoas. Muito sensato, eles fizeram por merecer em sua história felina particular. Acaso você tenha a sorte de um gato nascer na porta da sua casa, por lei ele tem o direito legal de morar em sua propriedade – Você não tem a obrigatoriedade de cuidar dele. Mas se ele quiser se sentar em frente a TV e assistir a algum programa qualquer, deixe-o. A sua vida e a dele serão mais fáceis.

A origem destes gatos em Roma está diretamente a queda do antigo Império Egípcio. Quando este sucumbiu, seus gatos embarcaram em navios mercantes e se espalharam pelos quatro cantos do Império Romano, e após, mais além, para o mundo. Neste caso particular, foi algo bom para Roma, pois exerceram importante função no controle dos ratos, especialmente nos idos de 1300, quando a peste bubônica assolou acá estas bandas.

Infelizmente, a Igreja Católica Romana fez o favor de considerar os gatos como bruxas, e logo ordenou a caça aos gatos. Como existe uma curiosa simbiose entre Roma e seus gatos, com tal caça logo a população de ratos dominou o Império, e a peste se espalhou por todos os cantos.

Com a modernização da Igreja, os gatos logo retornaram a Roma. Mas se tornaram ineficazes como agentes controladores dos ratos pois, os mesmos tiveram coisa de 7 séculos para crescer e se desenvolver, período este que nós conhecemos como a era das grandes fogueiras – totalmente síncrono com o período da caça as bruxas e Santa Inquisição.

No último censo do departamento de direitos dos animais da comuna de Roma - Ufficio dei diritti degli animali – a estimativa é de que a população felina Romana gira em torno de 300.000 a 500.000 gatos errantes pelas ruas, praças, monumentos, cemitérios, hospitais e institutos religiosos Romanos. Geralmente escolhem estes lugares como habitat pois ali recebem alimentos, abrigo e proteção. É interessante perceber que todos os sítios arqueológicos, contam com uma espécie de comunidade local felina. São tranquilos, na deles. Costumam ficar espalhados, sentados, em cima de antigas colunas de ruínas antiquíssimas.. Escondidos em catacumbas.. Ou vigiando os cemitérios e templos. As vezes, vê-se gatos correndo atrás de ônibus.. Ou pendurados em janelas de prédios de apartamentos com suas unhas.

- O que eles pensam, enquanto olham os restos da Roma antiga? Perceberam eles, o nascer, florescer, auge e declínio do Império Romano?

A região do coliseu conta com algo entre 200 a 500 gatos, mas o verdadeiro santuário de gatos de Roma é o Largo di Torre Argentina“, um dos mais antigos templos de Roma, datando algo entre 400 a 300 A.C.

- Me pergunto se seriam tais gatos descendentes dos que ali testemunharam Julio César ser esfaqueado por seu rival Brutus, em 44 A.C.?

Em comparação ao coliseu, tal templo e suas colunas são minúsculas, por isso impressiona sua população de 300 a 400 gatos. Ali, encontraram refúgio do caos e tráfego da região central Romana. Recebem alimentação, são cuidados e tratados por um grupo internacional de voluntários, que levantam fundos organizando rifas, jantares e mercados de pulgas a céu aberto, bem como recebendo doações privadas de turistas que, não raro; parecem muito mais interessados nos gatos em si do que nas ruínas. Uma coisa legal é que qualquer um pode se voluntariar ao grupo da Torre Argentina alimentando os gatos, ou até melhor; limpando suas pequenas caixas..

Geralmente são velhas senhoras chamadas “Gattare” que cuidam destes felinos de rua. Alimentam-os todos os dias com seu próprio dinheiro. É comum vê-las ao amanhecer ou anoitecer, empurrando seus carrinhos cheios de comida para os gatos Romanos. Até mesmo restaurantes as vezes costumam colocar pratos de comida sobre bonitas toalhas de mesa e uma vela bem como uma garrafa de Chianti em becos de Roma, para os gatos. Não aceitam reservas, claro; mas os gatos se saem bem. Parece brincadeira, mas não é.

Os gatos Romanos, embora poucos sabem disso, são assunto sério.

Como é importantíssimo a vacinação e castração, os serviços veterinários públicos tratam como prioridade os cuidados a população felina Romana, e acompanham de perto a comunidade felina. E, foram além. A Comuna Romana, baseada em uma lei Italiana nacional de 1991, baniu a morte de cães e gatos de rua, e protegem-nos com o título de “patrimônio biocultural”.

É de encher os olhos, perceber e entender o quanto os gatos são tratados e a noção que aqui existe, de que os gatos pertencem a própria cultura Italiana...



segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Notícias Romanescas

Pessoal, olá!!

Lhes peço desculpas pelo blog estar um tanto jogado as moscas por hora.

Mas, por um ótimo motivo – ao menos para mim hehehe

Ocorre que estou por uns tempos em Roma, e daqui sairei por uma tour pela Europa nos próximos meses. Mas o blog não foi abandonado de forma alguma, prepararei algumas postagens sobre minhas andanças por aí...

Roma é uma cidade fantástica, não tem absolutamente NADA a ver com qualquer ideia pré-concebida pela mídia, cartões postais & imagens que costumamos comumente ver. Apenas estando aqui para entender isso.

Em meu primeiro dia por aqui me chamou a atenção a quantidade de musicistas da boa boemia que pegam seus instrumentos – Cellos, Violinos, Violas, Contrabaixos etc – e sentam-se em frente a monumentos históricos seculares e ficam lá, tocando.. É impressionante!

Soube de uma escola de música voltada ao Cello aqui nos arredores, 3 aulas por semana de 1 hora cada, pela bagatela de 120 Euros/mês. Pode ser uma opção interessante acaso eu decida lançar âncoras de vez por aqui, em janeiro, quando encerro minhas andanças pela Europa. Um fato curioso sobre esta escola é que me avisaram o seguinte: Esqueça tentar entrar lá com instrumentos chineses ou industrializados, você sequer conseguiria fazer a inscrição.

Por outro lado tive uma grata surpresa; é possível comprar instrumentos Italianos de Luthier, nível intermediário, por 300,00 Euros.


Bom, veremos o que o futuro me reserva nesse sentido...

Forte abraço a todos!!

Andreas

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Fingerboard tapes: quem não cola não sai da escola



Okays, vou falar de um assunto meio polêmico aqui, hein? Provavelmente vão querer me crucificar, difamar e colocar pra ouvir calypso e sertanejo por duas horas seguidas (por favor, não façam isso, tenham piedade!). Mas vamos lá.

Acho que uma das maiores dificuldades em se aprender a tocar violoncelo está na mão esquerda. Ah, quer dizer então que você manda ver no arco, sabe fazer todos os golpes? Grande coisa. Isso não vai adiantar nada se a sua mão esquerda for burra.

E a minha é.

Talvez pelo fato de não ter começado a tocar violoncelo ainda criança, talvez pelo fato de ter tocado baixo elétrico durante muito tempo... a verdade é que a minha mão esquerda é burra demais. Desde que passei pro violoncelo, então, sempre tive muita dificuldade em acertar a entonação. Vez ou outra, saía alguma nota desafinada. E eu notava e ficava muito puto com aquilo tudo.

Olha a diferença...


Então fui pesquisar na intertet dicas, métodos, enfim, algo que me pudesse ajudar a corrigir esse problema.

Descobri que alguns professores, ao ensinar os primeiros passos de cello à crianças, costumam utilizar um método de colar fitinhas coloridas (tapes) no braço (fingerboard) do instrumento. Assim, a criança memoriza com maior facilidade a correta posição da mão esquerda e, ao depois, quando houver mais segurança, pode-se simplesmente retirar as fitas do braço.


Agora vai...


Não contei conversa e enchi o braço do meu cello de fitinhas. Daí, quando cheguei no dia seguinte pra aula, tive que aguentar piadinhas do meu professor de cello, "blábláblá", "você nunca vai aprender desse jeito", "tu vai se acostumar a ficar olhando pro braço e não é pra ser assim", "mimimi", etc. De fato, vi que tem muitos professores que condenam o método. Mas, em verdade, eu vos digo: tô nem aí. Não preciso ser o maior violoncelista do mundo, só quero tocar minhas músicas e tirar um som minimamente decente do meu instrumento.

Aí então vai um conselho de amigo: sinta-se à vontade para experimentar e buscar o método que mais se encaixa a sua necessidade e ao seu jeito de tocar. Nem todo mundo gosta do método "Suzuki", por exemplo. Busque, portanto, aquele de seu gosto. A sua forma de tocar não precisa ser igual à de todo mundo. Afinal, não é porque é diferente que é errado, certo?

P.S.: tá massa o novo layout, hein? :D

terça-feira, 27 de julho de 2010

"Melagkholía" - Da melancolia para as artes


Melagkholía” - Este é o termo em grego do qual é derivada a palavra medieval melancolia. A “condição de ter a bílis negra” - formada por mélas, negro e kholé, a bílis - foi definida pelos Irmãos Grimm como uma explicação para o temperamento melancólico. Supunha-se que tal temperamento bem como o abatimento e desalento a ele vinculado eram causados por um excesso de bílis negra, pela “propriedade defeituosa do sangue misturado com bílis negra, queimada.”


Nos dias atuais a definição foi refinada, sendo calcada em diversas causas e explicações diferentes, de acordo com a escola, formação bem como entendimento de mundo de quem a interpreta e de quem a vivencia.


Pois bem.


Ao menos ao meu ver, geralmente entendo que o mundo é composto por realidades objetivas e subjetivas. E, me é curioso perceber as enormes diferenças de interação nestas realidades, pelas pessoas que carregam em sua essência tais traços de melancolia e, portanto, mais suscetíveis ao plano subjetivo, e as pessoas que não possuem tais traços de maneira tão exacerbada.


Neste sentido, penso que o termo melancolia pode ser um tanto enganador. O senso comum costuma associá-lo a incapacidade de aceitar e explicar a existência humana e sua inserção no mundo que nos rodeia. Fala-se do desalento diante da imperfeição deste mesmo mundo, bem como o quanto este estado da alma pode se tornar sombrio; passando do completo desestímulo à existência totalmente desesperançada. Por experiência própria, é a constante sensação da incapacidade plena de se escapar da paralisia, da loucura e da vertiginosa queda atrelada a tudo que é obscuro em vários aspectos do mundo no qual está inserido.


No entanto, existe um outro lado nesta descrição.


Se perguntado para mim se gostaria de me livrar deste eterno estado melancólico, eu, bem como vários outros que costumam transitar pelo lado sombrio da alma, possivelmente teríamos duas respostas diferentes – cada qual, destinadas a momentos específicos. Em meus momentos de maior distanciamento em relação a mim mesmo, possivelmente eu não deixaria a melancolia de lado.


Ora. Se tal característica nos permite uma ligação com os estratos mais profundos da subjetividade do que entendemos por realidade e justamente por isso tornando a realidade em si subjetiva; não é necessária uma perspectiva real de alguma espécie de saída. A melancolia; imersa em um profundo estado de tristeza, para algumas pessoas manifesta-se como uma espécie de companhia do prazer, do belo, do desejo pela transcendência e da erudição.


Neste sentido é interessante perceber que o ideal da melancolia sempre esteve presente como força propulsora das grandes criações artísticas. De fato, é justo dizer que tal conceito não só é uma referência universal nas obras de arte significativas, bem como é um traço psíquico essencial ao espírito criativo.


Me faz pensar em uma coisa interessante. Em partes, a essência das reais belas artes encontra-se na junção de uma profunda tristeza do ser humano derivado de sua consciência de finitude inserida em uma percepção de existência infinita, com idéias tão diversas quanto numerosas em uma infinidade de campos de conhecimento humano. Em outras palavras: A real manifestação artística se dá no momento em que o ser humano tenta descrever os estratos subjetivos da realidade.


Assim, percebe-se que a melancolia não significa apenas o estado de tristeza paralisante. Significa também a possibilidade de uma nostalgia criadora.


De qualquer modo, tal conceito não é novo. Sabe-se da menção no século IV A.c. de uma relação entre a melancolia e a inteligência no círculo Aristotélico, o célebre questionamento: “Por que motivo todos os homens extraordinários, quer tenham-se destacado na filosofia, na política, na poesia ou nas artes plásticas, são notoriamente melancólicos?”


Colocando-se o questionamento Aristotélico sob a luz da definição dos Irmãos Grimm é possível supor que uma “bílis negra” bem dosada, é capaz de dar asas ao estado de ânimo melancólico levando-o a realizações intelectuais fora do comum.


O fato é que tal mecânica da psique a serviço das belas artes está mais presente em toda a história da arte do que geralmente é percebido. Na iconografia Cristã, percebe-se a frequente união do motivo do luto a melancolia, expressa em quase todas as manifestações de arte sacra. Tais trabalhos costumam elevar a melancolia a um outro patamar, no qual a própria paisagem das telas entram como espécie de atores figurantes na representação de determinada cena; sendo frequentes as ambientações em ambientes terrosos, numerosas ruínas e monumentos desmoronados. Mesmo na música sacra, facilmente percebe-se uma inspiração existencialmente melancólica.


No barroco, encontramos a melancolia que gira em torno da finitude. A morte é tida como ponto culminante da alma melancólica e muitas vezes é representada através de alegorias sombrias. No entanto, paradoxalmente é justamente através da expressão artística que a morte não precisa ser definitiva. O valor de uma obra pode se opor ao desaparecimento do artista.


Nos dias atuais, observo um fenômeno interessante:


A expressão artística real muitas vezes está baseada na aliança entre a melancolia e a sensação de cerceamento em um mundo cada vez mais dilacerado. Hoje uma série de atores entram na equação sobre a definição da produção artística. Uma vez mais menciono a música-produto de consumo. É com curiosidade que percebo que a banalização da arte que a transforma em algo descartável; justamente através da melancolia, tende a inspirar vários artistas reais a exercerem uma pressão produtiva igual e contrária em nome da erudição clássica, promovendo uma espécie de resistência contra a arte-produto. É justo dizer que em ultima instância é a melancolia inerente ao espírito do ser humano que dita o que será lembrado mesmo muitas décadas depois, e o que será esquecido dentro em pouco tempo.


Todos os exemplos mencionados acima dividem a mesma origem em termos de mecânica artística: - Na elaboração da obra cujo catalisador é a estética melancólica; as principais fontes das quais o artista utiliza estão o seu microcosmo, como símbolo perfeito do mundo e o macrocosmo, o auto-retrato do artista que reflete sua própria melancolia sobre a a obra na qual ele trabalha. Assim, seja através da música, pintura, literatura etc; o objeto-arte corporifica a essência melancólica e a dor introvertida que queima por dentro sem ser percebida e, portanto, não compreendida, por parte daqueles que rodeiam o artista...


Interessante, não?







Relevantes:


Psicanálise da Arte. Ed. Brasiliense

A Crueldade Melancólica. Ed. Record

A Negação da Morte: Uma Abordagem Psicológica da Finitude Humana, Ed. Record

O Deus Selvagem. Companhia das Letras

Breviário da Decomposição. Ed. Rocco