A improvisação em quase todos os instrumentos de origem e utilização notadamente mais clássicos como o caso do Cello, sempre foi bastante descuidado em conservatórios e escolar – para não dizer que muitas vezes, sequer é mencionado.
Mas afinal, qual é o problema?
Creio que muitas vezes, seja o conceito de que os músicos apreciadores deste gênero musical dito “sério” – como se os outros, não o fossem – são os únicos “autorizados” a compor material musical, e os intérpretes, devem ser meros reprodutores do mesmo.
Mas, se a gente observar um pouco a história da música, veremos que nem sempre a coisa toda foi assim: Por exemplo, Bach e Mozart também eram conhecidos como grandes improvisadores. Este fato, não ficou conhecido porquê simplesmente improvisavam; mas sim, porquê faziam-no muitíssimo bem!
A coisa ganha um contorno mais compreensível quando consideramos a musica como uma variação da linguagem.
A música, como a linguagem, basicamente são códigos baseados em sons, que são ordenados, e de acordo com a ordem dada a eles, ganham seu significado.
Quando uma criança aprende a falar, ela começa a repetir os sons dentro de um determinado contexto. E, dentro deste contexto, ela começa a associar os significados de cada som, com cada objeto, idéia ou experiência dentro do mundo que ela está explorando. Logo, com um repertório de 3 ou 5 palavras apenas, a criança já está começando a se comunicar dentro de outros contextos.
– O que está acontecendo? A criança, no final das contas, está apenas aprendendo a improvisar. E, logo, a medida que seu cérebro e sua mente se desenvolve, aprende mais e mais palavras, compreende a forma de sua gramática bem como seu uso correto, e começa-se a chegar perto do objetivo final; a comunicação.
Então, porquê dentro da pedagogia musical de conservatório, não se produz os “comunicadores”, e somente os “repetidores” de palavras sem significado? É como se a criança passasse por uma escola e aprendesse a falar com muitíssima habilidade e eficiência, e no entanto, só pudesse – ou fosse autorizado - fazer uso de tais faculdades através da leitura de discursos escritos.
Já vi casos de Cellistas experientes, capazes de tocar passagens totalmente possuídas demoniacamente falando; seres virtuosíssimos em sua técnica; se sentindo completamente vazios e indefesos ao tentar uma improvisação simples de algumas frases musicais. E, me soa bastante triste a incapacidade dos mesmos de enxergar isto como uma oportunidade de retornar à sua infância musical, isto é; a oportunidade de aprender “um novo idioma” além daquele no qual ele já é exímio executor – E, que por fim, irá lhe dar uma capacidade ainda maior de execução e sua própria expressão.
O que tem que se ficar claro, é que não existe uma técnica específica de se improvisar. Existe uma corrente de pensamentos que afirma que apenas no Jazz existe a improvisação; o que é um erro. O que ocorre é que dentro do Jazz, foi elevada a improvisação aos seus limites extremos.
Nos exemplos assim, é usado um estilo neutro, que pode ser associado a qualquer música devido à sua simplicidade.
Começa-se utilizando os Arpeggios, a melhor maneira de entrar em contato com a harmonia da seqüência a ser usada – Se bem que, não é necessária a utilização de uma base harmônica para improvisar.
Os Arpeggios serão tocados da seguinte forma, para o repasse e re-familiarização da técnica, visando assim o contato com a harmonia do instrumento:
Esta harmonia é bastante simples; uma seqüência diatônica dentro da tonalidade de C Maior. É bacana para quem tiver como, gravar ou sequenciar este compasso em qualquer estilo – apenas para se ter uma base mais divertida que um metrônomo, para se trabalhar.
A princípio, realiza-se o exercício lentamente, inclusive se desejar, em Pizzicato. Chegando-se ao final da seqüência, repete-se.
O passo seguinte, é tocar os Arpeggios não apenas em modo ascendente; mas também no descendente. Ou seja, ida e volta – C, E, G, C, G, E, C.
Próximo passo: Complicar mais um pouco as coisas:
Talvez já tenham percebido, mas a idéia de se realizar tais Arpeggios, é iniciá-los da sua forma inicia, e logo de sua terceira. Em C, começamos em C, após; E.
Em Am.; começamos em Am, C naturaral e, assim sucessivamente.
Esta, é uma das inúmeras dicas que podem ser seguidas para se começar a brincar com a improvisação; compreendido o que escrevi acima, experimentem partir das terceiras e irem diretamente para as quintas – Uma ajuda: Neste caso, em C, o primeiro compasso seria E, G, C, E – G, C, E, G.
Na verdade a sistemática toda é bastante fácil embora, exija-se um pouco de paciência, pois vão perceber que no final, trabalhar com música em forma livre, a improvisação se torna uma coisa um tanto quanto pentelha.
Caso queiram verificar se estão realmente entendendo qual é que é deste exercício, toque a linha a seguir fazendo exatamente o que foi feito no primeiro exercício. Isto é, na primeira nota teríamos (Ascendente): G, E, G, C, E.
Com isto, já se dar para ter uma idéia de onde queremos chegar... Se o que está escrito aí em cima for trabalhado de forma correta, terão gratas surpresas...
Agradecimentos pelos toques à Jennifer Spasamelli - Yale University
Um comentário:
Muito bom, Andreas! Sinto da mesma forma. Lembro-me que quando estudava baixo elétrico, nenhum professor me ensinou a tocar uma pausa. "Tocar uma pausa?" Fiquei com isso na cabeça durante muito tempo e anos depois, tocando em bandas por aí, percebi que causava um efeito super bacana "sumir" da música em determinadas passagens ou simplesmente abafar as cordas com a mão esquerda, causando uma sonoridade meio percussiva...
Esse tipo de coisa, de botar a pessoa pra tentar coisas novas, deve ser ensinado principalmente nas crianças. Já vi pequenos virtuosos, mas que não conseguiam "se soltar"...
Postar um comentário